A briga campal entre torcedores de Atlas e Querétaro, ocorrida no último dia 5 no estádio La Corregidora já deixa, além dos oficialmente registrados 26 feridos, seu ‘legado’ para o futebol mexicano. Após a assembleia de donos ocorrida na terça-feira (8) seguinte à tragédia, saiu o pacotão de medidas contra a violência e punições contra os violentos da Liga MX e das autoridades mexicanas. O Querétaro, ao contrário do que era ventilado, não foi desfiliado.
Ficou decidido que a torcida organizada Resistência Albiazul, do Querétaro, está suspensa por 3 anos do Estádio La Corregidora e por 1 ano em outros estádios. Já a Barra 51, do Atlas, está proibida de frequentar jogos como visitante por seis meses – medida que se estende a todas as barras visitantes. Além disso, todos os clubes da Liga MX deverão identificar suas barras e não poderão apoiá-las financeiramente de nenhuma forma, podendo perder o direito de mandar jogos em seus estádios caso o façam.
Para a temporada 2022-2023 deverá haver uma espécie de “RG dos barristas” e sistema de reconhecimento facial no acesso aos estádios, além da proibição total de bandeiras e faixas em todos os estádios. “Os grupos de animação que queiram vir aos estádios animar seus times, que se identifiquem. Quem não quiser dar sua identidade será descartado [dos cadastros e não poderá entrar nos jogos]”, afirmou para a imprensa mexicana o presidente da Liga MX, Mikel Arriola.
São punições que nos fazem recordar o ocorrido no Brasil em 1995, dadas as devidas proporções, quando torcedores de Palmeiras e São Paulo protagonizaram uma batalha campal no Pacaembu após uma final das categorias de base, que deixou 101 feridos e um torcedor são-paulino morto, e, como consequência, semelhantes proibições e medidas foram adotadas por aqui. Como veremos a seguir, o modelo de resposta das autoridades está longe de resolver o problema.
Repercussão no México
Ainda na busca de punir responsáveis, as autoridades mexicanas detiveram, até a última segunda (14) 25 pessoas acusadas de envolvimento na batalha. Segundo a imprensa mexicana, foram emitidas 26 ordens de busca e apreensão de torcedores acusados de participação na briga, restando o cumprimento de apenas uma.
Além disso, o presidente da Federação Mexicana de Futebol (FMF), Yon de Luisa, e da Liga MX, Mikel Arriola, foram convidados pela Câmara de Deputados a prestar esclarecimentos a respeito do incidente e das medidas que suas instituições têm adotado: o tom é de convite para trabalho em conjunto, não de interrogatório. Também foram convocados os presidentes dos 18 clubes da primeira divisão, mas suas presenças ainda não haviam sido confirmadas. Os parlamentares buscam formar uma mesa de trabalho para lidar com a questão.
No último sábado (12) no Clásico Nacional, entre o Chivas, de Guadalajara, e o América, da Cidade do México, as equipes com mais torcedores no país, o Estádio Akron, casa do Chivas, contou com um efetivo de 600 homens para garantir a segurança do clássico, e teve seu público limitado a 85% da capacidade. Torcida única, é claro, sem visitantes.
O jogo terminou empatado em zero a zero e, aos 18 minutos do segundo tempo, momento em que havia começado a briga uma semana antes, os jogadores dos dois clubes mais populares do país se abraçaram no centro do gramado enquanto torcedores da casa acenderam seus celulares, isqueiros e outros objetos luminosos pedindo a paz no futebol.
A ação foi parte das campanhas “Unidos somos mais fortes” e “Grita pela Paz”, promovidas pela Liga MX e pelos clubes – e que passará a contar com mais ações como essa em outros jogos importantes.
Mas apesar da imprensa esportiva mexicana festejar a ação “exitosa”, nem tudo são flores. A Barra Insurgéncia, do Chivas, publicou em suas redes sociais um comunicado assegurando que não recebe qualquer financiamento do clube e que, por isso, continuará ingressando nos jogos do seu time, ao contrário do que mandam as restrições. Como que questionando o próprio conceito de ‘união’ da campanha oficial, uma vez que está excluída da campanha, e lembrando sua trajetória, finaliza o comunicado com as seguintes palavras: “Nos vemos na arquibancada popular, da qual nunca poderão nos tirar”.
Além deles, após o anúncio das punições em 8 de março, cerca de 3 mil torcedores do Atlas tomaram as ruas de Guadalajara e marcharam pacificamente em direção ao Estádio Jalisco, pedindo justiça e denunciando as autoridades responsáveis pela segurança da partida de 5 de março, seguranças privados e polícia, como corresponsáveis pela tragédia. Na ocasião, torcedores do Atlas acusam as forças de segurança do estádio La Corregidora, em Querétaro, de colaboração com a barra Resisténcia Albiazul, do clube da casa. Nos protestos não foi diferente, e cartazes com os dizeres “FMF assassina” eram lugar comum.
Outra grave denúncia do protesto dos torcedores do Atlas diz respeito a torcedores desaparecidos. “Exigimos a verdade”, “estão faltando rubro-negros” e “Gallo [apelido do Querétaro] assassino” traduzem a desconfiança com os dados oficiais – que dizem não haver mortos – e a falta que sentem dos colegas de arquibancada, que segundo denunciam, não voltaram para casa desde aquele dia. Uma desconfiança nas autoridades por parte de torcedores que traz ainda mais correlações com o episódio brasileiro, de 1995.
Pacaembu 95: modelo inglês no Brasil
Como o torcedor brasileiro já sabe, Palmeiras e São Paulo se enfrentaram na final da Supercopa São Paulo de Juniores em 20 de agosto de 1995, no Pacaembu e, após a vitória da equipe alviverde por dois a um, com um Gol de Ouro na prorrogação, uma batalha campal ocorreu entre as torcidas e deixou 101 feridos e um torcedor são-paulino morto, Márcio Gasparin da Silva, de 16 anos. Semanas antes, na final do Campeonato Paulista de 1995, em Ribeirão Preto, entre Palmeiras e Corinthians, já havia tido uma briga de grandes proporções, inclusive televisionada.
A primeira medida adotada a partir de pressão do então promotor público Fernando Capez, foi a extinção das torcidas organizadas envolvidas. O próprio Capez reconheceu o fracasso, uma vez que as torcidas passaram a se reunir com outros nomes. Além disso, a pedido da Polícia Militar, que encontrava dificuldade em identificar os grupos organizados, uma vez que não usavam seu material e se encontravam em grupos menores, a proibição caiu. Mas o pedido da PM vinha com um obrigatório cadastramento de todos os membros das torcidas.
Em entrevista exclusiva para o Brasil de Fato, Bernardo Buarque de Hollanda, professor e pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, do departamento de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) e um dos principais pesquisadores brasileiros do tema, apontou que do ponto de vista geral, incluindo o caso mexicano, existem basicamente dois tipos de atuação das autoridades: “uma mais punitiva, como vimos na Inglaterra após o desastre de Hillsborough em 1989, que assim como no Brasil também acompanhou mudanças de infraestrutura nos estádios; e outro modelo, adotado na Alemanha, onde buscou-se preservar as associações de torcedores, desenvolvendo em paralelo um programa de resolução de conflitos entre os grupos”, explicou.
“Quando vemos, por exemplo a ‘muralha amarela’ do Borussia Dortmund, sabemos que por trás dela existe uma concepção de que é necessária a continuidade da presença da torcida com seu aspecto efervescente e multicolorido nos estádios, inclusive para se contrapor a uma torcida que se dedica meramente ao confronto. Já o modelo Inglês, que foi o mais adotado, e que é mais fácil de ser adotado, é justamente o de criar mais restrições, punições, fazer doer na carne do clube a penalização, corresponsabilizá-lo, e assim por diante. Pelo que tenho acompanhado do México, adotou-se essa segunda estratégia, como no Brasil. Então você bane as torcidas dos estádios, que ficam fechados por tanto tempo para mandante, impede torcidas visitantes por mais tanto tempo, enfim, são medidas normativas gerais, que você aborda valendo para todos, e, como diria o mestre Maurício Murad, ‘quem pune a todos, não pune ninguém’”, afirma o pesquisador.
No início dos anos 1990 houve uma grande ampliação das torcidas organizadas, que passaram de dois ou três mil associados, para 20, 30 ou até 50 mil associados, o que, segundo Luizinho Floripa – torcedor palmeirense hoje morador da capital catarinense, mas paulistano e presente no fatídico episódio de 1995 – gerou um choque na sociedade, principalmente nas autoridades, que quiseram então colocar limites ao poder das torcidas. “Naquela época as torcidas estavam tomando proporções muito grandes, todas, não só a Mancha Verde, mas a Gaviões e a Independente também. A Mancha, em especial, tinha até projeto de convênio médico para associados”, exemplifica.
De toda forma, o precedente para as punições coletivas estava aberto. Em matéria para o Estadão na ocasião dos 15 anos da Batalha do Pacaembu, Capez comemoraria como uma vitória a criação de um Tribunal para julgar casos relativos ao futebol e mais tarde a do Estatuto do Torcedor, em 2003, como formas de reduzir a violência nos estádios. Na mesma matéria, ele não esconde seu interesse em acabar definitivamente com as torcidas organizadas, objetivo que, segundo o ex-promotor e ex-deputado, está mais fácil de ser atingido com o advento das novas arenas, e o coloca, logicamente, como representante do modelo inglês. “É necessário que se comece a colocar o torcedor nos lugares exatos que estão marcados nos ingressos, para evitar aglomeração das organizadas em um mesmo setor e desarticulá-las”, declarou em 2015.
O rápido crescimento das agremiações nos anos 90 se refletia nos estádios e nas ruas. E os problemas também começaram a aumentar, escalando para o uso de bombas caseiras e artefatos explosivos em geral.
Em 23 de janeiro de 1992 ocorreu dessa maneira o primeiro caso de um torcedor assassinado por uma torcida adversária dentro de um estádio no Brasil. Na ocasião, Corinthians e São Paulo se enfrentavam no Estádio do Nacional (Nicolau Alayon, na Barra Funda, em São Paulo), pela Copa São Paulo de Futebol Júnior quando uma bomba caseira foi lançada, provavelmente da torcida são-paulina, e caiu sobre o corintiano Rodrigo de Gasperi, de apenas 13 anos. O garoto morreu seis dias depois. Como resposta, a FPF (Federação Paulista de Futebol) anunciou a primeira proibição de bandeiras com mastros, instrumentos musicais e fogos de artifício nos estádios.
“Depois que lançaram essa primeira bomba na torcida do Corinthians, as brigas começaram a se tornar cada vez mais violentas. O que antes eram brigas ‘na mão’, coisas de moleques bagunceiros, com esse aumento passou a ter um certo status na cidade, principalmente na periferia. Então você dizer: ‘sou da Gaviões, sou da Mancha, sou da Independente’ começou a gerar consequências maiores, o que de certa forma assustou as autoridades e culminou em 1995 na armadilha que as torcidas caíram”, argumentou o torcedor palmeirense.
Perguntado porque a briga do Pacaembu foi chamada de “armadilha” por ele, Luizinho argumentou que um estádio em obras, sem policiamento, e com dois times que viviam um momento de muita rivalidade já seriam motivos suficientes para que o Pacaembu fosse considerado uma armadilha e as autoridades tivessem algum plano para evitar uma tragédia. Além disso, ele também defende a tese de que a torcida do São Paulo vivia um momento de crescimento e afirmação de identidade, após as conquistas internacionais da Era Telê, o que teria acirrado os ânimos “do lado de lá”.
“Como as autoridades não podiam ligar uma coisa com a outra e prever que podia dar errado? Por que não tinha policiamento em um clássico, no domingo ao meio dia, televisionado? É difícil acreditar que não foi intencional”, questiona o torcedor.
Relato do torcedor palmeirense:
“Na noite anterior, em 19 de agosto de 1995, houve a última luta do Mike Tyson antes de ele sair da cadeia. Fui dormir tarde depois de assistir a luta e não iria ao jogo, que seria de manhã. Eu tinha 19 anos e bem, acordei às 9 da manhã com um amigo na porta de casa me chamando para ir ao jogo de carro com ele.
Eu vestia um uniforme azul do Palmeiras, de moletom porque estava frio, e ao longo da subida da Rebouças vimos muitos são-paulinos com paus na mão, era um clima já muito hostil na subida para o Pacaembu. Paramos o carro próximo à FAAP e fomos para a Praça Charles Miller, onde fica a entrada principal do estádio, por onde entrava a torcida do Palmeiras.
Uma galera da Mancha, do AOA [grupo de linha de frente], estava na noite anterior em uma festa de formatura e muitos não foram para esse jogo, tanto é que na briga do Pacaembu podemos ver algumas figuras conhecidas, mas muito da molecada linha de frente da Mancha daquela época não estava presente. Ao contrário, a torcida do São Paulo estava com toda a sua linha de frente lá.
Quando chegamos à Charles Miller, já estava tendo, dos dois lados do morro e da escadaria, apedrejamentos: os são paulinos jogavam pedras lá de cima e a torcida do Palmeiras embaixo se protegia. A Mancha ainda não tinha chego no estádio, chegaria com atraso naquele dia, com o jogo já rolando. Nesse começo de briga antes do jogo, já não tinha qualquer polícia no local. Entramos no Pacaembu debaixo de pedras.
Me lembro do jogo, da hora que a Mancha entrou no estádio, de tudo. A final foi pra prorrogação em morte súbita e saiu gol do Palmeiras. Fim de jogo e a galera entrou no campo pra comemorar.
Eu, que era moleque, vi a galera entrando e pensei ‘vou entrar também, vou tirar uma onda’. Não tinha passado da grande área, em direção ao meio de campo e vi a torcida do Palmeiras voltando correndo, aí comecei a ver os são-paulinos pulando para o Tobogã onde estava todo o material da obra, pegando pedaços de pau e pedras, e pensei: ‘o bicho vai pegar’.
Nessa hora vi um movimento contrário do nosso lado, dos caras mais velhos da Mancha, entrando para o meio do campo para tentar segurar a galera. Corri para a pista de cooper e fiquei observando de longe. Imagina o barulho de uma bateria de rojão explodindo do seu lado, tipo Ano Novo, era o barulho das pedras voando e batendo na cabeça dos caras. E fumaça, correria, guerra. Aí pensei: ‘não dá pra mim, não vou pôr a minha cabeça ali’, e pulei pra numerada.
Na pista de cooper, onde eu estava antes, foi bem onde foi morto o torcedor do São Paulo, minutos depois de eu pular pra numerada. Mas eu não vi isso acontecer, na hora me preocupava em como sair dali. Me lembro que para sair estava muito tenso, porque ainda tinha jogo de outro rival [Corinthians] mais tarde. Tinha essa tensão de uma possível segunda briga, com uma terceira torcida envolvida.
Foi o álibi que o sistema encontrou para criminalizar as torcidas.
Lideranças “pulverizadas” e aumento da violência
“No Brasil, se o cachorro está com pulga, ao invés de tratar a pulga, matam o cachorro para resolver o problema”, ironiza Luizinho em relação às medidas de punição e prevenção promovidas à época e que parecem influenciar as autoridades mexicanas de hoje.
“Com as proibições das torcidas organizadas, das bandeiras, fogos, bexigas etc., eles conseguiram acabar com a festa do futebol mas não acabaram com a violência. Acabaram com o espetáculo, que era o que fazia uma criança como eu, e muitas outras, amarem o esporte ainda nos anos 80, antes mesmo de entender as regras do jogo”, desabafa o torcedor.
Luizinho tem uma percepção muito comum a outros torcedores do Palmeiras que ouvimos, integrantes da Mancha ou não, de que foi criado um ambiente para que essa violência fugisse do controle das próprias torcidas organizadas. Quando as proibiram, teria sido também descartado o diálogo com suas lideranças mais tradicionais. E isso, aliado ao crescimento do número de associados, teria fortalecido as subsedes de bairros da capital e cidades do interior, que passaram a frequentar os jogos sem passar pela sede central das torcidas, o que, na prática, teria descentralizado o comando e espalhado as brigas pela cidade, não mais restritas ao ambiente do estádio.
“Lembremos que nesse processo de judicialização das torcidas, em 2003 foi criado o Estatuto do Torcedor e todo esse olhar jurídico começa a ganhar atenção, no caso de São Paulo, com o Ministério Público sendo protagonista através da figura do Fernando Capez, ao lado da polícia que estava dentro dos estádios. Um dos efeitos reversos disso foi justamente a migração e dispersão dos focos de torcedores dentro e fora dos estádios. Mas lembremos também, que além da proibição, o crescimento exponencial do quadro de associados também fortaleceu esse processo de descentralização”, pondera Bernardo Buarque de Hollanda. Segundo o pesquisador, um dos principais fatores de resiliência das torcidas organizadas de São Paulo, responsável por sua sobrevivência após esse período, foi o advento das Escolas de Samba.
Além disso, também é digno de nota, ainda que não aprofundemos a questão, que outro efeito reverso dessa descentralização, hoje, é a geração de novas modalidades de violência, entre elas as brigas entre membros de uma mesma torcida por disputa ou afirmação de poder, como lembram tanto o torcedor palmeirense Luizinho, como o cientista social e pesquisador Bernardo Buarque de Hollanda.
“Pulverizaram as lideranças, deram um poder de decisão pra cada bonde de cada quebrada, e isso gerou muita discórdia e mais violência. E a maneira que pensaram para acabarem com isso chegou ao ponto que hoje em dia não temos mais festa, bandeira, clássico de visitante, fogos, nada. Mas apesar da elitização e ‘higienização’ que fizeram nas arquibancadas, a violência só aumentou”, refletiu o torcedor do palmeiras.
Há solução para Brasil e México?
Com as informações que reunimos até aqui, podemos observar que os casos de Brasil (Pacaembu 1995) e México (La Corregidora 2022) guardam relações em três aspectos. O primeiro é sobre o histórico de escalada de conflitos anterior ao evento central. O segundo aspecto diz respeito à dimensão midiática que os eventos centrais tiveram cada um à sua época. O terceiro está vinculado às medidas de mitigação da violência apontadas pelas autoridades, que guardam relação com o modelo inglês desenvolvido após o Desastre de Hillsborough e, logicamente, não dão um papel central aos interesses dos torcedores, organizados ou não, os quais em maioria não participam de episódios de violência.
No caso brasileiro, as aplicações de punições à inglesa contribuíram ainda com um recrudescimento da mentalidade violenta das torcidas decorrente da descentralização do seu comando, fazendo com que casos de agressões e espancamentos se multiplicassem em localidades que não o próprio estádio, ou melhor, para qualquer lugar, uma vez que são fomentadas por intolerâncias que, segundo Hollanda, vão muito mais além da rivalidade futebolística, estão enraizadas na sociedade. Pesando tantas correlações e semelhanças, ao que tudo indica, o México seguirá o mesmo caminho do Brasil.
Para o pesquisador Bernardo Buarque de Hollanda não existe uma fórmula pronta para resolver um problema complexo como esse. Entretanto, começar a pensar soluções a partir de pontos de vista distintos do convencional, como fizeram os alemães, pode apontar um caminho.
“A situação vai ficando cada vez mais complexa e não existe uma solução que vá resolver a todos os problemas. Temos que levar essa complexidade a sério se quisermos encontrar uma maneira de lidar com essa questão, o que envolve articular as dimensões estrutural e conjuntural, repressiva e preventiva. Nesse sentido, delegar à Polícia Militar ou ao Ministério Público a resolução desse problema é uma solução cômoda, e basta ver como a polícia se comportou no último jogo entre Corinthians e São Paulo quando teve confronto na Estação Primavera-Interlagos. Chegou com bombas de gás lacrimogêneo e agressões, simplesmente dispersando a tudo e a todos que encontrava pela frente. Não há um pensamento, uma ação coordenada, inteligente e preventiva por trás, que antecipe, previna, ou que crie diálogo. Nada. Além disso, é preciso combinar esse novo modus operandi com reeducação, o que ainda é tratado como um horizonte utópico devido às rivalidades futebolísticas. O ponto é que nada vai se resolver chamando a polícia, por isso que gosto de trazer à luz o exemplo alemão, onde se valorizou outras áreas para tratar a questão, como o serviço social e todo um conjunto de atores que não se restringe somente a polícia e torcida”, avaliou.
Edição: Rodrigo Durão Coelho