Há uma semana, garimpeiros que exploram ouro em áreas de preservação ambiental do Alto Tapajós promovem bloqueios em rodovias em Itaituba (PA), um dos principais polos da mineração ilegal no país.
Com faixas e cartazes, o grupo fez protestos pedindo o fim de operações da Polícia Federal (PF), a exemplo da denominada Caribe Amazônico, que destruiu máquinas e acampamentos da atividade ilegal, provocando prejuízo de R$ 12 milhões aos empresários do garimpo na região.
Em 11 de março, um protesto fechou a BR-163, que liga o Mato Grosso ao Pará. Dois dias depois, a Justiça Federal determinou a liberação imediata da rodovia, ordem acatada pelos garimpeiros.
:: Políticos e empresários estimulam atos contra operação da PF que proíbe garimpo ilegal no Pará ::
Na última terça-feira (15), porém, o mesmo grupo bloqueou a BR-230, a rodovia Transamazônica, que vai da Paraíba até o sul do Amazonas. Desde então, a interrupção no fluxo já provocou 30 quilômetros de engarrafamento.
As rodovias são estratégicas para o escoamento de commodities agrícolas produzidas no Pará. Em grupos de WhatsApp, circulam mensagens solicitando apoio financeiro e doação de alimentos aos manifestantes, com críticas à atuação do Ibama e da Polícia Federal.
Repressão não pôs fim ao garimpo
Após a operação Caribe Amazônica, deflagrada em 15 de fevereiro, garimpeiros promoveram um cerco à unidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) em Itaituba, mas não houve registro de violência.
No mesmo dia, uma carreata contrária à operação percorreu a principal via da cidade. Motos, carros e caminhonetes buzinavam, enquanto um carro de som tocava o hino nacional.
:: Políticos e empresários estimulam atos contra operação da PF que proíbe garimpo ilegal no Pará ::
Por redes sociais, mensagens de voz estimulavam protestos: “Empresários de Itaituba. Tem que reunir os garimpeiros, os madeireiros e os comerciantes. Todo mundo aqui depende do garimpo”.
Duas semanas depois, o Brasil de Fato mostrou que os mineradores de Itaituba (PA) já começavam a articular novas frentes de exploração de ouro na região do Tapajós. Puxado pelo conflito na Ucrânia, o preço do minério subiu, estimulando a retomada da atividade.
“Aqui, o garimpo não parou. De fato, ele continua. Eu tenho conhecidos que entraram para o garimpo agora para trabalhar", afirmou uma pessoa ligada ao garimpo ouvida pelo Brasil de Fato.
:: Guerra na Ucrânia faz preço do ouro subir e estimula retomada de garimpo ilegal no Pará ::
Garimpo ilegal tem livre acesso ao Planalto
Junto com os municípios vizinhos de Jacareacanga e Novo Progresso, Itaituba se transformou, nos últimos anos, em um “shopping” do garimpo a céu aberto. No comércio da cidade, são oferecidos serviços e mercadorias vitais ao funcionamento do mercado ilegal.
O prefeito do município, Valmir Clímaco (MDB), viajou até Brasília e acionou correligionários. Ele se reuniu com o deputado federal José Priante (MDB-PA) e o ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI).
:: PF intervém em garimpo ilegal e garimpeiros fecham município no Pará em protesto ::
O objetivo de Clímaco era buscar o apoio de Jair Bolsonaro (PL) para “suspender as operações, principalmente na região de Jacareacanga, Novo Progresso e Itaituba”, segundo declarou em um vídeo publicado nas redes sociais.
No mesmo vídeo, Priante tranquilizou os garimpeiros: “Tivemos a palavra empenhada do ministro Ciro Nogueira. Ele falou que ia comunicar imediatamente o presidente da República e providenciar ações no sentido de paralisar esse tipo de ação dolorosa para todos que vivem nessa região”.
Edição: Rodrigo Durão Coelho