Entrevista

Celso Amorim: "Não posso condenar a invasão dos EUA e aceitar outra"

Ex-chanceler considera que ação da Rússia abre precedente perigoso: "Amanhã podem ser os EUA na Venezuela"

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Amorim diz que Putin foi levado pela emoção
Amorim diz que Putin foi levado pela emoção - Foto: Agência Brasil

O embaixador Celso Amorim, que integrou os governos do PT como ministro das Relações Exteriores (2003-2011) e ministro da Defesa (2011-2015), afirmou em live transmitida nesta quinta-feira (9) por canais da midia independente que a invasão da Ucrânia pela Rússia é “inaceitável” e um “erro” de Vladimir Putin. 

Amorim disse que a esquerda não pode usar as guerras promovidas pelos EUA como justificativa para apoiar a invasão e defendeu a ONU: "Sou contra o uso unilateral pela força. Não posso condenar a invasão dos EUA pelo Iraque e aceitar outra invasão", disse, complementando que "essa é a ideia básica da ONU, de que a guerra não pode ser a maneira de buscar mudança nas relações internacionais".

Amorim afirmou ainda que não se pode citar como precedente ações militares dos EUA, como tem feito parte da esquerda. "Não dá para justificar dizendo que os EUA fizeram 20 vezes. Mas fizeram 20 vezes errado".

O embaixador registrou que as preocupações da Rússia com relação à expansão da Otan e a segurança de comunidades pró-Moscou na Ucrânia são legítimas, e traçou um amplo panorama histórico sobre a Rússia e suas fronteiras, mas não podem ser usadas como argumento para apoiar a guerra.

Ele afirmou que Putin agiu de forma claramente emocional: "Sempre admirei o Putin como grande jogador de xadrez. Mas uma coisa que não se pode permitir é se deixar levar pela emoção. No caso da Ucrânia, a emoção pesou um pouco".

Amorim advertiu que o apoio à invasão russa abre um um precedente perigoso. "Hoje é a Rússia na Ucrânia, amanhã podem ser os EUA na Venezuela. Você tem que lidar com princípios do direito internacional com muito cuidado", afirmou.

Assista à live: