perseguição política

Liberdade para Assange é reivindicada em protestos em seis capitais brasileiras e no exterior

Manifestantes pressionaram autoridades diplomáticas dos EUA e Reino Unido contra prisão do fundador do Wikileaks

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Embaixada estadunidense no Brasil é palco de protesto contra perseguição sofrida por Assange - Lula Marques

Centenas de ativistas e militantes protestaram nesta sexta-feira (25) em seis capitais brasileiras pela liberdade do fundador do Wikileaks, Julian Assange. Os protestos integram o Dia Internacional de Mobilizações para Liberdade de Assange, que contou com atos em outros seis países. 

No Brasil, manifestantes levaram cartazes e faixas em frente às representações diplomáticas dos Estados Unidos e Reino Unido, apontados como responsáveis por liderar a perseguição judicial sofrida por Assange há 12 anos. 

Os protestos ocorreram em Belo Horizonte, Brasília, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Integrantes de movimentos populares protocolaram cartas direcionadas a embaixadas e consulados pedindo a soltura do ativista. 

Organizada no exterior pela Internacional Progressista, a mobilização ocorreu na Colômbia, Argentina, África do Sul, Estados Unidos, Nepal, Índia e México. Em Nova York, jornalistas, políticos e juristas realizam um tribunal popular condenando a prisão do jornalista. 

:: “Liberdade para Assange, Já!” é a nova série radiofônica do MST ::

"Uma vergonha para os Estados Unidos"

No Brasil, os atos foram articulados pela Associação Internacional dos Povos (AIP). Segundo o secretário operativo da entidade, Giovani del Prete, o objetivo é aumentar a visibilidade das denúncias de violação de direitos humanos sofridas por Assange, tanto na imprensa, como nas redes sociais. 

“Nosso trabalho agora é seguir construindo e acumulando experiência para que consigamos de fato mudar a correlação de forças. Vamos pressionar cada vez mais as autoridades em cada um dos nossos países para que elas, por sua vez, pressionem as autoridades inglesas pela liberdade de Assange”, declarou del Prete.

Fundador do Wikileaks, Assange foi preso em Londres após ter divulgado documentos confidenciais que revelaram crimes e violações aos direitos humanos cometidos pelos Estados Unidos ao redor do mundo, incluindo o Brasil. 

“É uma vergonha para os Estados Unidos. Mesmo falando tanto em liberdade de expressão e de imprensa, estão perseguindo um jornalista que fez seu trabalho”, opinou o integrante da AIP, que participou do protesto na capital paulista.  

Assange segue preso em uma penitenciária de segurança máxima na capital britânica e luta para não ser extraditado para os Estados Unidos. A extradição foi autorizada pela Justiça britânica em dezembro, mas um recurso à Suprema Corte poderá reverter a decisão. Caso seja conduzido ao país norte-americano, deverá cumprir prisão perpétua.

:: Assange poderá recorrer de extradição aos EUA no Supremo, decide justiça britânica ::

Protestos no Brasil 

Em Brasília, manifestantes criticaram a ausência de base jurídica para a prisão do ativista. “Assange não cometeu crime nenhum. Ele prestou um serviço para a humanidade, liberando todas aquelas denúncias das ações criminosas dos organismos de inteligência dos países imperialistas”, opinou o manifestante Afonso Magalhães, da Central de Movimentos Populares (CMP). 

Nilson Alexandre, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), reforçou: “Se você perguntar para qualquer pessoa qual foi o crime que o Assange cometeu, nem eles vão saber falar. Nem os juízes que o condenaram vão saber qual é o crime. É porque não teve crime”.

No Rio de Janeiro, uma faixa escrita "Liberdade para Assange” ocupou a avenida Presidente Wilson em frente ao consulado dos Estados Unidos. Os manifestantes estenderam fitas amarelas na calçada, em referência a tradição estadunidense que simboliza o retorno dos soldados para casa. 

Carmen Diniz, coordenadora do capítulo Brasil do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos, marcou presença na manifestação carioca: “Ele não é norte-americano, não tem que ser extraditado. Ele é australiano e está preso na Inglaterra. A Inglaterra é o novo capacho do governo dos Estados Unidos", afirmou. 

:: Julian Assange é indicado ao prêmio Nobel da Paz ::

Em Porto Alegre, o Levante Popular da Juventude providenciou a batucada e uma intervenção que representou o sangue derramado pelo imperialismo estadunidense ao redor do mundo. 

“Estivemos em frente ao consulado norte-americano para afirmar que os EUA é o inimigo número um dos Direitos Humanos, da democracia, da soberania dos povos e da paz mundial”, afirmou Lucas Gertz, militante do Levante e diretor de Relações Internacionais da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Ele lembrou que Cuba, Venezuela, Honduras, Bolívia, Argentina, Afeganistão, Iraque e tantos outros países sofreram ou sofrem intervenções. “Seja através de golpes coloridos ou invasões militares, a única certeza que temos é que somos sempre um alvo em potencial. Precisamos nos manter sempre atentos e atentas”, avaliou.


Em Porto Alegre (RS), intervenção representou o sangue derramado pelo pelos norte-americanos ao redor do mundo  / Maiara Rauber

:: Assange poderá recorrer de extradição aos EUA no Supremo, decide justiça britânica ::

Tribunal popular condena Estados Unidos 

Ainda nesta sexta-feira, a Internacional Progressista organiza os Tribunais de Belmarsh em Nova York, nos Estados Unidos. O evento é inspirado no tribunal popular organizado pelos filósofos Bertrand Russell e Jean-Paul Sartre, há 50 anos, para colocar os EUA no banco dos réus pela Guerra no Vietnã.

O evento deste ano conta com a participação de peritos da Organização das Nações Unidas (ONU), jornalistas e intelectuais. O objetivo da reunião é discutir o caso da extradição de Assange e também os crimes da chamada "Guerra ao Terror". 

"Julian Assange cometeu uma transgressão grave. Ele é culpado de expor crimes graves do governo dos Estados Unidos, que tentou mantê-los escondidos dos seus próprios cidadãos e do mundo", afirmou o linguista e filósofo Noam Chomsky.

O historiador e diretor do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, Vijay Prashad, também participa do evento e destacou que o trabalho do WikiLeaks permitiu que se pudesse falar sobre crimes cometidos por potências ocidentais sem "soar como maluco". Além disso, Prashad criticou os veículos de comunicação que se serviram das informações fornecidas pelo WikiLeaks e agora não o apoiam. 

"O que Julian Assange fez que o New York Times não fez? O que Julian Assange fez que o jornal The Guardian não fez? E para a vergonha do The New York Times e a vergonha do The Guardian, para a vergonha do The Spiegel, nenhum deles ficou com o homem que lhes forneceu informação", destacou Prashad.

:: As inestimáveis contribuições do Wikileaks para o jornalismo e movimentos populares ::

Entenda o caso Assange

Julian Assange é um jornalista e editor australiano que cofundou o WikiLeaks em 2006. O site publicou documentos vazados anonimamente por funcionários de governos e corporações. Até 2009, o WikiLeaks publicou documentos que revelaram a lista de membros do Partido Nacional Britânico fascista (2008), o escândalo do petróleo Petrogate no Peru (2009) e um relatório sobre o ataque cibernético dos EUA e de Israel contra as instalações de energia nuclear no Irã (2009). 

No Brasil, documentos recebidos pelo Wikileaks revelaram que os Estados Unidos grampearam a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), ex-ministros e até o avião presidencial. As interceptações telefônicas atingiram também titulares de ministérios da Casa Civil, Planejamento, Fazenda, Gabinete de Segurança Institucional e Relações Exteriores. A Petrobras também foi espionada, em função do interesse estadunidense na tecnologia envolvendo a exploração em águas profundas da camada pré-sal.

Do Iraque, a analista de inteligência do Exército estadunidense Chelsea Manning enviou ao Wikileaks centenas de milhares de documentos, incluindo vídeos, e disse em uma mensagem: “Este é possivelmente um dos documentos mais significativos do nosso tempo, removendo a névoa da guerra e revelando a verdadeira natureza da guerra assimétrica do século 21”.

O Wikileaks também publicou os Registros da Guerra do Iraque e os Diários da Guerra do Afeganistão, que continham materiais que sugeriam que as forças dos EUA haviam cometido crimes de guerra nos dois países. Entre esses documentos estava um vídeo de 2007 mostrando forças dos EUA matando civis, incluindo funcionários da organização de notícias Reuters.

Edição: Rodrigo Durão Coelho