A Alta Corte de Londres decidiu nesta segunda-feira (24) que Julian Assange poderá fazer uma apelação à Suprema Corte britânica sobre sua possível extradição para os Estados Unidos. O novo desdobramento no caso do fundador do Wikileaks adia em algumas semanas, ou meses, a decisão sobre sua possível transferência para os EUA, onde enfrenta supostas acusações que poderiam colocá-lo por 175 anos atrás das grades.
O Departamento de Justiça estadunidense acusa Assange de publicar informações confidenciais e utiliza, inclusive, sua Lei da Espionagem criada durante a Primeira Guerra Mundial para fazer seu caso nos tribunais. As informações publicadas pelo WikiLeaks expõem possíveis crimes de guerra dos EUA em suas intervenções no Iraque e no Afeganistão.
O fundador do Wikileaks está detido na prisão de alta segurança de Belmarsh, perto de Londres, desde abril de 2019 após o Equador revogar sua permanência em sua embaixada britânica. Assange ganhou uma primeira decisão judicial em janeiro de 2021 para não ser extraditado aos Estados Unidos. Todavia, Washington recorreu e obteve decisão favorável em dezembro, abrindo caminho para uma possível extradição.
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A íntegra da decisão que permitiu levar o caso do fundador do WikiLeaks para a Suprema Corte britânica pode ser conferida neste link (em inglês).
Stella Moris, companheira de Assange e mãe de dois filhos seus, disse que a decisão da Alta Corte de Londres representa uma vitória, mas ressaltou que "a luta continua até que Julian esteja livre".
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas destacou que a extradição de Assange aos EUA representaria "um precedente legal profundamente prejudicial que permitiria a acusação de repórteres por atividades de coleta de notícias" e pediu que os EUA retirem as acusações.
As autoridades estadunidenses apresentaram o pedido de extradição do fundador do WikiLeaks durante o mandato do então presidente Donald Trump e a batalha legal continua agora com a Casa Branca sob as ordens de Joe Biden.
Solidariedade brasileira
Jornalistas brasileiros e lideranças de movimentos populares do Brasil manifestaram apoio ao fundador do WikiLeaks. A campanha "Assange Livre Brasil" reúne a participação de jornalistas como Maria Luiza Busse, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Juca Kfouri, do jornal Folha de S. Paulo, e de outros jornalistas como Emiliano José e Arnaldo Moreira.
"Julian Assange não apenas não cometeu crime algum como, ao contrário, denunciou mais um crime cometido contra a paz mundial", afirma Juca Kfouri em vídeo da campanha. O jornalista classifica Assange como um "símbolo do bom jornalismo e da liberdade de imprensa".
O economista e membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Pedro Stedile também se pronunciou e atacou a detenção de Assange "nas masmorras do império britânico" e destacou que o jornalista denunciou "as atrocidades do exército americano".
"Quem deveria ir para a cadeia são os responsáveis pelo massacre que houve no Iraque e nos demais países. Portanto nós devemos manifestar nossa indignação, protestar, denunciar contra essa atitude imperial dos EUA que se acham donos do mundo", afirma Stedile.
* Reportagem atualizada às 18:14 para incluir as manifestações de solidariedade do Brasil
Edição: Arturo Hartmann