A liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial deste ano é um reflexo de um sentimento crescente na sociedade “de que nós temos uma tarefa monumental pela frente, que é nos livrar de um governo que destruiu o país”. Essa é a avaliação do jornalista Franklin Martins, ex-ministro das Comunicações no governo Lula.
Em conversa com o jornalista Juca Kfouri, no programa Entre Vistas, da TVT, na última quinta-feira (27), Franklin analisou a conjuntura política frente ao desmonte do Estado, promovido pelo governo Bolsonaro, e falou da perspectiva da possível reconstrução da nação. A entrevista contou com a participação de Kelli Mafort, da coordenação nacional do Movimento dos Trablhadores Rurais Sem Terra, Ivone Silva, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, e Moisés Selerges, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Para Franklin, o governo Bolsonaro tem destruído o país, atacando principalmente os projetos e as políticas sociais porque tem apoio da elite, uma classe social que “não tem projeto de país e não consegue ver o povo como parte do país”. O jornalista credita a esse problema o “sentimento crescente de que nós vamos poder virar o jogo”.
“Até março do ano passado, portanto, até dez meses atrás, o país estava caminhando atônito para o abismo, havia uma compreensão de que o país estava à deriva, um desgoverno em uma pandemia atingindo todo mundo e não havia liderança para enfrentar essa situação. O país sabia que estava indo para o abismo, caminhava atônito e desorientado para o abismo”, afirmou Franklin.
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Retorno de Lula
Ele defendeu que a volta do ex-presidente para o jogo político foi um “clique”, “como se virasse a chave da sociedade, porque se percebeu que nós temos como não ir para o abismo, e temos como reconstruir ou país”.
“E o Lula, quando fez aquela entrevista coletiva com discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, dois dias depois de o Supremo Tribunal Federal ter suspendido todos os processos contra ele e deixado claro que o (Sergio) Moro tinha sido um juiz parcial, o Lula em vez de estar dominado pela bronca ou pelo ódio, o normal para qualquer ser humano ressentido porque tinha sido submetido à prisão e a família tinha sido humilhada, voltou e disse ‘vamos olhar para frente, vamos conversar e reconstruir o país’”.
Segundo Franklin, essa percepção veio crescendo de março de 2020 para cá. “E hoje em dia nós temos uma situação na qual existe um sentimento muito forte no país de que é necessário terminar com o governo Bolsonaro, é necessário reconstruir o país e temos uma liderança capaz de fazer isso. Primeiro, porque tem competência; segundo, porque já mostrou isso no seu governo, foram anos em que o país nunca viveu um período tão bom justamente porque incluiu o povo na economia, nos programas sociais, na educação, na saúde e fez aquilo que a chamada elite não fazia, porque a elite sempre achou que não dá para governar para todo mundo no Brasil com o argumento de que não tem orçamento, não tem dinheiro.”
“Se o governo só olha para um terço da população, o restante vai fazer o que, vai virar lata? Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro tinha complexo de vira-lata. Se você pegar um cachorrinho de madame, deixar ele cinco dias sem comer e soltar ele na rua, ele vai fazer a mesma coisa que um vira-lata para conseguir uma comida. Não é porque ele gosta, mas é porque ele não tem outra saída”, disse ainda o jornalista.
“Então, a elite joga o povo no lixo e diz que a culpa é do povo”, afirmou. E os governos de Lula e Dilma mostraram ao país que é ao contrário. “Quando o povo entra na economia, na educação, nos direitos e é tratado como gente por políticas sociais, o Brasil cresce porque o mercado interno é um patrimônio monumental e com isso você tem emprego, salário, renda, arrecadação de impostos, tem mais investimentos e a roda da economia vai girando. Aquilo que as elites diziam que era impossível foi possível durante os governos de Lula e Dilma e se mostrou essencial para o Brasil ser um país da altura do tamanho dele”, avaliou Franklin Martins.
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Confira a entrevista