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Venezuela encerra ciclo de 42 meses de hiperinflação, diz Banco Central

Presidente Nicolás Maduro destaca queda nos índices de inflação; pesquisadores divergem do otimismo do governo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Reconversão monetária e liberação do dólar seriam dois fatores que ajudaram a conter hiperinflação - Cristian Hernández /AFP

A Venezuela encerrou um processo hiperinflacionário de 42 meses, afirma o Banco Central da Venezuela (BCV) ao publicar o Índice Nacional de Preços do Consumidor (INPC) de 7,6% em dezembro. Segundo as cifras do BCV, é o quarto mês consecutivo de inflação com apenas um dígito e nenhum dos últimos 12 meses terminou com índice de inflação mensal superior a 50% — o que representaria o fim da hiperinflação.

Em outubro, quando foi implementada a reconversão monetária do Bolívar Soberano para o Bolívar Digital, o país registrou a inflação mais baixa do ano, com índice de 6,8%, seguido de 8,4% em novembro.

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Em relação à variação anual, o INPC acumulado de 2021 foi de 686,4% - índice quatro vezes menor que em 2020, com uma inflação acumulada em 2.959,8%.

O presidente Nicolás Maduro reiterou que a Venezuela encerrou o último trimestre do ano com uma média de 7,6% de inflação. Além disso, o presidente venezuelano afirma que o país teve um crescimento econômico de 4% em 2021, na comparação com 2020.

"A inflação de dezembro de 2021 foi a mais baixa desde 2015, o que nos torna otimistas em relação à superação dos índices de hiperinflação", assegurou o chefe de Estado. 

Com a reforma, o governo assegura que 80% das transações comerciais do país são digitais, justificando a política de redução da circulação do papel moeda. De acordo com o presidente venezuelano, em 2021, houve um aumento de 65% das operações em moeda nacional. 

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Apesar de 76% do orçamento nacional estar direcionado a programas sociais, o salário mínimo oficial continua sendo de 10 bolívares, equivalente a menos de R$ 12, cobrindo 0,60% da cesta básica alimentar, calculada em US$ 370 (cerca de R$ 2 mil)  no mês de janeiro pelo Observatório Venezuelano de Finanças.  

Maduro ainda destacou que o câmbio Bolívar - Dólar variou apenas 3,3% entre julho e dezembro do ano passado, o que teria sido um reflexo da injeção de US$ 50 milhões (cerca de R$ 225 milhões) na economia por parte do BCV. Na última segunda-feira (17), o câmbio oficial foi de 4,60 bolívares para 1 dólar.

Para 2022, o chefe de Estado disse que não retrocederá "nem um milímetro" nas alianças com "potências emergentes", reiterando a intenção de consolidar a Aliança Bolivariana dos Povos da Nossa América (Alba-TCP) em uma união econômica de referência regional.

No último balanço anual, todavia, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) afirma que a economia da Venezuela encolheu 3,1% em 2021, na comparação com 2020. 

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Apesar dos índices aparentemente favoráveis, economistas venezuelanos questionam os prognósticos de crescimento econômico.

Para Manuel Sutherland, economista do Centro de Pesquisa e Formação Operária (CIFO, na sigla em espanhol), ainda é cedo para falar em recuperação econômica.

"Desde 2013 nosso PIB reduziu em 80%. Para recuperar nossa economia precisamos de 25 ou 30 anos de crescimento de 3,4 ou 5%", avalia.

A economista Pasqualina Curcio também comenta que a "intervenção cambiária do BCV só serviu para queimar os dólares que estavam ingressando", afirmando que a crise econômica deve se manter a médio prazo.

Edição: Thales Schmidt