A comunidade do distrito de Macacos, em Nova Lima (MG), está sem atendimento médico no Centro de Saúde devido à falta de água na região, decorrente das chuvas fortes registradas nos últimos dias. O transporte público também está suspenso, já que os acessos ao distrito continuam precários.
“Como a situação da água não foi regularizada, o distrito está sem atendimento médico, porque não tem como fazer um atendimento em saúde sem água, sem uma higienização mínima. A Copasa [Companhia de Saneamento de Minas Gerais] já disponibilizou caminhões-pipa. Mas, por conta de tudo o que está acontecendo no estado, a empresa está com dificuldade de atender toda a região”, afirma o professor André Luiz Freitas Dias, coordenador do Programa Polos de Cidadania da UFMG, que acompanha comunidades em cenários de conflitos urbanos e socioambientais e está na região.
A Vale S/A, que opera no local, também disponibilizou caminhões-pipa, mas, segundo Dias, em quantidade insuficiente. No distrito há um muro construído pela Vale para conter possíveis rejeitos da barragem B3/B4. A estrutura está sob curso de um pequeno ribeirão e é mais alta do que um prédio de 10 andares.
Com a chuva dos últimos dias, o nível da água aumentou e não há vazão devido ao muro. Imagens captadas pela população mostram a água no limite do transbordamento e uma grande quantidade de lama minando da terra na base da muralha.
Até o momento nenhuma casa foi diretamente atingida pela enchente, mas a preocupação é de um possível rompimento da barragem, já que o espaço delimitado pelo muro para conter possíveis rejeitos já está ocupado pela água da chuva.
Se houver rompimento, a população tem apenas uma rota de fuga, a estrada Campos Costa, que também foi atingida pela chuva e tem trechos intransitáveis.
A mina Mar Azul ou B3/B4 vai encerrar as atividades e passa por um processo arriscado de descaracterização, que envolve retirada de milhões de metros cúbicos de rejeitos.
Barragens
O distrito, que está parcialmente ilhado, é cercado por sete barragens. Das 31 barragens em Minas que estão em emergência, nove ficam em Nova Lima. Destas, sete estão em nível 1, quando há algum tipo de anormalidade, mas sem necessidade de retirada dos moradores vizinhos; uma está em nível 2, quando há risco de rompimento da barragem, com recomendação da retirada dos moradores; e outra, a Barragem B3/B4, mais próxima do distrito de Macacos, em nível 3, quando há risco iminente de rompimento, o que requer a retirada obrigatória dos moradores vizinhos.
Todas as nove barragens são da Vale S/A, responsável pelo crime ambiental que matou centenas em Brumadinho, após o rompimento da Barragem I, na Mina Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019. Das 31 barragens em situação de emergência, apenas duas não são da empresa.
Outro lado
O Brasil de Fato procurou a Vale S/A para comentar o caso. Mas, até o momento, não houve resposta. O espaço está aberto para pronunciamento.
Edição: Leandro Melito