Curitiba

Empresária agredida por policiais militares em Curitiba relata momentos de horror

Sthephany foi agredida por policiais em sua hamburgueria; caso ganhou repercussão pela violência

Curitiba (PR) |
“Achei que iriam fazer algo pior comigo, foi uma sensação terrível", conta empresária agredida por policiais - Foto: Giorgia Prates

Imagine mais um dia de trabalho em seu estabelecimento, com a tranquilidade que nada de ruim possa ocorrer. Apesar da pandemia e das fiscalizações aos estabelecimentos, as documentações em ordem seriam uma garantia.

No entanto, ao final desse dia, a garantia de segurança da Polícia Militar não seria sinônimo de ordem e segurança. Esse foi um pouco do sentimento relatado ao Brasil de Fato Paraná pela empresária Sthephany Rodrigues, dona de uma hamburgueria na Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

Na madrugada de 23 de outubro, após uma reclamação de som alto na região da lanchonete, membros da Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu) foram ao local com a Polícia Militar.

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A empresária, na ocasião, chegou a ser multada em 30 mil reais porque, de acordo com a Aifu, estaria atendendo acima da capacidade de público permitida.

Sthephany teve que fechar o local e mandar os clientes embora. Posteriormente, ao filmar policiais abordarem um jovem que fumava narguilé na própria residência e cobrar os PMs por conta da truculência, a empresária foi agredida e imobilizada.

A ação da polícia foi filmada por familiares e moradores da região e amplamente divulgada nas redes sociais.

Sthephany conta, emocionada, que após o ataque, o próprio agressor a levou para uma unidade de saúde e que, ainda presa na viatura, ouviu policiais combinando depoimentos após descobrirem que o vídeo que gravara tinha viralizado.

“Achei que iriam fazer algo pior comigo, foi uma sensação terrível, eu os ouvia conversarem de como poderiam combinar a versão que iriam falar na delegacia. Ouvia os meus próprios gritos enquanto eles viam o vídeo”, conta.

A empresária foi liberada apenas de madrugada. Ela ainda relata que, após as agressões, percebeu que várias outras abordagens têm sido feitas próximas à hamburgueria, e que ainda sente muito medo.

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“A gente sabe que tem muito movimento na região, mas o movimento da hamburgueria caiu em quase 90% no salão, as pessoas têm medo de serem revistadas. Ainda sinto muito, e com a sensação até de estar sendo seguida”, relata.

À época, o governador Ratinho Junior (PSD) chegou a confessar que a ação foi exagerada.

“É claro que o Governo do Paraná, a Secretaria de Segurança Pública e o próprio comando da Polícia Militar não admitem esse tipo de abordagem. Nós temos 25 mil homens e mulheres trabalhando na PM, todos bem treinados, e infelizmente um ou outro policial acaba tendo um excesso que não está dentro daquilo que é treinado, que é do dia a dia”, pontuou.

Investigação lenta

Para o advogado de Sthephany, Igor Ogar, a polícia vem sendo vagarosa em punir os envolvidos. Ele teme que os responsáveis sejam perdoados. “Esse procedimento está sendo apurado por meio de inquérito, no qual não foi tomada nenhuma medida para aprofundar as investigações. As imagens são claras, e me parece que há uma tentativa de 'passar a mão na cabeça' desses policiais”, critica.

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Para o especialista em criminologia João Henrique Arco-Verde, é nítido o excesso dos policiais. “O que se precisa, neste momento, é apurar de forma limpa e garantindo os direitos de defesa de todos os envolvidos, mas apurar de maneira veemente cada ação realizada naquele dia. O próprio governador afirmou que a ação viola a conduta policial”, afirma.

À época, a PM afirmou, em nota, que “vai apurar as circunstâncias do fato (que é um fato isolado) citado na reportagem, no entanto vale ressaltar que, conforme consta em boletim de ocorrência, o policial militar foi agredido e, por isso, precisou usar de força gradativa para conter a mulher, que, inclusive, tentou impedir o encaminhamento de outra pessoa durante a ação policial.”

A reportagem do Brasil de Fato Paraná pediu esclarecimentos à assessoria de imprensa da PM-PR sobre o suposto aumento de abordagens policiais perto da hamburgueria e como está o andamento do inquérito. Até o fechamento desta matéria, não houve resposta. 

Fonte: BdF Paraná

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini