Ruan é um jovem experimentado em movimentos por moradia, pai de quatro filhos, um deles a caminho no ventre de sua companheira grávida, Janaína. Trabalhador da construção civil desempregado, ele hoje vive em um barraco de 9 por 16 metros, na ocupação Nova Guaporé 2, no bairro Comprido, em Curitiba (PR).
Existente desde outubro, a Nova Guaporé 2 recebeu, em dezembro, muitas famílias que foram despejadas, em plena pandemia de covid-19 de uma outra ocupação ali perto, na Cidade Industrial, também chamada de Nova Guaporé (sem o dois, no caso)
Ao lado de vinte famílias de haitianos, 37 estrangeiros, em um total de cerca de 200 famílias, Ruan enfrenta o fantasma do desemprego, do subemprego, da miséria, que já alcança cerca de 39,9 milhões de pessoas no país governado por Bolsonaro (sem partido).
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E, o mais gritante neste momento: sente a falta de política habitacional por parte do prefeito reeleito Rafael Greca (DEM).
Despejadas da Cidade Industrial de Curitiba pouco antes do Natal, muitas famílias tentam se reerguer na Nova Guaporé 2 em uma área que abrigava um lava-carros, coberta por vegetação, pertencente, em tese, a Empreendimentos Comerciais Kikomar LTDA.
A área, abandonada desde 1993, é alvo de disputas judiciais, fica ao lado de outro terreno da imobiliária com o sugestivo nome de Construtora Patrão LTDA. Junto a isso há uma área municipal incrustada no centro do terreno.
Ao visitar presencialmente o suposto endereço da Kikomar LTDA, que consta no pedido de reintegração de posse da área, a reportagem do Brasil de Fato constatou que se trata de um endereço residencial que não tem nada a ver com possíveis proprietários do terreno.
Região valorizada
Ao contrário de ocupações ocorridas na capital e região metropolitana desde 2015, a Guaporé tem um diferencial: localiza-se no bairro Campo Comprido, em área relativamente perto do centro, longe da chamada periferia extrema de Curitiba, em região valorizada da cidade.
Nos dias de sol, crianças brincam soltas na comunidade. Cães e galinhas também.
Laudicéia, a Laudi, organizava o coro das crianças para a entrada do ano novo. Henrique, musicista que fez parte do coro da Universidade Federal do Paraná, faz vídeos com o celular enquanto montava o seu barraco. O preço do aluguel tornou-se para muitos ali simplesmente impossível, sobretudo a partir de agora, quando 67 milhões de brasileiros não receberão mais o auxílio emergencial.
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Quando despejada em dezembro da Cidade Industrial, a comunidade Nova Guaporé causou comoção na opinião pública paranaense, afinal 311 famílias foram para uma rua de terra com seus pertences, em plena pandemia, em um final de ano chuvoso.
Agora, na nova área, estão sob resguardo provisório, depois que a juíza Patrícia de Fúgio Lajes de Lima, da 1ª Vara Cível, suspendeu ação de reintegração de posse, diante de incertezas quanto à posse do terreno, levando em conta, textualmente, a necessidade das famílias carentes.
Guarda municipal fomenta conflitos
Assim mesmo, prefeitura, administração regional do bairro Portão e a guarda municipal têm fomentado conflitos e tensões quase diárias com as famílias. A guarda municipal esteve na Nova Guaporé 2 nos dias na segunda-feira (5) e na terça-feira (6), sem apresentar documentação ou mandato, sem explicar direito no momento as razões da inusitada visita.
Ocupantes relatam um trato abusivo e intimidador por parte de alguns oficiais, algo que pôde ser constatado pela reportagem do Brasil de Fato, que tem acompanhado o local desde o dia 23 de dezembro.
A prefeitura, por sua vez, por meio de assessoria de imprensa, alega que “equipes da Administração Regional Portão e da Guarda Municipal estiveram no local em atendimento a denúncias de ocupação irregular de área de propriedade da Prefeitura de Curitiba – vizinha à ocupação -, e desmatamento ilegal na região”.
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O prefeito Greca tem deslocado diariamente contingentes da guarda municipal para a área, sob argumento de denúncia de moradores do entorno, porém ainda não enviou representantes de secretarias para dialogar com as famílias. Questionado por elas, o administrador da regional Portão, Gerson Gunha afirmou que a prefeitura poderia tomar esta atitude.
Mas até agora as famílias têm visto apenas o uniforme azul da guarda do município.
Ingrid tem 19 anos, morava com a mãe na Cidade Industrial de Curitiba, mas escolheu ir para a ocupação quando a mãe decidiu morar no litoral. A jovem sonha em ser perita policial, mas por hora pensa em fazer curso de bombeiros. Ela está com mais sete pessoas em um barraco, daí a urgência em conseguir os kits para ter o barraco próprio, o que é urgente em tempos de pandemia. Tem mais três irmãos, porém nenhum deles está ali.
Já Roberto é dono de uma pequena quitanda na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), também relatou dificuldades no pagamento do aluguel, ainda mais com a queda de clientela que teve durante a pandemia. “Ficou apertado com a crise da pandemia, sem poder abrir o negócio aos domingos. A gente só quer moradia, seria tão bom, não queremos borrachada”, afirma, fazendo questão de ressaltar a necessidade de uma solução negociada para as famílias.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lucas Botelho e Rogério Jordão