O encontro da COP26 na cidade escocesa de Glasgow, entre os dia 31 de outubro e 12 de novembro, testará o desejo mundial por trabalhar em conjunto para salvar o planeta e evitar consequências catastróficas da mudança climática. Contudo, dentre as discussões sobre a equidade nos sacrifícios necessários para conter o aumento das temperaturas globais, muitos países do oeste da Ásia e norte da África já enfrentam seus efeitos nocivos. A maioria dos governos da região encontram-se incapazes de tomar medidas para lidar com a questão devido a conflitos em curso e intervenções estrangeiras endêmicas.
Os países do oeste asiático e os norte-africanos são diversos em termos de desenvolvimento econômico e em níveis de emissões de gases. Os países ricos do Golfo Pérsico, como os Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Catar e outros, têm altas taxas de emissão per capita, mas, por serem pequenos em área, em geral não contribuem significativamente. Os três maiores países emissores de gases poluentes são também os maiores da região, nomeadamente Irã, Arábia Saudita e Turquia. Esses são os únicos entre os 20 principais emissores que contribuem com cerca de 80% de todas as emissões mundiais hoje.
Todavia, quando se presta atenção aos efeitos dessa poluição, a maioria dos países mais pobres da região estão enfrentando uma gama de problemas relacionados ao clima, com preocupações crescentes acerca da habitabilidade do local. Muitos estudos indicam ligações entre as calamidades naturais e os conflitos e guerras naquelas áreas. Eles apontam que a mudança climática tem destruído as fontes de existentes de sustento, tornando os Estados fracos e limitando o futuro e as possibilidades das populações nestes locais.
Catástrofes climáticas na região
As Nações Unidas esperam que todos os países sigam os compromissos feitos em 2016 no Acordo de Paris e comecem a cortar suas emissões de gases do efeito estufa agora para alcançarem a Net Zero até por volta de 2050. Fala-se em efeitos catastróficos no caso de os países falharem em diminuir suas emissões, com aumento de 2,7 °C na temperatura global até o fim deste século. Contudo, muitos países da região já enfrentam desastres naturais sem precedentes.
Apenas este ano, a Turquia, Síria, Líbano e Argélia viveram intensos incêndios florestais que destruíram centenas de hectares de florestas e fazendas, além de queimarem vilas. Várias pessoas morreram no fogo. Tempos depois, a Turquia viveu também enchestes devastadoras.
Os países do Golfo Pérsico, incluindo o Irã e Iraque, estão registrando 50 °C ou mais de temperatura diurna durante o verão. O Kuwait registrou novo recorde de altas temperaturas durante o verão deste ano, com 53 °C. Segundo alguns estudos, a região do Oriente Médio está esquentando quase duas vezes mais rápido do que a média global e espera-se que seja quatro graus mais quente ao final da década de 2050 em comparação com o pior cenário mundial, que é de 2,7 °C até o final do século.
Irã, Iraque, Síria e Iêmen têm experienciado secas há muitos anos. A fome causada pelas chuvas insuficientes aumenta o sofrimento das populações rurais na maioria desses países que já sofrem com guerras.
A água potável também está se tornando escassa, com nove dos dez países com maior escassez hídrica no mundo localizados na região. Esta situação tem causado novos conflitos em países como o Irã, onde a província do Cuzestão, de maioria árabe, presenciou protestos por conta da falta de água potável, o que causou a morte de pelo menos seis pessoas em julho deste ano. Cenas similares tem se tornado comuns no Afeganistão, Iraque, Síria e Iêmen.
A alta nas temperaturas e a falta de chuvas fez com que reservas naturais de água, raras em boa parte da região, diminuíssem e tornassem a agricultura ainda mais cara ou até mesmo impossível. Por exemplo, este ano, o segundo maior lago da Turquia, o Tuz, secou completamente. Recentemente, muitos países viram alta nos processos de desertificação, tempestades de areia mais frequentes e expansão dos desertos que já existiam.
Ao mesmo tempo, alguns dos países do Golfo também experimentaram excesso de chuvas e enchentes, como as ocorridas recentemente no Omã.
Iniciativas regionais
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, em inglês) está pressionando os países a cumprirem suas promessas feitas no Acordo de Paris, a fim de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 C°. Ainda que de maneira limitada, alguns países no oeste da Ásia e norte da África iniciaram algumas reformas políticas para ajudar a alcançar objetivos como o maior uso de fontes renováveis de energia e investimentos em pesquisas para desenvolver técnicas sustentáveis de produção.
Em 6 de outubro, a Turquia finalmente ratificou o Acordo de Paris e prometeu alcançar a Net Zero até 2053. A Arábia Saudita também lançou sua Iniciativa Verde para o Oriente Médio dias antes do início da COP26. O reino se comprometeu a gastar 10,4 bilhões de dólares para criar um fundo de investimento e um projeto de energia limpa que crie iniciativas e instituições regionais para lidar com as questões da mudança climática e atingir coletivamente a Net Zero. A Arábia Saudita prometeu alcançar a Net Zero em 2060.
Iniciativas parecidas tem sido tomadas por outros países árabes, como os Emirados Árabes Unidos. Todavia, a maioria destes países tem falhado em tomar qualquer passo decisivo para alcançar a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDCs, em inglês), parte do Acordo de Paris. Um bom número dos países da região está em guerra (Síria, Líbia, Iêmen) ou lidando com outras formas de conflito e turbulência social (Tunísia, Líbano, Iraque), o que torna impossível para seus governos focar em políticas para lidar com as mudanças climáticas. Países como o Irã também estão hesitantes em tomar qualquer medida decisiva devido ao seu frágil estado financeiro após as sanções econômicas unilaterais impostas pelos Estados Unidos em 2018.
O oeste da Ásia e norte da África são duas das regiões que menos contribuem para as emissões globais, mas tem sentido desproporcionalmente os impactos das mudanças climáticas e dos desastres naturais. As guerras e conflitos liderados pelo imperialismo não apenas aceleram a destruição ambiental, como também tornaram quase impossível para esses países implementar medidas de mitigação.