Crise e caos

Enem: entenda por que profissinais do Inep pediram demissão na véspera do exame

Equipes relatam clima de insegurança e medo no cotidiano do órgão; Assinep responsabiliza "postura da alta gestão"

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Trabalhadores e trabalhadoras do Inep denunciam "falta de comando técnico" e alertam para riscos à realização do Enem - ©Marcello Casal / Agência Brasil

Quase trinta profissionais que atuavam na organização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pediram demissão nos últimos dias, a menos de duas semanas da realização das provas. Os desligamentos ocorreram em protesto contra a gestão do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que organiza o processo seletivo.

Somente nesta segunda-feira (8), foram 29 pedidos de demissão. Os servidores e servidoras denunciam "fragilidade técnica e administrativa" no comando do Inep. Atualmente, o órgão é presidido por Danilo Dupas Ribeiro, colocado no cargo pelo ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, em fevereiro deste ano. Dupas lecionou na mesma universidade privada em que Ribeiro foi vice-reitor. 

Segundo a Associação dos Servidores do Inep (Assinep), a gestão atual negligencia problemas estruturais, pratica assédio moral, promove desmonte nas diretorias, sobrecarga de trabalho e de funções e desconsidera aspectos técnicos para tomar decisões. As equipes relatam clima de insegurança e medo no cotidiano do órgão.

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A entidade alerta que o cenário coloca em risco não só o Enem, mas também o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e os Censos da Educação Básica e da Educação Superior.

Em nota, divulgada nesta segunda-feira (8), a Assinep responsabiliza "a postura da alta gestão do Inep" na situação, que é classificada como dramática, "Todas as ações institucionais da autarquia precisam de direcionamento técnico de gestores devidamente capacitados nas temáticas. Diante disso, reafirmamos a necessidade de atuação urgente do MEC e do governo federal no sentido de equacionar a situação e reduzir os riscos para a sociedade."

Quem pediu demissão?

A debandada do Inep teve início na semana passada, quando dois coordenadores pediram demissão: o coordenador-geral de Logística da Aplicação, Hélio Júnio Rocha Morais, e o coordenador-geral de Exames para Certificação, Eduardo Carvalho Sousa. Ambos coordenavam áreas ligadas ao Enem.

Nesta segunda-feira (8), outras 29 pessoas também pediram desligamento do órgão. Pelo menos 27 atuavam diretamente com o Exame Nacional do Ensino Médio e mais de 20 coordenavam setores do Inep.

A Diretoria de Gestão e Planejamento, área que mais sofreu baixas, é responsável justamente pela organização logística da prova. Entre os servidores e servidoras que se desligaram do Inep, estão alguns dos profissionais mais experientes de setores estratégicos para o bom andamento do Enem. 

Com a permanência de Danilo Dupas no cargo de presidente do Inep, novos pedidos de demissão não estão descartados. A Assinep alerta para os riscos de uma "gestão caracterizada por afugentar e oprimir pessoas, o que gera vulnerabilidades aos exames, avaliações, censos e estudos, comprometendo a trajetória exitosa de 85 anos do Inep".

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) está marcado para os dias 21 e 28 de novembro.

Outro lado

A reportagem do Brasil de Fato tentou contato com o Inep e o MEC, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem

Edição: Leandro Melito