O advogado e ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles deixou o cargo em junho deste ano em meio a um escândalo de proporções internacionais e investigado por denúncias de agir em conluio com uma quadrilha contrabandista de madeira ilegal oriunda da Amazônia.
Nesta terça-feira (2), ele achou por bem publicar em suas redes sociais um comentário crítico ao acordo firmado entre mais de 100 líderes mundiais para reduzir em 30% as emissões de metano até 2030 em relação aos níveis de 2020. O anúncio foi feito durante a COP26 - Conferência Mundial sobre o Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) que começou neste final de semana em Glasgow (Escócia). Disse o ex-ministro investigado:
Os (países) ricos querem convencer o mundo de que o problema dos gases de efeito estufa está no peido de boi e não nos combustíveis fósseis que eles queimam loucamente há 200 anos
Ricardo Salles, apontado pela Polícia Federal como suspeito de facilitar o contrabando internacional de madeira advinda do desmatamento que retira a floresta para dar espaço ao pasto e à agropecuária, se refere ao gás metano, que é produzido durante a digestão do capim ingerido por bois.
É um fato científico inconteste que o metano é um dos maiores responsáveis pelo chamado "efeito estufa", que aumenta a temperatura média do planeta. Estudo da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, por exemplo, estima que aproximadamente 25% do metano nos Estados Unidos é oriundo de vacas.
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Já o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (Seeg) indica que o setor que emite 70% do gás metano no Brasil é, justamente, o agropecuário. Reduzir essas emissões de metano é um importante objetivo de ambientalistas (de países ricos e pobres) que tentam atenuar os impactos das mudanças climáticas no planeta.
Os ricos querem convencer o mundo de que o problema dos gases de efeito estufa está no peido do boi e não nos combustíveis fósseis que eles queimam loucamente há 200 anos !?! Piada né …
— Ricardo Salles (@rsallesmma) November 2, 2021
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi à Europa para participar da 16ª Cúpula do G20 na Itália (onde foi recebido com protestos), mas na COP26 resolveu não dar as caras.
Oficialmente, o Planalto declarou que foi por questão de agenda. Já o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que se Bolsonaro fosse, “todo mundo” iria “jogar pedra nele”.
Depois de seguidos vexames internacionais – entre os quais discursos mentirosos em todas reuniões da ONU; recentes agressões à jornalistas por parte de sua equipe de segurança; a troca do nome do enviado dos EUA para questões climáticas, John Kerry, pelo ator e humorista Jim Carrey - a ausência do presidente brasileiro na Conferência pode ter sido motivo de alívio para alguns.
Mas as declarações de Ricardo Salles fazem lembrar que não é preciso estar fisicamente no encontro multilateral planetário para fazer ecoar visões bolsonaristas a respeito das pautas ambientais.
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Edição: Vinícius Segalla