Inflação acumulada no ano em mais de 10%, reajustes diários no valor do combustível e do gás de cozinha, desemprego e volta da fome. Essas são algumas das dificuldades que os brasileiros enfrentam durante a crise sanitária e econômica, aprofundada em 2021. Quem tem dificuldade de sustentar a família acaba se agarrando a qualquer esperança e sendo vítimas de golpes aplicados pela internet.
Nos bairros mais empobrecidos de Curitiba (PR), por exemplo, circulam diversas notícias falsas em redes sociais com supostos programas do governo federal, como "auxílio gás", "aumento do auxílio emergencial", promessas de acesso a cesta básica e valores irreais de um novo Bolsa Família. Essas fake news têm pipocado principalmente em grupos de WhatsApp e causado prejuízos a famílias que já tem dificuldade de se sustentar.
A catadora de materiais recicláveis Juliana Santos Moro, moradora da Vila Formosa, no bairro Novo Mundo, conta que a situação econômica das famílias na comunidade piorou e muitos acabam caindo em notícias falsas que prometem ajuda governamental. "Têm aparecido propostas como vale gás, auxílio novo e Bolsa Família com valor maior", conta.
Juliana é voluntária da associação de moradores da região e diz que tenta alertar os vizinhos para que não acreditem nas mensagens. “Aqui tem mais de 300 pessoas no cadastro das associações, aí alguém vê na internet e compartilha. Quando vemos que não procede, avisamos, mas é bem complicado, porque tem gente na esperança de conseguir gás, verdura, cesta básica, ou de pegar algum auxílio do governo”, diz.
No próprio site do governo federal há alguns alertas para notícias falsas, como a de “ajuda mensal de R$ 200 para trabalhadores autônomos e pessoas de baixa renda para combater a pandemia do novo coronavírus”, ou de programas de “auxílio gás, por intermédio do Ministério da Cidadania”.
O único projeto nesse sentido é dos deputados federais Bohn Gass e Paulo Teixeira, do PT. Porém, o PL 1922/2020, que dispõe sobre auxílio emergencial para compra de gás durante a pandemia, proposto no ano passado, está parado na mesa diretora da Câmara dos Deputados, sem previsão de ser votado.
Gente que perdeu a casa
Com o fim do auxílio emergencial de R$ 600, a situação de diversas famílias brasileiras ficou dramática. Juliana Santos conta que na Vila Formosa tudo piorou com o fim do auxílio e com o aumento da inflação. "Aumentou bastante o número de pessoas desempregadas e com dívidas. Teve gente que perdeu a casa de aluguel, tem famílias que tiveram de ir catar recicláveis e até família que foi morar dentro do carro. É muito triste", revela.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou, nas últimas semanas, a mudança do Bolsa Família para o novo "Auxílio Brasil", que aumentaria o benefício para R$ 400 mensais, por um ano. A medida, de acordo com analistas, furaria o teto de gastos, o que causou demissão em massa no gabinete do Ministro da Economia, Paulo Guedes.
Perguntada se o valor ajudaria as famílias da Vila Formosa, Juliana foi taxativa: "Sabemos que não. Se viessem os R$ 400 e os preços estivessem mais baixos, amenizaria ao menos entre uma coisa e outra."
Fonte: BdF Paraná
Edição: Sarah Fernandes, Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini