O Tribunal de Instrução Penal de La Paz determinou estender em cinco meses a prisão preventiva de Jeanine Áñez, em decisão publicada no último sábado (2). A ex-presidenta é acusada de sedição, conspiração e terrorismo por protagonizar o golpe de Estado de outubro de 2019. A defesa recorreu da decisão, mas não teve êxito.
A decisão judicial foi uma resposta a um pedido do Ministério Público da Bolívia, que acusou risco de fuga e obstaculização do processo. Em agosto, meios de comunicação bolivianos publicaram denúncias de um plano de fuga de Áñez pelo Brasil. Segundo relatos, organizações de direitos humanos afins à oposição estavam pressionando pela prisão domiciliar para que Áñez fugisse em um jato privado de Trinidad, capital do estado de Beni, para o território brasileiro.
Dois ex-ministros golpistas já estão foragidos da justiça boliviana, são eles Fernando López (defesa) e Arturo Murillo (governo), ambos também teriam abandonado o país passando pelo Brasil, logo após a posse do atual presidente Luis Arce.
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A defesa também solicita que a ex-funcionária tenha foro privilegiado como ex-presidenta. No entanto, a justiça boliviana reconhece apenas o cargo de ex-senadora, ocupado por Áñez até outubro de 2019.
Segundo relatório do Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes, Jeanine Áñez, assim como ex-ministros do governo interino, são responsáveis por violações de direitos humanos, ruptura da ordem constitucional e perseguição política.
Também são acusados como responsáveis pelos massacres de Sacaba e Senkata, que terminaram com 37 mortos e mais de 800 feridos. As vítimas eram civis que protestaram em novembro de 2019, na região de El Alto, contra o golpe de Estado que destituiu o governo de Evo Morales. Parte do armamento utilizado para reprimir o protesto foi oferecido pelo Estado argentino sob gestão de Maurício Macri.
Enquanto isso, as investigações sobre o golpe avançam. O atual governador do estado de Santa Cruz, na fronteira com o Brasil, Luis Fernando Camacho, deverá prestar depoimentos ao Ministério Público na próxima quinta-feira (7). Durante a deposição de Evo, Camacho era presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, um grupo de extrema-direita, e animou publicamente motins policiais e violência paramilitar contra a administração do MAS-IPSP.
Edição: Thales Schmidt