Entre os discursos mais esperados da 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, certamente dos presidentes da China, Xi Jinping, e dos Estados Unidos, Joe Biden, estão no topo da lista.
Com o combate à crise sanitária global, a recuperação econômica dos países pós-pandemia e as mudanças climáticas na agenda, a Assembleia Geral é uma das datas mais importantes da diplomacia global. Na abertura dos trabalhos, o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, advertiu que "o mundo deve acordar".
"Estamos à beira de um abismo - e nos movendo na direção errada. Nosso mundo nunca foi mais ameaçado, ou mais dividido", disse Guterres.
O Brasil de Fato comparou os discursos dos líderes das duas maiores potências mundiais para identificar os contrastes das políticas propostas na tribuna da ONU.
Pandemia
Joe Biden lamentou as 4,5 milhões de mortes causadas pelo vírus Sars-Cov2 em todo o planeta. Após retomar as contribuições financeiras dos EUA à Organização Mundial da Saúde (OMS), Biden defendeu que seja criado um novo mecanismo global de saúde para “financiar a segurança mundial da saúde” e prevenir novas pandemias.
A Casa Branca é criticada por concentrar o mercado de vacinas e autorizar a aplicação da terceira dose da vacina enquanto muitos países não acessaram nenhuma dose de imunizante. Como resposta, Biden prometeu oferecer 500 milhões de doses à OMS.
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Xi Jinping destacou que já em 2020, durante o 75º período de sessões da ONU, os países-membros haviam se comprometido a vencer a pandemia de covid-19 em união e reiterou que este deve continuar sendo o objetivo central dos países. O presidente chinês reiterou que a vacina deveria ser considerada um bem público e que doaria 100 milhões de doses a países em desenvolvimento, assim como US$ 100 milhões (cerca de R$ 510 milhões) ao mecanismo Covax para aquisição de mais imunizantes.
Economia
Além de superar a situação de crise sanitária, os presidentes também abordaram a recuperação econômica mundial. Em 2020, a economia chinesa foi a única a crescer, com um aumento de 2,3% do PIB, enquanto a economia estadunidense retraiu 3,5%.
O presidente asiático propôs uma Iniciativa de Desenvolvimento Global, que busque estabilidade e crescimento equitativo das nações, baseado nos objetivos da Agenda 2030 da ONU. Para isso, Xi prometeu oferecer mais US$ 3 bilhões nos próximos três como ajuda contra pandemias e epidemias e pela recuperçaão econômica dos países em desenvolvimento.
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Já Biden não apresentou uma nova proposta para a reativação da economia global, no entanto falou que a comunidade internacional deve aproveitar novas "oportunidades" que a crise poderia oferecer.
Mudança climática
Biden destacou que todas as nações devem se preparar para a Conferência Climática da ONU em novembro, a COP26, lançando uma nova proposta de reduzir em 50% as emissões de gás carbônico registradas em 2005 nos próximos nove anos, renovando os pactos assinados com o Acordo de Paris.
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Na mesma linha, o chefe de Estado chinês também defendeu um desenvolvimento verde.
"É imperativo acelerar a transição para um desenvolvimento verde, de baixa emissão de carbono. A China irá se esforçar para atingir as metas de redução de emissão de CO2 para 2030 e neutralizar as emissões antes de 2060", afirmou Xi.
Multilateralismo
O presidente chinês afirmou que o mundo está em uma "encruzilhada histórica" e defendeu a ideia de um mundo multipolar e a defesa da solidariedade e respeito mútuo para resolver as diferenças entre Estados. "A democracia não é um direito especial reservado a um país, mas um direito de todos os povos do mundo", sinalizou.
Xi ainda disse que a China nunca invadiu outro país e seguirá promovendo a paz mundial.
Para Biden, o planeta também vive um "ponto de inflexão histórica". O líder estadunidense assegurou que seu governo está disposto a "liderar" a busca por um futuro mais pacífico e próspero para todos. "O uso da força deve ser nossa ferramenta de último recurso, não nossa primeira”, afirmou o chefe da Casa Branca defendendo sua decisão de retirar as tropas estadunidenses do Afeganistão após 20 anos de guerra.
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Para muitos analistas, a Assembleia Geral das Nações Unidas seria o momento dos EUA voltarem a assumir uma posição de ator global. Na sua intervenção Biden deixou claro que seu país "está de volta" na ONU e em outros fóruns internacionais.
Embora prometendo não buscar “uma nova Guerra Fria ou um mundo dividido em blocos rígidos”, afirmou que os EUA se oporiam às tentativas de “países mais fortes de dominar os mais fracos” e prometeu retomar o acordo nuclear com o Irã.
Edição: Thales Schmidt