O PSOL, através de sua líder na Câmara dos Deputados, Talíria Petrone (PSOL-RJ), protocolou, na última segunda-feira (13), um requerimento de informação para que o ministro das Comunicações, Fábio Faria, explique o uso político da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
O pedido de Petrone utiliza como base uma denúncia, publicada no dia 28 de agosto deste ano pelo Brasil de Fato. De acordo com o texto, a EBC tem pressionado os jornalistas da empresa para que intensifiquem a produção diária de conteúdo positivo da gestão do coronel Ricardo Mello Araújo, ex-comandante da Rota, à frente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).
“O presente Requerimento de Informações tem o objetivo de questionar o uso indevido da programação das emissoras da EBC, em evidente desrespeito aos princípios constitucionais”, explica o texto.
Para Talíria Petrone, “as acusações de campanha antecipada são muito graves e se somam aos episódios inaceitáveis de censura aos jornalistas já denunciados. Desde a posse de Bolsonaro, são, ao menos, 138 episódios de censura. Pautas urgentes para o povo, como fome, desemprego, desmatamento na Amazônia e cortes na Educação deixaram de aparecer na TV Brasil. Golpe e ditadura são palavras que foram proibidas em matérias sobre o período militar. Fábio Farias tem que dar explicações sobre esse uso, que é ilegal”
A parlamentar lembra que, com a queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a empresa se tornou um espaço para tentar alavancar a imagem do governo federal.
“É muito grave o que está acontecendo com a comunicação pública. O desmonte da EBC, a pressão sobre seus trabalhadores, o aparelhamento da empresa por parte do governo Bolsonaro, tudo isso é parte de uma política de ataque à democracia”, encerra Petrone.
O requerimento de informação ainda deverá ser analisado pela Câmara dos Deputados, e a relatoria na Mesa Diretora da Casa é do deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM).
A EBC
O Brasil de Fato teve acesso a mensagens no grupo de Whatsapp dos jornalistas da estatal, onde os trabalhadores são pressionados pela direção. Em um trecho, uma pessoa da direção da empresa repassa um recado do presidente da EBC, o publicitário Glen Lopes Valente.
“O Glen quer que faça o máximo possível de matéria da Ceagesp. Recado dele”, diz a primeira mensagem. “Prioridade de hoje, a partir de São Paulo”, complementa a direção. Nos oito primeiros meses de 2021, a EBC produziu 23 reportagens sobre o Centro de Entrepostos paulista.
A EBC e a Ceagesp são estatais do governo federal. Mais que isso, são vizinhas no bairro da Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo. De acordo com as denúncias que chegaram ao Brasil de Fato, é comum que os jornalistas façam saídas para gravar notas no local.
“Existe um desconforto entre os colegas da EBC nessa cobertura extensiva da Ceagesp, porque está claro que é uma forma de instrumentalização da EBC para promover a gestão do entreposto, e a figura do ex-policial militar que está à frente da empresa”, denuncia um dos jornalistas da estatal, que pediu para não ser identificado.
Edição: Vinícius Segalla