Repressão

Escritórios do Partido Comunista da Índia e centros de mídia são incendiados

Comunistas acusam membros do partido do primeiro-ministro Narendra Modi pelos ataques

São Paulo (SP) |
Os comunistas acusam o partido de Modi de cumplicidade com a violência. - Twitter: Partido Comunista da Índia (Marxista)

Vários escritórios do Partido Comunista da Índia (Marxista) (CPI(M), na sigla em inglês) e ao menos cinco centros de mídia no estado indiano de Tripura foram atacados na quarta-feira (8) supostamente por quadros do Partido Bharatiya Janata (BJP, em inglês), atualmente no poder com o primeiro-ministro Narendra Modi. Veículos estacionados do lado de fora dos escritórios também foram incendiados.

Ao menos cinco dos principais escritórios do CPI(M) foram vandalizados na quarta-feira, inclusive sua sede estadual, o escritório da divisão do distrito administrativo de West Tripura, o escritório de um veículo de mídia porta-voz do partido e o escritório do comitê estadual do Centro de Sindicatos Indianos, na cidade de Agartala. Segundo o partido, os primeiros andares e andares térreos dos prédios foram os mais afetados. Seis veículos estacionados do lado de fora dos escritórios do partido em Agartala foram queimados juntamente com motocicletas pertencentes a partidários da esquerda.

Os limites do escritório do comitê seccional do CPI(M) em Melarmath, Agartala, foram demolidos pelos agressores, e então o prédio foi incendiado usando cilindros de gás, segundo membros do partido. O escritório na cidade de Bishalgarh, parte do distrito de Sepahijala, também foi incendiado. No total, por volta de 20 escritórios e prédios do CPI(M) em todo o estado foram vandalizados ou incendiados, disse um membro do partido, informando que a Polícia não deu ajuda, e mesmo os bombeiros foram impedidos de chegar aos locais do fogo.

Jitendra Chowdhury, membro do Comitê Central do CPI(M) em Tripura, disse que a estimativa do partido é de que pelo menos 50 de seus partidários foram feridos durante as ações violentas e mais de 30 casas pertencentes a ativistas da esquerda foram queimadas ou atacadas. Veículos de mídia reportaram que onze ativistas do BJP também se feriram.

Como a violência começou

Os confrontos eclodiram em Agartala quando funcionários do BJP organizaram uma manifestação para protestar contra suposto ataque que teriam sofrido por parte de funcionários do CPI(M) durante comício do ex-ministro chefe Manik Sarkar em Dhanpur na segunda-feira (6). Os funcionários do “partido açafrão” (alcunha do BJP) presentes no comício teriam sido os autores dos ataques aos escritórios do CPI(M) na capital do estado de Tripura.

A confusão e os rumores em torno de Dhanpur parecem ter sido a origem da violência. Segundo alguns jornalistas e o próprio CPI(M), alguns funcionários do BJP tentaram parar o comboio de Sarkar. Por sua vez, os funcionários do CPI(M) protegeram o político e alcançaram o bloqueio de Kathalia, onde ocorreria um protesto. Contudo, na quarta-feira (8), confrontos estouraram no distrito de Sepahijala, bem como em West Tripura e Gomati.

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Jitendra Chowdhury disse ao Newsclick que os embates ocorreram em Dhanpur durante a visita de Sarkar e que a violência eclodiu após o recém-indicado ministro de gabinete, Sushanta Chowdhury [sem relação com Jitendra, a pesar do mesmo sobrenome], dar uma coletiva de imprensa a partir da sede do BJP afirmando que os funcionários do partido estavam sob ataque e deveriam retaliar e resistir aos comunistas.

A onda de violência começou na quarta-feira na cidade de Udaipur, distrito de Gomati, depois que a ala jovem do CPI(M), conhecida como Federação da Juventude Democrática da Índia, fez caminhada exigindo empregos. Enquanto a CPI(M) afirma que capangas apoiados pelo BJP atacaram o comício, alguns relatórios citando a Polícia sugerem que poucos ativistas presentes durante o comício teriam supostamente atacado um ativista do BJP que estava nas proximidades; um grupo de ativistas do BJP que estava perto reagiu atacando a procissão do DYFI. Os apoiadores do CPI(M) teriam, então, retaliado levando aos confrontos e violência subsequentes no distrito de Gomati e, em seguida, em West Tripura, incluindo as cidades de Agartala e Sepahijala.

Ataques a centros de mídia

Além do escritório do Daily Desher Katha, porta-voz do CPI(M), escritórios de outros quatro centros de mídia também foram atacados em Agartala, nominalmente: PB 24, Pratibadi Kalam, Kalmer Shakti e Duranta TV. O âncora de TV Prasenjit Saha e a jornalista Partha Sarathi Deb, ambos do Daily Desher Katha, teriam sido feridos nos ataques.

Participantes da manifestação do BJP em Agartala atacaram os veículos de mídia. A Polícia informou que o evento foi realizado pelo vice-presidente estadual, Rajib Bhattacharjee, do BJP; além dele, o Times of India apurou o envolvimento de dois secretários do partido na organização dos acontecimentos: Tinku Roy e Papia Datta.

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Esquerda diz que o BJP age por medo

“Por que o BJP está com tanto medo da oposição?” Estes ataques são repreensíveis e devem parar de uma vez”, disse no Twitter o secretário-geral do CPI(M), Sitaram Yechury, compartilhando vídeo de um dos escritórios do partindo em chamas.

Em uma coletiva de imprensa na quinta-feira (9), Sarkar disse à imprensa que “Conforme o fim do atual regime chega mais próximo do fim, eles estão ficando mais distantes do povo. Isso acontece devido à sua não performance – performance zero, pois a principal questão é a falta de empregos e acesso a comida". Ele acrescentou que o BJP estava assustado porque as pessoas estavam decepcionadas com seu desempenho e a participação em massa nas manifestações e reuniões de protesto da esquerda estava aumentando.

Enquanto membros do CPI(M) disseram ao Newsclick nunca terem visto tal violência em Agartala, Jitendra Chowdhury disse que o ocorrido foi o ápice da violência que o BJP libertou sob a Esquerda desde de sua ascensão ao poder em Tripura, pouco mais de três anos atrás. Todavia, nenhum culpado foi preso nestes casos, o que garantiu impunidade aos particários do BJP, disse Chowdhury.

“Há grande insatisfação com o BJP. Eles não têm nenhum visão de futuro. Faltando apenas um no e meio para as eleições estaduais, eles estão apostando no terrorismo”, complementou.

*Com informações de Newsclick.

Edição: Thales Schmidt