Ataque da oposição

MP do Peru pede prisão preventiva do líder do partido governante por suposto crime de corrupção

Partidários realizam ato em Lima para apoiar Vladimir Cerrón, braço-direito do presidente Castillo

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Vladimir Cerrón (à dir., de camisa branca) é fundador e secretário-geral do Peru Livre, partido de esquerda do atual presidente Pedro Castillo (à esq.) - Resumen Latinoamericano

O Ministério Público do Peru pediu a prisão preventiva do secretário-geral do partido governante Peru Livre por suposto crime de corrupção. Vladimir Cerrón acusa ser vítima de lawfare - perseguição política e judicial. Os partidários de Peru Livre convocaram uma manifestação para esta quarta-feira (1) em apoio a Cerrón. 

A promotora Mary Huamán pediu 2 anos e 11 meses de detenção e inabilitação política a Vladimir Cerrón, acusando-o de desvio de fundos públicos quando governou o estado de Junín, entre 2011 e 2014.

O médico e líder do partido Peru Livre foi reeleito no primeiro turno, em 2019, no entanto foi suspenso do cargo acusado de corrupção no caso La Oroya, que em 2021 foi anulado pela justiça. Outros sete ex-funcionários também são acusados pelo MP peruano. 

A nova acusação afirma que Cerrón teria indicado pessoas de confiança a cargos chave do governo de Junín para gerenciar o orçamento de determinados projetos. Mary Huamán afirma que a irregularidade está em alterar os orçamentos de algumas obras tirando verbas de um projeto e direcionando a outro. No entanto, não apresenta provas da alegação de desvio de verbas públicas. 

"Vamos provar que o acusado emitiu uma resolução modificando o orçamento de obras, materializando o delito de malversação de fundos", declarou Huamán. 

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O partido Peru Livre convocou uma manifestação no centro de Lima contra a judicialização da política e em apoio ao seu secretário-geral. 

Desde que o Congresso outorgou o voto de confiança ao gabinete do presidente Pedro Castillo na sexta (27), aumentou a pressão contra o seu partido. No sábado (28), sedes regionais do Peru Livre foram revistadas pela polícia depois da emissão de um mandato de busca e apreensão que acusava supostas irregularidades no financiamento da última campanha eleitoral. 

Em comunicado, o partido afirma que é uma "medida desproporcional e irracional", reiterando que Peru Livre surgiu como um movimento em 2008 e só conseguiu registro eleitoral depois de quatro anos de coleta de assinaturas.

"Basta de atropelos e ameaças ao novo governo e ao partido que o sustenta. Abaixo a perseguição política", publicam.

O deputado Jaime Quito (Peru Livre) reiterou que há uma "campanha de satanização" da sua organização política logo após o governo receber apoio do Congresso e decidir pela transferência de Vladimiro Montesinos, ex-assessor do ditador Alberto Fujimori, de uma base naval a uma prisão de máxima segurança.

Montesinos foi condenado a 25 anos de prisão por crimes de lesa-humanidade durante o regime fujimorista e foi um dos personagens da direita peruana que animou um golpe de Estado para impedir a ascensão de Pedro Castillo.

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O Caso La Oroya

Há dois anos, Vladimir Cerrón havia sido sentenciado por "negociação incompatível e aproveitamento do cargo" nas obras de saneamento da região de Oroya. Segundo a acusação, a administração de Cerrón teria facilitado o contrato com a construtora Altiplano. O atual secretário-geral do Peru Livre afirmou que todas as licitações foram outorgadas com acompanhamento dos procuradores estaduais, portanto estavam de acordo com a lei.

Na época, além de perder o cargo, foi penalizado com uma multa de 850 mil soles (cerca de R$ 1 milhão) e sentenciado a 4 anos e 8 meses de prisão. Em junho deste ano, a sentença foi anulada pela justiça peruana. 

"Não existem testemunhas, documentos ou provas de qualquer outra índole que comprove que Vladimir Cerrón foi beneficiário de alguma de pagamento indevido por parte do Consórcio Altiplano, portanto a responsabilidade estabelecida sem provas implica condenar sem cumprir com o requisito da hipótese da inocência", argumenta a sentença assinada pelo juiz Alaín Salas Cornejo.

Pedro Castillo acaba de completar um mês a frente da presidência do país e já enfrenta uma série de represálias ao seu gabinete de ministros, começando pela renúncia do chanceler Hector Béjar, seguido da acusação de suposto vínculo com terrorismo do primeiro-ministro Guido Bellido, e agora a campanha contra o partido Peru Livre. 

Edição: Arturo Hartmann