Na próxima sexta-feira (27), as 67 famílias do assentamento Carlos Marighella, que fica em Congonhinhas no Paraná, realizam um grande movimento para doar alimentos à população desassistida da região.
A ação faz parte da campanha nacional de solidariedade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), mas tem um componente especial: os camponeses e camponesas celebram o direito garantido à terra em que vivem.
Após 22 anos de luta, a justiça confirmou a criação do assentamento em decisão unânime. A sentença do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) foi confirmada no dia 21 de julho. Agora, cabe ao Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) dar continuidade ao processo.
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A terra foi ocupada pela primeira vez em 1999. Na ocasião, uma primeira vistoria do Incra já havia identificado a improdutividade da área, que era chamada de Fazenda Pompéia. Ainda assim, as famílias que estavam no local foram alvo de despejo no ano seguinte.
Novas ocupações se formaram, mas foi somente em 2014 que ocorreu a imissão de posse da região, condição essencial para desapropriação e destinação à Reforma Agrária. Ainda naquele ano, a criação do Projeto de Assentamento foi publicada no Diário Oficial da União. O processo, no entanto, foi paralisado por conta de uma decisão da Justiça estadual.
José Damasceno, integrante da coordenação estadual do MST, afirma que a decisão traz um novo capítulo para as famílias da região e é fruto de um longo período de resistência e persistência. Ele ressalta que, frente à crise em que o Brasil se encontra, o significado da conquista é ainda mais profundo e reafirma a importância da reforma agrária.
"Acontece em um período crítico, de crise política e econômica, em que o governo Bolsonaro persegue os movimentos sociais, persegue os pobres e bloqueou a reforma agrária. Essa conquista tem esse significado de a gente enfrentar, mesmo em períodos adversos, em períodos difíceis. É possível avançar, é possível caminhar", afirma a liderança.
"Nesse período de muita fome e de muita miséria causadas pela crise econômica e por esse governo, a Reforma Agrária é único caminho para tirar o povo brasileiro da fome. Um campo de terra, onde famílias conseguem produzir alimento para se alimentar, fazer renda e praticar solidariedade para matar a fome dos menos favorecidos. Produção de alimentos, agroecologia, preservação da natureza, esses são os passos definitivos.", completa Damasceno.
Produção
A área oficial do assentamento é 754 hectares. Atualmente, as famílias produzem em um espaço de 179 hectares, área determinada em um acordo feito sob o processo de negociação judicial. Mesmo no espaço reduzido, a fartura e a variedade são grandes e garantem o necessário para o consumo próprio e para algumas experiências de comercialização e geração de renda.
Entre 2020 e 2021, foram colhidas 2.860 sacas de milho, 109 sacas de arroz, 72 sacas de feijão, 3,5 toneladas de mandioca, entre as diversas produções de hortaliças, como quiabo, pepino, alface, couve, abóbora, cheiro-verde e berinjela.
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A produção animal é de 140 suínos, 47 equinos e muares, 52 ovinos, 437 aves (galinhas) e 99 bovinos. Além da produção de animais para o consumo de carne, há também a criação de gado de leite, com produção média diária de 400 litros.
Além da doação de cerca de 100 cestas de alimentos, que terá participação de outras comunidades do MST, no sábado (28) haverá será comemorada a “Festa da Reforma Agrária Popular”. O espaço comunitário do assentamento vai receber um ato com representantes do Poder Público e autoridades religiosas e um almoço para todos os presentes.
Edição: Leandro Melito