No segundo dia de atividades em Pernambuco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a postura do presidente da república Jair Bolsonaro(sem partido) de estimular gestos autoritários das Forças Armadas e, ao mesmo tempo, negligenciar o combate à pandemia do coronavírus. A crítica foi feita durante entrevista coletiva aos jornalistas nesta segunda-feira (16), no Hotel Atlante Plaza, em Boa Viagem, no Recife. Ele costurou o discurso com análises sobre a conjuntura econômica do país, falando sobre o alto índice da inflação, o retorno da fome, o desmonte da indústria nacional e o aumento do desemprego.
Lula analisou o recém-criado Auxílio Brasil, uma reformulação do Bolsa Família, um dos mais respeitados programas de transferência de renda criado no primeiro mandato de Lula. Ele dispensou o caráter eleitoral da medida e afirmou que não terá o retorno esperado por Bolsonaro sobre a população nordestina, reduto eleitoral onde o líder petista sempre obteve bons resultados.
“Jamais serei contra aumentar recursos para programas sociais. Mas não basta mudar o nome. O povo vai receber o benefício e votar contra ele [Bolsonaro]. Nós do PT, inclusive, defendemos o aumento para R$600,00.", explicou.
:O que esperar do novo Bolsa Família de Bolsonaro?:
Ao falar sobre o vínculo político entre o presidente e os militares, Lula apontou que este movimento é o começo da existência de um ditador.
“Ele começa a se esconder do povo por trás de uma metralhadora, por trás de um canhão, e isso é o começo de algo ruim. Quando a gente percebe que o presidente prefere visitar um quartel , mas não tem coragem de visitar um hospital, é porque algo não está correto”, discursou o ex-presidente.
Questionado sobre uma possível interlocução com os integrantes das Forças Armadas, Lula explicou que o único momento deste diálogo acontecerá caso ele volte a ser o chefe supremo das Forças Armadas.
“Eu não tenho problemas com as Forças Armadas. Eu fico inquieto com o excesso de preocupações e o excesso de discursos sobre as questões das Forças Armadas. Primeiro, as Forças Armadas têm o seu papel definido pela Constituição. Segundo, foi no meu governo que aprovamos a estratégia que regula o funcionamento das Forças Armadas, ainda em 2010. Portanto, o que vamos fazer com as Forças Armadas é fazer com que ela cumpra o seu papel”, apontou.
Costuras políticas
Na coletiva, Lula falou pouco sobre a costura política que a sua passagem pelo estado vem movimentando. Em um trecho do discurso, mencionou que caso seu nome seja consolidado para disputa presidencial, precisará contar com uma ampla frente para derrotar Bolsonaro. Nos bastidores, corria o questionamento sobre a viabilidade de aliança local em Pernambuco com o Partido Socialista Brasileiro(PSB), aliado histórico do PT que experimenta um esfriamento na relação por causa da disputa municipal em 2020, em que o socialista João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos, derrotou a deputada federal Marília Arraes(PT), na campanha pela Prefeitura do Recife.
“O presidente Lula gosta de conversar muito e nós vamos continuar construindo. Eu estou otimista de que vamos construir um grande palanque para eleger o presidente Lula, seja com candidatura própria, seja com uma aliança com os socialistas. Em 2018, nós tivemos Paulo(Câmara) governador e Humberto Costa, senador. Nada impede que agora tenhamos Humberto governador e Paulo senador”, conjecturou o deputado federal Carlos Veras(PT-PE).
“O PSB foi muito tranquilo e reconhece que o presidente Lula tem um trabalho muito bom para Pernambuco e se apresenta como um quadro com grande potencial e que o PSB vai se somar com estas forças que estão unidas para derrotar o bolsonarismo. Portanto, eu avalio que o PSB tem essa leitura muito clara que o melhor para o Brasil é o presidente Lula. É claro que, talvez, no primeiro turno possa haver dois palanques. Mas seguiremos construindo. Não tem nada decidido. Tudo é possível”, afirmou Doriel Barros, deputado estadual e presidente estadual do PT em Pernambuco.
Após a entrevista, o ex-presidente Lula também se reuniu com lideranças de partidos que estão mais posicionados ao Centro e, em âmbito nacional, alinhados ao presidente Bolsonaro, a exemplo do Republicanos, PSD e o PP, numa comunicação que trata da composição da chapa em 2022 no estado.
Agenda no nordeste
Nesta segunda-feira (16), o ex-presidente Lula visitou o assentamento Che Guevara, do MST, na cidade de Moreno, região metropolitana do Recife, para conhecer as experiências de cultivo da reforma agrária e a campanha Mãos Solidárias, que tem doado toneladas de alimentos nesta pandemia para famílias em situação de insegurança alimentar em todo o estado, numa iniciativa que une o movimentos populares, universidades e a Igreja Católica.
Na véspera, no domingo(15), o líder petista se reuniu com parlamentares, dirigentes partidários e representantes dos Movimentos Populares para uma análise política do estado. Agora, ele segue com compromissos no Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia.
Edição: Anelize Moreira