Um médico que defende o Sistema Único de Saúde (SUS) e as políticas públicas de atenção primária implementou técnicas humanizadas no Hospital de Campanha de Ribeirão Pires, estado de São Paulo. Malek Imad, percebeu que a covid-19 era mais do que uma doença infecto-contagiosa, ela afetava também o emocional de pacientes e familiares, sobretudo, nos primeiros meses da pandemia.
Assim, as práticas desenvolvidas pelo médico e sua equipe, de forma experimental, tiveram como objetivo colocar o paciente em primeiro plano, isso por que ele afirma que somos erroneamente acostumados a ver a dor, somente, no plano material.
"A pandemia veio para mostrar que precisamos entender esse paciente para cuidar dele tanto fisicamente quanto psicologicamente. A covid-19 nos trouxe a dor do desconhecido, a dor de partir e a dor do: Para onde estou indo quando sou infectado com essa doença? Precisamos acolher o paciente antes de acolher a doença", resume.
:: Trinta anos: SUS resiste a desafios estruturais, desmonte do governo e pandemia ::
A metodologia surgiu no momento em que o médico, que também é especialista de Gestão em Saúde, com pós-graduação em Medicina de Urgência e Emergência, notou que a angustia e a ansiedade pioravam o quadro dos pacientes internados, uma vez que a pessoa infectada sofria ao pensar na possibilidade de morrer.
Assim, com base na história de vida e na crença de cada paciente, diversas iniciativas foram desenvolvidas, desde a simples confecção de origamis para uma paciente de nacionalidade japonesa, até um altar com os símbolos de diversas religiões, tudo no intuito de levar esperança de vida para as pessoas que contraíram a doença.
Opinião: Defender o SUS é defender a vida
Outra forma de levar esperança aos pacientes foi construir a chamada "árvore da vida", um local em que os pacientes que recebiam alta colocavam seus nomes. Imad conta que a árvore é um símbolo de nascimento e renascimento e que a covid-19 é doença pulmonar na qual é importante ter uma respiração mais tranquila.
"Muitos pacientes com muita ansiedade e angústia foram entubados, porque piorava o quadro e a gente tentava melhorar da outra forma. Infelizmente não tem medicação para covid. Há um tratamento e com esse tratamento você tem a melhora, porque tem como controlar a doença com anticoagulantes e às vezes antibiótico para infecções sobrepostas, mas também existe aquele lado mais humano, aquele lado de acolhimento e fazer com que a gente seja a família daquele paciente", diz.
Além dos pacientes, o atendimento humanizado chegou aos familiares de quem tinha um ente querido acometido pela covid-19.
"Nós criamos a visita do médico com a família para conversar e tentar esclarecer as suas dúvidas deles. Começamos também a colocar uma psicóloga com a gente e ela começou a acalmar as famílias. Percebemos que tem um lado da medicina que não abordamos, que é o acolhimento da família".
Além do atendimento humanizado, Malek Imad criou ainda o primeiro ambulatório pós-covid não atrelado a universidades — tanto a Unicamp como a USP têm um ambulatório de estudos. A ideia surgiu depois que ele ficou com sequelas depois de ser infectado: "Eu esquecia as coisas e também tinha dificuldades para respirar".
O local atende e encaminha o paciente recuperado, mas que ficou com sequelas, para especialidades específicas. "Tem a questão da queda de cabelo, do lapso de memória recente, da recuperação pulmonar. Nós trabalhamos junto a fisioterapeutas, pneumologistas, entre outros", explica o médico.
Edição: Rebeca Cavalcante