Os ataques da cúpula do governo de Jair Bolsonaro à imprensa, e especialmente às jornalistas mulheres, se tornaram uma das principais marcas da gestão bolsonarista. Nessa sexta-feira (9), a jornalista Juliana Dal Piva, do UOL, recebeu uma mensagem com tom de ameaça do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef.
A repórter acaba de publicar uma série de reportagens em que traz revelações sobre o esquema de entrega de salários de ex-funcionários (crime conhecido como “rachadinha”), de Bolsonaro, enquanto o presidente ainda era deputado. Wassef afirmou na mensagem enviada por WhatsApp que, se seu trabalho fosse em outro país, “desapareceria e não iriam nem encontrar o corpo”.
Para a presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, Bolsonaro é o protagonista do avanço destes ataques.
"O presidente Jair Bolsonaro é individualmente o principal agressor à categoria dos jornalistas e a veículos de comunicação. Como sua postura não é espontânea e, sim, pensada taticamente para descredibilizar a imprensa, membros do seu governo, seus familiares e pessoas próximas (entre elas o advogado da família), são incentivados a também fazerem o mesmo", afirmou à reportagem do Brasil de Fato, a presidenta da Fenaj
A postura do presidente nas aparições públicas e nas redes sociais legitimam esse tipo de ataque, que dessa vez foi feito de forma privada pelo advogado, é o que aponta uma nota divulgada pela Fenaj.
“Não aceitaremos que o presidente e seus apoiadores sigam ameaçando jornalistas e colocando suas vidas em risco. Exigimos dos órgãos responsáveis imediata apuração da ameaça e proteção à jornalista. Cobramos também da Comissão de Ética da OAB instauração de procedimento disciplinar contra o referido advogado. Basta de ameaças às jornalistas, à imprensa, ao livre exercício do jornalismo e à liberdade de expressão, pilares de qualquer Estado Democrático." expõe a nota divulgada pela Federação.
Na manhã deste sábado (10), o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, afirmou que determinará que a corregedoria da entidade "apure o fato ocorrido e tome as medidas necessárias".
Em mais um episódio recente, durante uma entrevista em Guaratinguetá (SP), Bolsonaro mandou uma jornalista da Rede Vanguarda, afiliada da Rede Globo, “calar a boca” quando foi questionado sobre não usar máscara.
De acordo com o Relatório Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, produzido pela Fenaj, no ano de 2020, a violência contra esses profissionais cresceu 105,77%. Para a federação, este aumento expressivo dos ataques está ligado à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência e ao aumento do bolsonarismo no país.
Além de serem contrários à noção de liberdade de imprensa, os ataques também tem uma motivação machista, analisa Maria José. "As agressões têm um caráter misógino quando se trata de jornalistas mulheres. Nesses casos, ele e seus seguidores expressam todo o preconceito, o machismo e o sexismo que cultuam", aponta.
Edição: Mauro Ramos