Extremismo

Filipe Martins, assessor de Bolsonaro, vira réu por racismo após gesto supremacista

Discípulo de Olavo de Carvalho foi denunciado no último dia 8 pelo MPF; Justiça acatou a acusação nesta terça-feira

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Filipe Martins e o gesto que gerou revolta, por sua identificação com supremacistas brancos - Reprodução/TV Senado

Após fazer um gesto supremacista branco durante uma sessão do Senado, em 24 de março, Filipe Martins, assessor do presidente Jair Bolsonaro para assuntos internacionais, virou réu por racismo na última terça-feira (22). Ele foi denunciado no último dia 8 pelo Ministério Público Federal (MPF).

De acordo com o juiz federal Marcus Vinícius Reis Bastos, da 12ª Vara de Justiça Federal do Distrito Federal, "a denúncia se fez acompanhar de documentos que lhe conferem verossimilhança". O magistrado que aceitou a acusação citou o relatório policial, um laudo pericial e vídeos da cena como os indícios de crime que basearam sua decisão.

O assessor vai responder por ter praticado e induzido discriminação e preconceito de raça e pode até ser condenado à prisão. Ele também pode ter que pagar multa de R$ 30 mil e perder o cargo público.

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Na data dos fatos, Martins estava em uma audiência e aparecia na TV Senado, atrás do presidente da Casa, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), quando fez um gesto de “OK” com as mãos, mas com três dedos retos, em forma de W. Junto com o formato que se faz com o indicador e o polegar (conforme se vê na foto acima), o gesto imita as letras W e P com os dedos, significando White Power, ou "Poder Branco", em português.

 O gesto é classificado pela Liga Antidifamação (ADL), entidade com sede nos Estados Unidos que combate o antissemitismo, como forma de identificação entre supremacistas brancos.

Em suas redes sociais, o Museu do Holocausto criticou o gesto: “Pesquisas acadêmicas, como da antropóloga Adriana Dias, mostram crescimento no número de células neonazistas e no engajamento de integrantes no Brasil. O Museu do Holocausto, consciente da missão de construir uma memória dos crimes nazistas que alerte a humanidade dos perigos de tais ideias, reforça que a apologia a este tipo de símbolo é gravíssima. Nossa democracia não pode admitir tais manifestações.”

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Na época do suposto crime, Martins foi ofensivo ao se defender em suas redes sociais. “Um aviso aos palhaços que desejam emplacar a tese de que eu, um judeu, sou simpático ao 'supremacismo branco' porque em suas mentes doentias enxergaram um gesto autoritário numa imagem que me mostra ajeitando a lapela do meu terno: serão processados e responsabilizados; um a um.”

Já o Ministério Público argumentou - em tese que a Justiça julgou plausível - que "Filipe Martins tem padrão de comportamento de difusão de ideias ou símbolos extremistas".

A procuradoria colecionou na ação penal mensagens publicadas pelo assessor de Bolsonaro em redes sociais com frases, citações e referências histórias a "militantes racistas e assassinos", para concluir:

"Não é verossímil nem casual que tantos símbolos ligados a grupos extremistas tenham sido empregados de forma ingênua pelo denunciado, ao longo de vários meses em que ocupa posição de poder na estrutura da administração pública federal, nem que sua associação a grupos e ideias extremistas tenha sido coincidência em tantas ocasiões", afirmaram os procuradores.   

Filipe Martins responderá ao processo penal em liberdade. O presidente Jair Bolsonaro não se pronunciou.

Edição: Vinícius Segalla