Os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden e da Rússia, Vladimir Putin se reuniram nesta quarta-feira (16), pela primeira vez desde que iniciou a gestão democrata, para debater as relações bilaterais de ambos países que estão "no seu ponto mais fraco desde a Guerra Fria".
Os dois chefes de Estado decidiram oferecer declarações à imprensa separadamente, logo depois da reunião de cerca de quatro horas em Genebra, Suíça.
Um dos primeiros anúncios do governante russo foi o retorno dos seus embaixadores a Washington e dos homólogos estadunidenses a Moscou nos próximos dias. Os funcionários russos haviam sido expulsos e sancionados pela Casa Branca, em abril.
Putin afirmou que este é um assunto técnico, mas logo em seguida abrirão uma agenda diplomática bilateral. "Há muitos assuntos pendentes, mas ambas partes estão dispostas a encontrar soluções", declarou o chefe de Estado.
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Já Joe Biden disse que cumpriu com o que queria. "Comuniquei ao presidente Putin que precisamos estabelecer algumas regras básicas para seguir nossa relação", destacou que sua agenda não é contra a Rússia, mas em defesa do povo estadunidense.
Cibersegurança
Parte das tensões entre Biden e Putin tem origem ainda nas eleições de 2015, quando os democratas derrotados pelos republicanos acusaram o governo russo de manipular redes sociais e dados pessoais de eleitores estadunidenses para garantir a vitória de Donald Trump.
Apesar de o "Russia gate" abrir uma investigação no Congresso estadunidense, até o momento não foram apresentadas provas da relação da gestão Putin com a campanha eleitoral trumpista.
Por outro lado, o Kremlin denuncia que a maioria dos ataques cibernéticos registrados no seu país são provenientes dos EUA e do Canadá.
Putin destacou que o assunto é de importância integral, no entanto, primeiro devem ser descartadas "todo tipo de insinuações".
"Devemos ter expertise para trabalhar pelos interesses dos Estados Unidos e da Rússia. Estamos preparados para isso", afirmou.
Ameaças militares
Em fevereiro, a Rússia e os Estados Unidos prorrogaram por cinco anos o novo tratado START, que limita o número de ogivas nucleares e limita o lançamento de mísseis e bombardeiros terrestres e submarinos.
Ambos os lados haviam dito antes da cúpula que esperavam relações mais estáveis e previsíveis, embora estivessem em evidente desacordo.
Durante a 31ª Cúpula do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o chefe da Casa Branca discutiu com seus pares uma nova estratégia militar para os próximos dez anos que identifica a Rússia e a China como ameaças globais. A Agenda 2030 da Otan também inclui os ciberataques e mudanças climáticas como riscos à segurança mundial.
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Ao terminar a reunião, o presidente dos EUA disse que puderam debater detalhes sobre a criação de mecanismos para evitar o surgimento de armas mais perigosas.
Biden também já havia declarado que "não busca um conflito com a Rússia, mas responderia se os russos mantivessem sua influência sobre a Ucrânia", país aliado da Otan.
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Putin assegurou que ambos acataram que as tensões com a Ucrânia devem ser trabalhadas seguindo os Acordos de Minsk que, entre outras medidas, prevê a realização de eleições nas duas repúblicas populares da região de Donbás e o fim da militarização da fronteira.
Quem dá mais?
Para analistas internacionais, Washington tem muito mais a negociar que Moscou, começando pelo apoio do governo russo às negociações para retomar o Acordo Nuclear com Irã. Também à retirada de tropas militares estadunidenses do Afeganistão, e a resolução da guerra na Síria.
Putin salientou que, apesar das hostilidades anteriores, o encontro foi construtivo. "Nosso encontro focou em determinados princípios. É claro que temos diferentes opiniões, mas de todo modo, ambas partes demonstraram o desejo de entender-se e encontrar formas de convergir posições", declarou o chefe de Estado russo.
Já o chefe da Casa Branca voltou a acusar o presidente russo de desrespeitar os direitos humanos de Alex Navalny, líder opositor preso de maneira preventiva. E ainda ameaçou, dizendo que se Navalny fosse morto na prisão "haveria consequências devastadoras para a Rússia".
Edição: Leandro Melito