Entrevista

Aldo Rebelo: “Bolsonaro não tem liderança para uma aventura contra a democracia”

Ex-ministro está lançando seu novo livro O Quinto Movimento-Propostas para uma Construção Inacabada pela Já Editores

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo fala sobre o papel e o comportamento das Forças Armadas no governo Bolsonaro - Divulgação

Ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo está lançando seu novo livro, "O Quinto Movimento- Propostas para uma Construção Inacabada" (Já Editores/Porto Alegre).

Nas suas 252 paginas percorre os 521 anos de  história do Brasil desde o desembarque da frota de Pedro Álvares Cabral. Trata de economia, Amazônia, povos indígenas, educação, desigualdade, diplomacia e outros temas, entre eles o papel e o comportamento das Forças Armadas. É sobre este último tema que respondeu as perguntas enviadas pelo Brasil de Fato RS.

Confira na entrevista: 

Brasil de Fato: No seu livro, O Quinto Movimento, o senhor divide a história do Brasil em cinco partes com a quinta tratando da “construção inacabada” do país. Não está sendo otimista demais em relação ao Brasil, na medida em que, agora, o país não vive uma época de construção, mas um processo de destruição em várias frentes – meio ambiente, ciência, indústria, direitos, soberania, diversidade, etc. - operado pelo atual governo?

Meu livro procura alcançar períodos longos da construção nacional e o atual governo é apenas um lapso de desorientação na história de nossa Pátria. A destruição dos dias atuais será corrigida por um governo que tenha compromissos com a retomada do desenvolvimento, com a redução das desigualdades que voltaram a crescer no Brasil, e com o esforço persistente de construção de uma democracia verdadeira, profunda e duradoura.

O senhor foi ministro da Defesa no governo Dilma e, portanto, lidou bastante com o generalato. Outro ex-ministro da mesma pasta, Raul Jungmann, classificou como “indefensável” e “um incentivo à anarquia” a não-punição do general Eduardo Pazuello após participar de comício com Jair Bolsonaro. Qual sua avaliação do episódio?

O episódio da impunidade do general Pazuello expõe um momento de fraqueza das lideranças das instituições militares no Brasil. Disciplina é um valor que não pode ser relativizado: ou vale para todos ou para ninguém. Não se pode exigir a disciplina do soldado, do cabo e do sargento se ela não é exigida principalmente do general. A impunidade do general Pazuello é um habeas corpus para qualquer ato de indisciplina nas Forças Armadas com as graves consequências que tal situação pode representar.

Bolsonaro teria levado até 7 mil militares para a estrutura do Executivo federal. Caso seja derrotado em 2022, como o vencedor irá lidar com isso na hora de se livrar de tamanha carga? 

Bolsonaro levou militares da reserva, com uma ou outra exceção, para o governo. É tradição no Brasil todo governo que se inicia selecionar pessoas de confiança para ocupar determinadas funções e o próximo governo não fará diferente, ou seja, certamente substituirá os atuais ocupantes dessas funções por outros de sua confiança.

Não caberia ao Congresso estabelecer uma regra mais rígida para coibir a presença de militares na administração pública? A ausência de tal regramento não é uma ameaça à democracia?

Creio que está em curso uma Emenda à Constituição proposta pela deputada Perpétua Almeida (PCdoB/AC) estabelecendo regras mais rígidas para a ocupação de funções civis por militares da ativa, e ao que fui informado as chances de aprovação são muito grandes.

São cada mais frequentes os atropelos à lei, as violências e chacinas praticadas pelas polícias militares, sobretudo a PM carioca. Para muitos observadores, tais forças foram empoderadas pelo bolsonarismo e poderão ser por ele usadas futuramente. Como controlar a violência das PMs?

O atual presidente da República estimulou o ambiente de violência vivido pelo país, embora ele próprio tenha sido vítima dessa circunstância. As ameaças contra adversários proferidas nos palanques e os gestos de incentivo ao uso de armas naturalmente contribuíram para a ampliação da violência em toda a sociedade e nas organizações policiais.

É crescente na opinião pública o sentimento de que Bolsonaro, uma vez derrotado em 2022, não aceitará a derrota e tentará um golpe, seja alegando fraude – no modelo Trump – seja apelando simplesmente à força das armas. O senhor teme a repetição de algo como a invasão do Capitólio nos EUA? 

Não creio em qualquer possibilidade de sucesso por parte do atual presidente da República em tentar um ato de força contra as instituições democráticas. Não há ambiente no Brasil e nem Bolsonaro reúne autoridade e liderança para uma aventura desta natureza. No máximo prosseguirá com arengas e ameaças fruto de seus devaneios autoritários e de sua profunda insegurança diante do grande desafio de governar o Brasil.

Como pessoa que conviveu com ele na Câmara, qual sua avaliação do deputado Bolsonaro, que durante 28 anos esteve no Parlamento com resultado pífio? 

O mandato de Bolsonaro era o de líder sindical dos chamados graduados das Forças Armadas, dos não oficiais, o que gerava distância e desconfiança nos comandos das instituições militares. 

Continua acreditando na “profissão de fé democrática” das Forças Armadas ou está mais cético?

A destituição do ministro da Defesa e dos três comandantes militares por parte do presidente da República parece indicar que, pelo menos naquele momento, essas instituições se negaram a oferecer qualquer tipo de respaldo ao envolvimento das Forças Armadas nas manipulações políticas dos governantes. O estímulo de Bolsonaro à indisciplina nas Forças Armadas não parece encontrar grande respaldo no seio dessas instituições.


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Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko