Ultrapassada por Pedro Castillo (Peru Livre) na reta final da apuração dos votos da eleição peruana, a candidata Keiko Fujimori (Força Popular) lançou sua última cartada na noite desta segunda-feira (7): disse que não aceitará uma eventual derrota alegando, sem qualquer prova, uma fraude eleitoral.
A Missão de Observadores da União Interamericana de Organismos Eleitorais (UNIORE) reconheceu que o pleito do dia 6 foi realizado de maneira correta e exitosa, de acordo com os padrões nacionais e internacionais.
Filha do ditador Alberto Fujimori (1990-2000), a representante da direita tenta pela terceira vez chegar à Presidência. Até 94% das urnas apuradas, Keiko aparecia em primeiro lugar.
A vantagem em relação a Castillo, porém, diminuía a cada atualização do órgão eleitoral. O que explica a curva ascendente do candidato de esquerda é sua alta popularidade em comunidades rurais distantes dos grandes centros urbanos, que são as últimas as serem contabilizadas na apuração.
Keiko Fujimori pede que seus eleitores relatem e enviem aos organizadores de sua campanha quaisquer indícios de manipulação eleitoral ou fatos atípicos ocorridos durante a votação.
No momento, cerca de 97% das urnas foram apuradas, e a vantagem de Castillo é de quase 100 mil votos, quase meio ponto percentual. A direita peruana que ainda não adere à narrativa de fraude agora aposta suas fichas nos eleitores fora do país, onde Fujimori deve vencer com ampla vantagem.
Nos EUA, por exemplo, só 40% das urnas foram apuradas, e Keiko já abriu 80 pontos percentuais de vantagem. O problema, para a direita, é que o universo de eleitores no país não é tão significativo: apenas 32.768 foram às urnas, de um total de 109.507 aptos a votar.
Velha história
Ao denunciar uma suposta fraude à imprensa, Keiko Fujimori repete um gesto que vem se tornando marca registrada da direita no continente: questionar o resultado das urnas em caso de derrota.
Foi assim em quatro eleições na Venezuela, com Hugo Chávez e Nicolás Maduro. No Brasil, em 2014, parte da base de apoio de Aécio Neves (PSDB) fez o mesmo diante da reeleição de Dilma Rousseff (PT) e trabalhou para impedir sua governabilidade.
O caso mais recente, e com mais graves consequências, foi na Bolívia, em 2019, quando a Organização dos Estados Americanos (OEA) "comprou" a narrativa da fraude e chancelou um golpe de Estado, abrindo caminho para massacres, perseguições e para o exílio de Evo Morales, candidato mais votado. Após um ano, ficou demonstrado que o estudo da OEA que legitimou o golpe era falho, e que a hipótese de fraude não se sustentava.
Edição: Daniel Giovanaz