Pandemia

Artigo | Sete motivos para ser contra a realização da Copa América no Brasil

O presidente que demorou 8 meses para responder 40 e-mails da Pfizer, em 10 minutos, respondeu à CONMEBOL positivamente

Campina Grande-PB |
Nesta foto de arquivo, tirada em 07 de julho de 2019, jogadores do Brasil levantam o troféu após vencer a Copa América - Luis Acosta / AFP

No último domingo, a Argentina anunciou a não realização da Copa América no seu território. O motivo central do cancelamento foi o aumento no número de casos e de mortes em decorrência da covid-19.

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Lembrando que a outra sede inicial da Copa América seria a Colômbia, porém, por conta dos protestos do povo colombiano contra o governo de direita e neoliberal de Ivan Duque, ela também abriu mão da competição.

1)    Não poderia começar de outra forma, contextualizando o cenário que estamos vivendo em decorrência da covid-19. O Brasil se encontra, hoje, batendo o seu próprio recorde com 92.115 novos casos e  com 467,7 mil vidas perdidas graças ao governo genocida de Bolsonaro. Só nas últimas 24 horas, morreram no Brasil 2.390 pessoas por conta da covid-19. Esses não são apenas números, são vidas ceifadas. É como se caíssem 33 aviões da “Chape” por dia. 

2)    Os números apresentados acima são para ilustrar o verdadeiro cemitério que tem se tornado o Brasil desde o início da pandemia. Estamos nessa situação por conta da atuação genocida de Bolsonaro, o presidente que demorou 8 meses para responder 53 e-mails da Pfizer e, em 10 minutos, respondeu à Conmebol acenando positivamente para a realização do evento no nosso território. 

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É importante entender que, diante da sangria que Bolsonaro vem sofrendo em relação à CPI da Covid, somada à pressão que começa a vir das ruas, Bolsonaro decidiu apostar e afrontar tanto a CPI quanto a sociedade brasileira ao realizar a Copa América no Brasil. Toda essa afronta e aposta do governo, na verdade, é um deboche com a população brasileira, que acabará por ser a principal prejudicada.

3)    A Copa América tem sido um torneio de pouca relevância. Nos últimos tempos, tem existido apenas para satisfazer os interesses da indústria do futebol. Nesta edição, é evidente que o interesse comercial iria se sobrepor à vida, dado que quem irá transmitir essa Copa Covid será o Sistema Brasileiro de Televisões – SBT. Sabemos que Sílvio Santos tem uma relação muito íntima com Bolsonaro, já que o seu genro, Fábio Faria (PSD-RN), é ministro das Comunicações do governo genocida.

4)    Neste momento, o Brasil representa um perigo real às demais nações do mundo, uma vez que, na contramão de boa parte do planeta, o país tem um processo de vacinação muito lento e os casos não param de crescer, além de não sabermos qual o real impacto que essa nova variante do SARS-CoV-2 gerada na Índia pode causar aqui. Ademais, a comunidade científica brasileira vem afirmando que o país passará por um mês de junho difícil e que a tal da “terceira onda” chegará neste mês. 

Junto a isso, sabemos que a estratégia do governo, desde o início, é a tal da imunidade de rebanho. Isso, por si só, é extremamente problemático, mas se complexifica quando existe um evento de caráter internacional, por conta da circulação de várias pessoas no território. 

5)    Essa competição já estava fadada ao fracasso desde quando a Colômbia (sede inicial) afirmou que não existia possibilidade para sua realização por conta da série de protestos que acontecem contra a reforma tributária do governo neoliberal de Ivan Duque, conduzidos por setores estudantis, indígenas e sindicatos. 

6)    Os estados que decidiram apoiar a realização da Copa Covid-19 foram Mato Groso, Goiás, Rio de Janeiro e o Distrito Federal. Vale salientar que esses estados são de governadores filiados a partidos da base de Bolsonaro. 

Exemplo: Ronaldo Caiado, que é do DEM, mesmo partido de Marcos Rogério (advogado de Bolsonaro na CPI) e é governador do estado do Goiás. No início da pandemia, criticou Bolsonaro pela forma como o genocida presidia o país frente à crise sanitária, mas, nos últimos tempos, se reaproximou de Bolsonaro e até disse que ele era “simples, corajoso e determinado”. Queria dizer para Caiado que o povo brasileiro não pode afirmar o mesmo. 

No Rio de Janeiro, poderíamos muito bem dizer que não tem governador, portanto, não adiantaria falar nada; entretanto, as decisões e ações de Cláudio Castro afetam diretamente a vida de vários cidadãos cariocas. Cláudio filiou-se há poucos dias ao PL, partido do Senador Jorginho Mello, o defensor incontestável de Bolsonaro na CPI da Covid.

7)    Se, depois desses pontos, você ainda for favorável à realização da Copa América em território brasileiro por conta da ocorrência do campeonato brasileiro ou dos campeonatos estaduais, a primeira coisa que devemos ter em mente é que um erro não justifica o outro.

Segundo, que jogadores de seleções que vão participar do campeonato são contrários à realização do evento, como Agüerro (atacante da seleção argentina), Viña (uruguaio, lateral do Palmeiras), Arrascaeta (uruguaio, meia do Flamengo) e Luiz Suárez (atacante do Atlético de Madrid e da seleção uruguaia).

Os sete pontos escolhidos é uma evidente referência ao fatídico 8 de julho de 2014, quando, no Mineirão, o Brasil perdia de 7 x 1  e a Alemanha passava com o carro por cima da dignidade brasileira. Naquele dia, muitas pessoas diziam que aquilo ali era a maior vergonha que o Brasil tinha passado perante o mundo. Sete anos depois, temos na cadeira da Presidência um genocida que faz o 7 x1 ser “fichinha” ou nada perto do que estamos passando todos os dias.

*Ítalo Sochin é historiador e mestrando em História pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Fonte: BdF Paraíba

Edição: Heloisa de Sousa