O corpo do arquiteto e artista Luiz Felipe Bernardes dos Santos, conhecido como Macalé, de 36 anos, foi encontrado às 3h20 da madrugada do último domingo (30), no vão do Viaduto Sumaré.
Para a Polícia Militar, trata-se de suicídio e é essa a causa da morte apontada no Boletim de Ocorrência. Porém, a tese é refutada por amigos e pela companheira do jovem, que pedem que o caso seja investigado.
Patrícia Brasil, sua companheira, afirma que Macalé estava em um bom momento na vida e que não tinha motivos para se matar. “Nossas últimas conversas no Whatsapp, todas mostram ele animado e feliz, me mostrando as imagens dos lugares que ele passou, me mandando fotos. Em nenhum momento ele pareceu triste, como se fosse fazer algo contra ele mesmo.”
O educador Sócrates Magno esteve com Macalé na noite que antecedeu a morte do arquiteto. “Falamos a semana inteira, eu fui convidado para um projeto de humor e queria que ele me ajudasse. No sábado estávamos juntos no bar, ele estava bem. Ele nunca teve pensamentos suicidas e não havia motivos para isso”, explica o amigo.
Noite no bar
Em toda a história, há buracos que precisam ser resolvidos por uma investigação. Recolhendo informações com as pessoas que passaram as últimas horas com Macalé, é possível saber que no sábado (29), ele saiu para encontrar os amigos em um bar na região da Consolação, por volta de 19h30.
No mesmo horário, havia uma manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que interrompeu o trânsito na região da Consolação e da avenida Paulista e fez com que o arquiteto descesse do ônibus para caminhar até o estabelecimento, onde seus amigos já estavam.
Após 21h, o bar fechou, em respeito ao decreto que vigora em São Paulo e que determina o horário de funcionamento de estabelecimentos no período da pandemia e Sócrates foi embora para sua casa. Foi então, que Macalé seguiu para outro boteco, que aceitava clientes após o horário permitido.
Por lá, ficou até 1h35 da madrugada, quando seguiu em um carro chamado via aplicativo para sua casa, no bairro da Água Branca, na zona oeste de São Paulo. Os dados da corrida mostram que Macalé chegou em sua residência 1h53, de acordo com Alexandre Santos, primo do arquiteto.
Santos, que também é vizinho de Macalé, mora nos fundos da casa, está com o celular do arquiteto. “No Uber acusa que ele veio para cá. Mas eu não consigo te ajudar em nada, porque moramos no fundo. O que supostamente aconteceu aqui dentro, a gente não sabe. Se ele realmente veio aqui, se foi ele que esteve aqui. Só recebemos o telefonema depois do ocorrido.”
Patrícia Brasil foi dormir após 1h11 da madrugada, horário de sua última troca de mensagens com Macalé, que a informou que já estava de partida do bar. Às 3h57, a Polícia Militar tentou contato com ela, para informar a morte do arquiteto, mas a ligação não foi atendida.
“Eu mandei uma mensagem para o Macalé logo cedo, para falar do livro que estou lendo, ele que me deu. Mas ele já estava morto. O primo do Macalé, Alexandre, foi quem me ligou por volta de 12h, dizendo que o Macalé não tinha voltado para casa. Aí, retornei para o número que me ligou de madrugada, já era 13h e o telefone era da polícia, me informaram da morte”, lembra Brasil.
Casa revirada
O que intriga a companheira e os amigos é o que ocorre após a chegada de Macalé em sua casa. De acordo com Alexandre Santos, o primo, e Brasil, a mochila que o arquiteto usava naquela noite e madrugada, estava no seu quarto, ao lado de sua máscara e uma garrafa de água.
Os objetos largados no quarto confirmam que Macalé teria passado na casa. Porém, suas roupas estavam reviradas, um notebook desapareceu, assim como o anel de formatura do arquiteto.
Macalé saiu com vida da casa? Se saiu com vida, para onde estava indo? Havia alguém com Macalé, após às 2h, quando ele teria saído novamente de casa? A única testemunha do caso, um ciclista que passava embaixo do viaduto quando o corpo de Macalé caiu, não foi identificada pela Polícia Militar. Ele se jogou ou foi empurrado do alto da ponte? São perguntas que somente uma investigação poderá responder.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que "o caso é investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo 23º DP (Perdizes). Todo trabalho de polícia judiciária é realizado para esclarecer as circunstâncias dos fatos. Os familiares estiveram na unidade e conversaram com a autoridade policial responsável pela investigação."
Edição: Leandro Melito