"Eu morava de aluguel em Itaquera, mas como cortaram o auxílio no final do ano, vim eu e os meus seis filhos para a ocupação. Tentei, mas não consegui o benefício de volta. Disseram que tiveram que cortar bastante gente e não fui contemplada."
Marta* é uma das trabalhadoras que foram à avenida Paulista, em São Paulo, neste sábado (29), para exigir do governo Jair Bolsonaro a volta do seu auxílio emergencial. Apesar de ter sido oficialmente retomado em 6 de abril, após uma interrupção de 96 dias e com um valor bem menor, o benefício não retornou para todos os que dele precisam.
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Auxiliar de faxina em uma loja, ela perdeu o emprego durante a pandemia. No primeiro semestre de 2020, conseguiu manter um teto para os filhos com os R$ 1200 mensais de auxílio pagos a famílias uniparentais chefiadas por mulheres.
Depois, quando o governo reduziu o repasse para R$ 600, ela apertou o cinto e fez milagre. Porém, depois que o governo interrompeu o benefício, no dia 31 de dezembro, não teve jeito. Veio parar na ocupação "Carolina Maria de Jesus", localizada no Jardim Iguatemi, extremo leste da capital paulista.
O local foi batizado em homenagem à escritora pobre e negra, que viveu entre 1914 e 1977, autora do clássico "Quarto de Despejo", que retratou a difícil vida na favela. As mais de três mil famílias que reivindicam o terreno estão ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Apesar de morar em um barraco de lona de uma ocupação em um terreno, ela diz que não teve direito à nova rodada de ajuda do governo.
"Disseram que eu não estava dentro dos padrões. Me reescrevi de novo e deu 'não aprovado'. Estou sobrevivendo com doações da igreja e da ocupação", afirma.
'Se tiver outra manifestação, vou de novo' Situação semelhante é da coordenadora da ocupação, Claudia Rosane Garcez. "Eu estava empregada quando começou a pandemia. Perdi o emprego. Recebi o auxílio dos R$ 600 e continuei pagando o aluguel. O dinheiro, claro, não dava para tudo, então eu ainda fazia um 'corre' para pagar água, luz e comida", explica.
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"Mas quando acabou dezembro, não tinha mais auxílio. Tive que morar de favor. Antes de vir para cá, estava em outra ocupação na Cidade Tiradentes. Até que fizemos a 'Carolina' no dia 14 de maio."
De acordo com Claudia, ela vem tentando obter de volta o auxílio desde abril, mas não consegue. Primeiro, teria sido uma falha no cadastro. Depois, no "Caixa Tem", o aplicativo do banco. Ela diz que foi à agência, mas que não há novidades. "Tenho o direito, mas não consigo receber. Na fila da Caixa, você pega cinco horas de sol e não resolve. Estou sobrevivendo com doações de roupas e cobertas e comendo na cozinha comunitária", conta.
A coordenadora também foi à avenida Paulista protestar. Há outras mães na ocupação que estão nas mesmas condições e também foram à manifestação de sábado pedir a volta e o aumento do valor pago de auxílio emergencial.
"Não é fácil ir morar debaixo da lona. Companheiros que ajudavam aqui na comunidade adoeceram por conta do frio. Um deles está intubado, não por covid, mas por pneumonia mesmo", afirma Claudia.
A coluna pediu informações sobre o que o Ministério da Cidadania vem fazendo para solucionar esse tipo de negativa e assim que receber uma posição atualizará este texto.
A primeira leva do auxílio emergencial pagou R$ 600 ou R$ 1200 mensais, a segunda, R$ 300 ou R$ 600, e a terceira, R$ 150, R$ 250 e R$ 375 - este último valor para mães que chefiam famílias sozinhas. A de Marta tem quatro filhos biológicos de 19, 17, sete e dois anos e dois adotados, de oito e sete anos.
"Os dois adotados sofriam abuso sexual do pai. E os tios das crianças não queriam ficar com eles. Apesar de não ter relação com a família, pedi e consegui a guarda definitiva", revela. Diz que se Deus colocou as crianças em seu caminho, é porque ela tem uma obra a ser feita.
"Se eu estivesse recebendo os R$ 375 a que tenho direito, seria mais fácil. Por isso, estive na manifestação da Paulista. E, se tiver outra, vou de novo", diz.
(*) O nome foi trocado por conta dos filhos em situação de vulnerabilidade