O gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, não foi recebido pelo ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em sua única visita à sede da pasta em Brasília em 2020. Em 22 de dezembro do ano passado, o representante da farmacêutica norte-americana fez reunião com o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, após ter aguardado por uma hora no prédio ministerial.
Carlos Murillo comandou a matriz brasileira da empresa farmacêutica até novembro de 2020. O encontro no Ministério da Saúde constava na agenda oficial do nº 2 de Pazuello, agendado para às 14h – e foi confirmado no depoimento do executivo na CPI da Covid. A informação já foi retirada do ar no site da pasta.
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A confirmação da data e o horário da visita, no entanto, foram obtidas por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação). De acordo com a lista de visitantes da sede do Ministério da Saúde em Brasília no ano passado, o executivo da Pfizer entrou no prédio uma única vez em 2020, às 13h58, justamente no dia 22 de dezembro.
Em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado, Murillo afirmou que Pazuello apenas o cumprimentou, mas não participou da reunião. O executivo afirmou ainda que, durante as negociações, tratou "somente com a equipe técnica do ministério".
"Nessa ocasião [22 de dezembro], o Sr. Elcio Franco apresentou a mim o ministro Pazuello. Nós nos cumprimentamos, e ele falou que, agora que estávamos avançando, o que precisávamos era contar com mais doses para o Brasil. Eu respondi que nós tínhamos esse compromisso de continuar procurando mais doses para o Brasil", afirmou Murillo.
Mais de uma hora depois da chegada do representante da farmacêutica, às 15h23, consta o primeiro compromisso da agenda oficial de Pazuello para aquele dia: ele discursou por videoconferência durante exatos 2 minutos e 25 segundos na reunião de encerramento da Comissão Externa da Câmara dos Deputados, destinada a acompanhar o enfrentamento à pandemia. Pazuello fora convidado, e não convocado pelos deputados – quando a presença no Congresso se torna legalmente obrigatória.
Pazuello dentro de seu gabinete, às 15h23 de 22 de dezembro de 2020, no Ministério da Saúde, em curta participação de reunião da Câmara dos Deputados / Reprodução/Youtube
Na mesma data, Pazuello também participou de gravação do programa "Brasil em Pauta", da TV Brasil, conforme consta em nota publicada pela Agência Brasil (veja abaixo transcrição do início de sua participação na atração). A íntegra da agenda do ministro também foi suprimida do site do Ministério da Saúde.
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Procurada pelo Brasil de Fato para falar sobre o tema, a Pfizer não respondeu se a expectativa da equipe era a de que a reunião fosse realizada com a presença do ministro. A empresa afirma que não vai se manifestar sobre o andamento das negociações para o fornecimento de vacinas contra a covid-19 para o governo brasileiro.
A estratégia de Pazuello de não participar do único encontro com o principal executivo da farmacêutica norte-americana no Brasil dentro do ministério não gerou o resultado de trazer vacinas ao país. Um mês depois da reunião, a negociação desandou.
Em 23 de janeiro, o Ministério da Saúde divulgou nota oficial confrontando a Pfizer sobre o recebimento de uma carta enviada por Carlos Murillo – e entregue à CPI da Covid pelo ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten na semana passada.
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No comunicado, a pasta afirmava que "as doses iniciais oferecidas ao Brasil seriam mais uma conquista de marketing, branding e growth para a produtora de vacina, como já vem acontecendo em outros países. Já para o Brasil, causaria frustração em todos os brasileiros, pois teríamos, com poucas doses, que escolher, num país continental com mais de 212 milhões de habitantes, quem seriam os eleitos a receberem a vacina".
Na mesma data, Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, afirmou que o Brasil não havia fechado acordo com a Pfizer, pois a empresa teria apresentado condições “leoninas”, o que teria dificultado o acordo. Na CPI, Murillo desmentiu o bolsonarista.
Questionado pelo senador Humberto Costa (PT-PE) na CPI se "concorda com esse tipo de avaliação, de comentário desairoso à reputação", Murillo disse taxativamente: "Não concordo". Em outro momento da sessão, o executivo afirmou que o Brasil “provavelmente” poderia ter iniciado a vacinação ainda em janeiro, caso o governo de Jair Bolsonaro tivesse aceitado as cláusulas do contrato da Pfizer.
O CEO da farmacêutica também declarou que a primeira reunião realizada com o governo brasileiro sobre aquisição de vacinas ocorreu em maio de 2020. Somente em março deste ano, o Brasil fechou acordo com a farmacêutica para fornecimento dos imunizantes. No momento, estão assinados dois contratos que determinam a entrega de 200 milhões de doses de vacinas.
Ainda de acordo com o dirigente da Pfizer, caso o Brasil tivesse agilizado o acordo, teria recebido, até 1 de junho deste ano, 18,5 milhões de doses e, segundo o suposto cronograma traçado pela empresa, as primeiras unidades teriam sido entregues no país em dezembro de 2020.
A primeira aplicação de vacina no Brasil ocorreu no dia 25 de janeiro de 2021.
Edição: Vinícius Segalla