O desmatamento na Amazônia foi o maior em 10 anos durante abril de 2021, de acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). O levantamento foi feito com base no Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), que faz o monitoramento da região por meio de satélites.
Segundo os dados, em abril de 2021, foi devastada uma área de 778 km², atingindo o maior valor da série histórica para o mês na última década. Quando comparado com abril de 2020, o número mostra que houve um aumento de 45% no desmatamento na região, quando o desmatamento somou 536 km².
Em relação aos Estados, o Amazonas é o que lidera o ranking das regiões que têm a maior área devastada, com 28%. O Pará aparece em segundo lugar, com 26%. O Mato Grosso aparece com 22%, Rondônia com 16% e Roraima com 5%. Por último aparecem Maranhão, com 2% e Acre com 1%.
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Ainda de acordo com o levantamento, as áreas que tiveram maior desmatamento aconteceram em locais particulares ou sob estágios de posse, representando 68%. Os outros pontos foram identificados em assentamentos (19%), unidades de conservação (11%) e terras indígenas (2%).
Em relação às Unidades de Conservação, o Pará possui cinco dentre as 10 áreas mais atingidas pelo desmatamento: APA Triunfo do Xingu (PA), Flona do Jamanxim (PA), Flona de Itaituba II (PA), Esec da Terra do Meio (PA) e Rebio Nascentes da Serra do Cachimbo (PA).
Já em relação às Terras Indígenas, o Mato Grosso tem destaque com quatro territórios no ranking dos 10 mais atingidos: TI Piripkura (MT), TI Kayabi (MT/PA), PI Aripuanã (MT/RO) e TI Urubu Branco (MT).
Devastação com Bolsonaro
De acordo com levantamento do Instituto Socioambiental (ISA), de janeiro de 2019 a dezembro de 2020, a área dentro de terras indígenas, parques, estações ecológicas com registros irregulares no Cadastro Ambiental Rural (CAR) aumentou 56%.
Com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), o total de registros irregulares em dois anos alcançou 10,6 milhões de hectares.
Para burlar o sistema, grileiros usam o protocolo do CAR - mecanismo usado para os proprietários rurais registrarem a extensão e localização das terras - como se fosse uma prova de regularidade da propriedade.
Sendo assim, os invasores desmatam a terra para fazer crescer pasto. Porém, como a fiscalização é insuficiente, os grileiros se valem da situação para continuarem devastando as terras.
De acordo com o instituto, Bolsonaro desmontou órgãos de fiscalização ambiental, reduziu emissão e cobrança de multas ambientais e ignorou pareceres técnicos contra o desmatamento, o que faz com que a sensação de impunidade aumente e que o desmatamento seja cada vez mais descontrolado.
Segundo o levantamento, esses números mostram o impacto de projetos de lei como o PL 510/2021 e o PL 2633/2020, os “PLs da grilagem”, que poderão anistiar desmatamentos recentes e aumentar a expectativa de regularização das invasões.
Crise hídrica
O desmatamento florestal da região amazônica influencia diretamente a formação de chuvas na região sudeste do país.
Sendo assim, a crise hídrica está diretamente relacionada com o problema. Para se ter uma ideia, no dia 31 de março deste ano, o Sistema Cantareira, que abastece a Grande São Paulo, operou com 52,8% da sua capacidade.
O registro representa 10% a menos de água do que foi registrado no dia 31 de março de 2013, período que configurou a pré-crise hídrica em São Paulo, intensificada no ano seguinte.
A água das chuvas que caem sobre a cobertura florestal volta à atmosfera por meio da transpiração das árvores, conhecida como evapotranspiração, repondo a umidade do ar. Na região da amazônica, há uma zona de convergência de ventos que trazem essa umidade para a região sudeste, onde se precipita na forma de chuva.
Ao longo dos últimos 10 anos, o desmatamento vem gerando um déficit de chuvas não só no Sistema Cantareira, mas em outros reservatórios de grandes usinas hidrelétricas, como Furnas, Emborcação, Serra da Mesa e Nova Ponte. Com isso, trata-se da possibilidade de escassez de água, bem como de energia elétrica.
Edição: Leandro Melito