O vice no poder

Ricardo Nunes, o novo prefeito de SP, é empresário e homem de um partido só

Com a morte de Bruno Covas, emedebista assume definitivamente prefeitura paulistana, cargo que já ocupava interinamente

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Nunes tem 53 anos, foi vereador por duas vezes, é advogado e empresário - André Bueno / Câmara Municipal de São Paulo

Depois da notícia do falecimento do prefeito Bruno Covas (PSDB), neste domingo (16), a prefeitura de São Paulo será definitivamente presidida por Ricardo Nunes (MDB), seu vice. A notícia da morte de Covas, que lutava contra um câncer no aparelho digestivo, foi confirmada às 8h20min.

Nunes tem 53 anos, foi vereador por duas vezes, é advogado de formação e empresário. Filiado ao MDB desde os seus 18 anos, ele concorreu à primeira eleição em 1989, ao cargo de vereador, mas não foi eleito. Ao tentar novamente em 2012, ele conseguiu, sendo reeleito quatro anos depois.

Durante seu período como vereador, foi relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do município e do Orçamento Municipal por seis anos.

:: Ricardo Nunes assume a Prefeitura de São Paulo: quais polêmicas pesam contra ele?::

Natural da região sul de São Paulo, ele é casado e tem três filhos. Antes de começar sua carreira política, ele abriu a empresa Nikkey, de controle de pragas urbanas, em 1997, também na zona sul de São Paulo.

Depois disso, ainda antes de tentar novamente um cargo eletivo, Nunes foi diretor da Associação Empresarial da Região Sul de São Paulo (Aesul) e fundou a Associação das Empresas Controladoras de Pragas do Estado de São Paulo (Adesp) e a Associação Brasileira das Empresas de Tratamento Fitossanitário e Quarentenário (Abrafit).

Serviço sem licitação

O novo prefeito tem algumas polêmicas ligadas a seu nome. Em 2019, a empresa Nikkey Serviços, que tem como sócias a mulher e uma das filhas dele, recebeu R$ 50 mil de creches conveniadas à prefeitura sem licitação de prestação de serviço para dedetizar os prédios de oito creches.

As oito creches dedetizadas são controladas pela Associação Amigos da Criança e do Adolescente (Acria). A presidenta da instituição é Eliana Targino, ex-funcionária de Nunes, e o vice-presidente da Acria é José Cleanto Martins, pai de uma assessora do vereador, segundo o jornal Folha de S. Paulo.

Ao jornal, o vereador negou o favorecimento e alegou que os valores cobrados estavam “abaixo dos de mercado”, como “uma forma de ajudar as creches”. Ele também nega que a Acria seja dirigida por aliados.

Indícios de superfaturamento

O novo prefeito também é alvo de uma investigação da promotoria do Patrimônio Público e Social do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP). Eles apuram alguns indícios de superfaturamento no aluguel de creches privadas que mantêm convênio com a prefeitura.

Segundo a promotoria, Nunes teria sido favorecido por meio de sua relação com a Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos (Sobei), que recebe da prefeitura R$ 329 mil por mês para pagamentos de aluguéis de creches. O vereador nega participação no caso e diz ser apenas “voluntário” da instituição.

Denúncia de violência doméstica

Além disso, a esposa de Ricardo Nunes, Regina Carnovale, denunciou o marido por violência doméstica em 18 de fevereiro de 2011. O Boletim de Ocorrência (BO) foi registrado na 6ª Delegacia da Mulher, em Santo Amaro, zona sul da capital.


Ricardo Nunes posa ao lado do então companheiro de chapa, Bruno Covas, na corrida eleitoral de 2020 / Reprodução / Facebook

Carnovale relatou, à época, que o casal mantivera uma união estável por 12 anos. Sete meses antes da agressão, os dois se separaram “devido ao ciúme excessivo” de Nunes.

“Inconformado com a separação, [Nunes] não lhe dá paz, vem efetuando ligações, proferindo ameaças, envia mensagens ameaçadoras todos os dias e vai em sua casa, onde faz escândalos e a ofende com palavrões”, diz o boletim.

Não pagamento de pensão

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Carnovale foi às redes sociais em 2015 para questionar o não pagamento de pensão alimentícia à filha. Nas postagens, ela chamou Nunes de “bandido” e “crápula” e disse ter provas das agressões. “Ele sempre me bateu”, relatou.

O casal reatou o relacionamento meses depois. Questionada, a mulher diz que sua conta foi “hackeada” [invadida]. Nenhuma das denúncias avançou e virou processo judicial. O vereador nega as agressões e diz que o BO foi feito em um período em que a esposa estava “emocionalmente abalada”.

Edição: Vivian Virissimo