Ainda que inconclusa e insuficiente, após 300 anos de escravidão, o 13 de maio foi um marco na história do Brasil ao extinguir oficialmente a escravidão no Brasil. Apesar disso, até chegar a essa data, inúmeras lutas foram travadas e diversos fatores antecederam o acontecimento.
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Para conversar sobre essas lutas pré-abolição, o Brasil de Fato conversou com os historiadores Marcus Carvalho, também professor titular de História na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e Lucian Souza, que também é professor e doutorando em História pela UFPE, além de pesquisar o movimento abolicionista. Confira os principais trechos da entrevista:
Revoltas populares
Pernambuco foi um território que protagonizou algumas das chamadas "Revoluções Liberais", como a Revolução Pernambucana de 1817, a Confederação do Equador em 1824 e a Revolução Praieira em 1848. Ao mesmo tempo, também tinha uma forte tradição de revoltas organizadas pelos escravizados. O historiador Marcus Carvalho explica que nesse momento o Brasil estava sob um regime monárquico "profundamente autoritário, praticamente uma ditadura".
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Nesse sentido, ele explica que se o imperador quisesse, poderia ter tentado abolir a escravidão muito antes, "a Lei Áurea é uma lei comum. Não é uma reforma constitucional, ou seja, existiam alternativas". Durante o período, houve muita rebelião popular.
"A escravidão é sempre um estado de guerra", comenta Marcus. Ele também explica que existiam divergências entre a classe proprietária e isso se transformou em uma guerra civil; os escravizados, por sua vez, aproveitaram esse cenário para tentar fugir. "Esse protagonismo dos rebeldes pela sua liberdade foi esmagado não só pelas forças da ordem, mas também pela nossa história oficial", enfatiza o professor, criticando a ausência dessas histórias nos livros didáticos.
Quilombos em Pernambuco
Como fruto dessas várias revoltas se deu a formação de diversos quilombos que foram importantes territórios de resistência para negros libertos, fugidos ou em busca de liberdade. Marcus explica que essas fugas sempre existiram, mas também comenta que a ideia que se tem sobre essas fugas são muito mitológicas.
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"Fugir pro mato não é uma coisa tão fácil assim como a gente pensa. Você conhece as plantas daquela floresta? É acostumada a viver nessa floresta?". Muitos dos africanos vinham de regiões altamente urbanizadas, que viviam do comércio, negociações, de regiões africanas que eram diferentes do Brasil. "É muito impressionante e admirável, apesar de todas essas dificuldades, a existência desses quilombos".
Associações abolicionistas
Em meados da década de 1860 no Brasil, começaram a surgir associações abolicionistas no Brasil, como uma resposta de um segmento da elite para se contrapor ao escravismo vigente, explica o historiador Lucian Souza. Nesse primeiro momento, o caráter dessas associações era elitista e ao longo do tempo foi se popularizando. "No final da década de 1880, quase duas décadas depois, essas associações passam a ter uma configuração completamente diversa, com mulheres, pessoas negras e escravizadas", explica.
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Justamente por essa mudança de configuração, as formas de atuação das associações também foram se modificando. Inicialmente, existe uma relação muito forte com as artes. "As encenações de peças teatrais, organização de saraus, concertos", exemplifica o professor. Há historiadores que se referem à fase inicial como a "Fase das Flores". Após o momento de diversificação, um abolicionista negro que se destaca é José do Patrocínio, que passa a ser conhecido por um discurso mais radical, de defesa de uma abolição imediata. "Até então, uma abolição que rompesse de fato com o sistema escravista não era defendida, pelo menos de forma consensual".
As artes e a imprensa no movimento abolicionista
"O desafio nesse momento era tornar a escravidão algo ruim, deslegitimá-la. Por ela ser estrutural, era comumente aceita, não era vista como algo condenável", e nesse sentido, Lucian atribui às artes e a imprensa esse papel de popularizar e levar para o ambiente doméstico questões políticas que costumavam ser debatidas em espaços restritos. Nesses ambientes, muitas vezes estavam também os escravizados, e eles entram também nesse processo de politização. "Através da imprensa e das artes eles conheciam as leis que estavam sendo aprovadas, sabiam das manifestações que estavam ocorrendo, por exemplo", completa.
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Não fazer parte do movimento abolicionista não significava, porém, não resistir. “Onde houve escravidão, houve resistência”, reforça o historiador. De maneira paralela, cada um resistia como podia, fosse fugindo e formando quilombos, constituindo famílias ou criticando publicamente o sistema escravista. Quando esse debates passa a penetrar outros ambientes, há a junção de abolicionistas e resistências escravas, de maneira que se populariza então o movimento e outros setores passam a integrar a luta pelo fim da escravidão, inclusive as mulheres, que possuem papel importante nesse processo.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga