Organizações sociais e de direitos humanos argentinas cobram do Paraguai a aparição de Carmen Elizabeth Oviedo Villalba, conhecida como Lichita. A menina de 14 anos desapareceu após ser ilegalmente detida pela Força Tarefa Conjunta (FTC) do Exército paraguaio em 30 de novembro de 2020. As organizações também exigem justiça para as primas de Lichita, Lilian Mariana Villalba e María del Carmen Villalba, de 11 anos, assassinadas pela FTC em 2 de setembro de 2020, em uma operação contra o grupo guerrilheiro Exército do Povo Paraguaio (EPP).
As crianças argentinas tinham viajado para o Paraguai com Laura Villalba, tia de Lichita e mãe de Lilian e Maria, para visitar os familiares que moram no país vizinho, incluindo os pais de Lichita, os presos políticos Carmen Villalba e Alcides Oviedo, detidos há mais de 17 anos na capital paraguaia, Assunção, por pertencerem ao EPP. Lichita e sua irmã gêmea, Tamara Anahí, nasceram na prisão. Alguns anos depois, elas foram viver com a tia na cidade de Porto Rico, na província argentina de Misiones.
No dia 3 de maio, integrantes de diversas organizações sociais e políticas realizaram uma manifestação em frente ao Consulado do Paraguai na cidade de La Plata, Argentina, para denunciar os crimes de infanticídio de Lilian Mariana e María del Carmen, além do desaparecimento forçado de Lichita. Os manifestantes também entregaram uma carta dirigida ao cônsul paraguaio Juan Ramón Cano Montanía, apresentando suas demandas.
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Histórico
Em 2 de setembro de 2020, a FTC realizou uma operação clandestina na cidade de Yby Yaú, onde os membros do EPP vivem e atuam há décadas. Na emboscada, as forças militares do Estado paraguaio mataram, de forma cruel, as irmãs Lilian Mariana e María del Carmen, alegando que eram combatentes do EPP.
Segundo o testemunho de parentes das vítimas e sobreviventes da emboscada, as meninas foram sequestradas, torturadas, estupradas e depois executadas. Os familiares relatam ainda que o exército vestiu as vítimas com o uniforme da guerrilha e, após queimar as vestimentas das crianças, as evidências e seus corpos foram imediatamente enterrados.
Na ocasião, o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, chegou a comemorar o assassinato das menores de idade em sua conta no Twitter, celebrada como um exemplo de operação bem-sucedida contra o grupo insurgente EPP.
Quase três meses após esse crime brutal, em 30 de novembro de 2020, Lichita, sua irmã Tamara Anahí, sua tia Laura e sua prima Tania Tamara, que se escondiam na floresta, foram alvo de outra operação no mesmo território. Elas tentavam atravessar a fronteira com a ajuda de camponeses locais, mas, devido ao ataque, o grupo se separou. Segundo declarações dos habitantes da região, Lichita foi atingida na perna por uma bala e capturada. As outras três mulheres conseguiram atravessar a fronteira e chegaram à Argentina, em 23 de dezembro, mas Lichita está desaparecida desde então.
A partir de setembro de 2020, as organizações de direitos humanos na Argentina e no Paraguai começaram a exigir do governo de extrema direita de Abdo Benítez explicações para o assassinato das duas menores. Após a segunda operação, a reivindicação pelo retorno seguro de Lichita foi incorporada às demandas.
Entre 17 e 23 de março deste ano, uma missão argentina de direitos humanos, formada por representantes de organizações sociais e feministas, médicos, advogados e jornalistas, viajou ao país vizinho para exigir respostas sobre os crimes cometidos pelo Estado paraguaio. Os representantes da missão se reuniram com diferentes autoridades governamentais, com os familiares das meninas e comunidades indígenas e camponesas da região.
*Com informações do Peoples Dispatch.
Edição: Luiza Mançano