Organizações sociais, feministas e migrantes na Argentina realizaram um protesto, na última quarta-feira (09), para repudiar o assassinato de duas meninas argentinas de 11 anos pelas mãos do Exército paraguaio no dia 2 de setembro.
O ato foi realizado em frente à embaixada do Paraguai no país. Os manifestantes denunciaram as tentativas de acobertamento dos soldados do exército pelo presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez (Partido Colorado).
Lilian Villalba e María Carmen Villalba, de 11 anos, foram assassinadas pela Força Tarefa Conjunta (FTC) durante a invasão de uma área controlada pelo grupo guerrilheiro Exército do Povo Paraguaio (EPP).
A ação ocorreu no distrito de Yby Yaú, localizado próximo à fronteira com o Mato Grosso do Sul, entre os estados de Concepción e Amambay. O objetivo desta operação tinha como foco "neutralizar as forças do EPP", de acordo com Abdo Benítez. Na ocasião, o presidente chegou a considerar a atuação do Exército como "exitosa".
Contradições e tentativa de acobertamento
Desde que o assassinato das duas meninas veio à público através da denúncia do EPP, uma série de desinformações e tentativas de acobertamento foram divulgadas pelo governo e pelos meios de comunicação hegemônicos do país.
Após o massacre, o governo paraguaio declarou que as crianças estavam em um "campo de recrutamento de menores de idade". Elas foram apresentadas como adolescentes de 15 e 18 anos e integrantes do EPP, quando, na verdade, se encontravam no território para visitar sua família, conforme ficou comprovado com a investigação realizada posteriormente.
O general Héctor Grau, que comandava a operação, tinha afirmado que a destruição de evidências, como as roupas que as meninas vestiam, e a realização do enterro sem autópsia se deram como "protocolo sanitário" devido à pandemia. No entanto, o protocolo nacional deveria ser aplicado apenas em casos suspeitos de covid-19. Ele chegou a afirmar também que os documentos argentinos eram falsos.
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As declarações do Exército e do governo paraguaio foram desmentidas após exumação dos corpos, realizada a pedido do governo da Argentina. Após a autópsia, confirmou-se que as duas crianças eram cidadãs argentinas, que foram assassinadas pelas costas e vestidas com roupas do Exército após terem suas roupas queimadas.
A avó das crianças, Mariana Ayala de Villalba, disse que ambas cresceram com ela no estado de Misiones, no Paraguai, e não eram integrantes do grupo guerrilheiro do EPP, como o governo afirmou. "Eles mataram duas meninas e não sabem como sair dessa situação", disse a avó.
Os movimentos denunciam que Lilian e María Carmen foram expostas como troféus de guerra pelo exército paraguaio e que, em nenhum momento, o governo reconheceu seus direitos enquanto crianças.
Em uma nota divulgada, organizações de defesa dos direitos humanosna Argentina afirmam que as ações da FTC e do governo paraguaio "são contrárias aos princípios estipulados na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e no próprio Código da Criança e do Adolescente do Paraguai, no que se refere à proteção das crianças e adolescentes "independentemente de suas condições sociais, familiares, políticas, religiosas e/ou nacionais".
Por sua vez, o representante de Direitos Humanos da ONU na América do Sul, Jan Jarab, exigiu uma investigação rápida e imparcial por parte do governo paraguaio. "Este é um incidente muito grave que levou à morte de duas meninas que deveriam ter sido protegidas pelo Estado", disse.
*Com informações do Resumen Latinoamericano e Marcha Noticias.
Edição: Luiza Mançano