Caminhos contrários

Últimas notícias da vacina: suspensão da imunização e de divulgação de dados

Governo Bolsonaro suspendeu a divulgação do cronograma de recebimento de vacinas do exterior

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Apenas 3,23% da população brasileira recebeu a segunda dose da vacina - Isac Nóbrega/PR

O governo de Jair Bolsonaro não irá mais divulgar a previsão de doses que espera receber mensalmente dos fabricantes. Após alterar pelo menos cinco vezes o cronograma de entrega de vacinas, a decisão final veio nesta sexta-feira (9). Agora, para saber da previsão, é necessário procurar diretamente os fabricantes, conforme informação confirmada pelo Estadão

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Os primeiros cronogramas de recebimento de imunizantes foram divulgados em janeiro, ainda na gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Naquela época, os documentos já se mostravam defasados em comparação com a realidade dos atrasos dos imunizantes.

O cronograma de fevereiro mostrava que o Brasil fecharia março com 68 milhões de imunizantes distribuídos. Dados desta quinta-feira (8), no entanto, mostram que foram entregues apenas 45,2 milhões de doses.

Abandono vacinal

Com o atraso no recebimento de insumos para o envase das doses, cerca de 562,2 mil de brasileiros que receberam a primeira dose estão há pelo menos 45 dias sem tomar a segunda dose, o que extrapola o período de segurança definido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ao liberar o uso emergencial da CoronaVac, ficou estabelecido que o período entre a primeira e a segunda aplicação deveria ser de 14 a 28 dias.

Em termos percentuais, o abandono vacinal é de 14,13% para os brasileiros que estão sendo imunizados com a CoronaVac. No Amazonas, a taxa sobe para 31,31%, apresentando o maior índice entre os estados, seguido por Roraima (26,12%) e Sergipe (22,97%).

Na outra ponta, figurando os estados com menos abandono vacinal, estão Alagoas (6,34%), Rio Grande do Norte (6,69%) e Espírito Santo (7,63%).

O levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo levou em consideração apenas a CoronaVac, produzida em parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac, uma vez que o intervalo entre as doses do imunizante de Oxford/Astrazeneca, produzido em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é de 90 dias — logo, as taxas de abandono vacinal só podem ser calculadas no final de abril.

Vacinação suspensa nas capitais

Também por falta de vacina, algumas capitais brasileiras suspenderam a aplicação da primeira dose da vacina contra a covid-19. Na capital do Acre, em Rio Branco, a primeira dose foi suspensa para idosos desde o dia 1º de abril.

A retomada está prevista para este sábado (10). Em Fortaleza (CE), foram dois dias de suspensão da imunização, sendo esta retomada nesta sexta-feira (9) para todos os públicos.

Em Maceió (AL), e em Teresina (PI), a vacinação de idosos segue suspensa. Em Curitiba (PR), a suspensão ocorre desde o dia 3 de abril para todos os públicos e sem previsão de retomada.

No total, de acordo com o balanço do consórcio dos veículos de imprensa, até às 20h desta sexta-feira (9), 22.686.106 pessoas receberam a primeira dose do imunizante, o que representa cerca de 10,71% da população. Já a segunda dose foi aplicada em 6.843.168 pessoas (3,23% da população do país). Ao todo, 29.529.274 doses foram aplicadas.

Caminhos diferentes?

Algumas notícias apontam para um caminho diferente do abandono vacinal e do ritmo lento de imunização. A partir de maio, o Instituto Bio-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), começará a produzir o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da vacina de Oxford/AstraZeneca em território nacional

Nesta sexta-feira (9), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, realizou uma visita às instalações Bio-Manguinhos, onde ocorrerá a produção do IFA, acompanhado por Maurício Zuma, diretor do instituto.

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Segundo Zuma, “a produção de um lote leva, pelo menos, 45 dias e, depois, tem todo processo de controle de qualidade e caracterização. Teremos que produzir alguns lotes para validação. Então é um processo longo", afirmou.

Por isso, apesar de o IFA começar a ser produzido em maio, as doses devem ser entregues ao Ministério da Saúde somente entre setembro e outubro de 2021.

12 anos de proteção

Outras pesquisas apontam que a memória imunológica do imunizante Versamune, produzida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da USP, em parceria com a Farmacore Biotecnologia e a norte-americana PDS Biotechnology, pode durar até 12 anos. 

“A Versamune tem a capacidade de ativar todo o sistema imunológico que impede não só a entrada do SARS-CoV-2 para dentro das células como também matam as células já infectadas.

Acreditamos que o imunizante gere uma memória imunológica de até 12 anos”, afirma, em entrevista ao Jornal da USP, o professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da FMRP Celio Lopes Silva.

O consórcio solicitou uma autorização da Anvisa para iniciar os testes clínicos em humanos, para garantir segurança e eficácia. Se aprovado, o teste será feito em 360 voluntários, entre 18 e 55 anos e, posteriormente, entre 55 e 75 anos.

Se esses testes apresentarem resultados positivos, será feita solicitação para a fase 3 dos testes, quando 10 mil voluntários serão testados e acompanhados por 10 meses. Se todas as fases apresentarem resultados positivos, o pedido de uso emergencial do imunizante pode ser feito no começo de 2022.

Além do consórcio, o Instituto Butantan também aguarda uma resposta da Anvisa para começar os testes da ButanVac.

Cooperação entre Brasil e China?

Nesta sexta-feira (9), o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, que substituiu Ernesto Araújo, recebeu uma ligação do ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi.

No perfil oficial do Itamaraty, o órgão informou que "os chanceleres concordaram na urgência do combate à pandemia e da cooperação em vacinas, IFAs [ingrediente farmacêutico ativo] e medicamentos” e que as “autoridades dos dois países estão em contato permanente para agilizar as remessas, essenciais para salvar vidas”.

Eles também “trataram também das promissoras perspectivas em comércio e investimentos. Conversaram sobre a evolução positiva do relacionamento sino-brasileiro e os números crescentes do comércio — recorde de US$ 102,6 bilhões em 2020”. 

O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, também publicou que os ministros "concordaram em reforçar as relações bilaterais, a coordenação multilateral e o combate conjunto à pandemia, além de promover a recuperação econômica".

Edição: Daniel Lamir