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O livro do chá japonês: do Oriente ao Ocidente

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Cerimônia do chá, chamada de chanoyu, de Hashimoto Chikanobu, 1895 - Ukiyo-e
A forma 'chá', que usamos no português, vem do cantonês e do mandarim, significa 'apanhar, colher'

O Livro do Chá foi publicado em 1906 em Boston, nos Estados Unidos. Seu autor, Kakuzo Okakura, foi o primeiro curador japonês da seção de Arte Oriental (Japão e China) do Museu de Arte de Boston. Foi o terceiro livro de uma trilogia pensada para apresentar a arte e a filosofia japonesa para os norte-americanos, editado junto com The Ideals of the East with Special Reference to the Art of Japan e The Awakening of Japan.

De maneira sutil e delicada, Okakura escreve que almeja a paz em um mundo cheio de dragões de guerra, prestes a serem acordados. Assim, convida os leitores a entrar em um outro universo: “Nesse meio tempo, tenhamos um pouco de chá. A tarde resplandece através dos bambus, as fontes borbulham de alegria, o sussurro dos pinheiros é ouvido na nossa chaleira.” E com esse convite entramos também em um outro tempo, com o chá ainda quente nas xícaras.

A história do chá no Oriente é complexa, mas existem registros de seu uso social na China que data da dinastia Tang, entre 581 e 618 DC, um período que se caracteriza pela solidificação da burocracia chinesa. Nessa época, o imperador governava por decretos, com uma visível expansão da nobreza, que se divertia em jogos, como xadrez e encontros sociais.

O chá fazia parte dessa cultura da nobreza do país, enraizando-se aos poucos por diferentes camadas da sociedade e espalhando-se lentamente por diferentes culturas orientais.


Cerimônia do Chá / Clubotaku.org

Dessa maneira, quando os portugueses chegaram ao Japão, em 1543, o chá já fazia parte do dia a dia da maioria da população, profundamente intrincado em redes que iam da religião a complexos rituais de sociabilidade envolvendo a bebida.

Como aconteceu em várias regiões em que os portugueses aportaram no período das grandes navegações, não demorou muito para que eles percebessem que o chá poderia se tornar uma mercadoria valiosa na Europa. Com propriedades medicinais, e alto grau de ritualização na sociedade, as folhas de chá logo chegaram à Europa pelas mãos lusitanas.

O chá é uma infusão das folhas, flores e raízes da planta Camellia sinensis, na maioria das vezes preparada com água quente. Os sabores variam conforme o processo utilizado – que pode incluir oxidação, fermentação, contato com outras ervas, flores ou frutos, que vai proporcionar diferentes sabores e cores. Por conter teofilina e cafeína, o chá provoca alterações no sono e na vigília, característica notada pelos portugueses logo cedo.

Existem duas maneiras de se pronunciar a palavra chá, ambas derivadas do caracter  茶. Uma vem do malaio e se diz Te, que vem do dialeto min. Várias línguas adotaram variações sobre essa palavra, entre eles estão o inglês, o francês, o alemão, o dinamarquês, o italiano, o castelhano ou o hebraico. Já a forma chá, que usamos no português, vem do cantonês e do mandarim, significa “apanhar, colher”. Como nós, falam variações sobre a palavra chá os russos, os árabes, os vietnamitas os gregos.

Ao longo dos séculos o chá se espalhou pelo ocidente por diversas culturas, dando origem a outros rituais de sociabilidade com múltiplos significados, como o chá inglês. Quando Kakuzo Okakura escreveu "O livro do Chá" no começo do século XX, ele estava interessado em apresentar os ideais de filosofia, de religião e vida que se entrelaçavam na complexa cerimônia do chá japonesa, a chanoyu.

Nos seus escritos, Okakura mostra que os valores ocidentais e orientais se equivaliam, podendo viver em harmonia. De maneira inteligente, ele coloca o chá como mediador e apaziguador das diferenças entre o oriente e o ocidente, já que todos os povos valorizavam a bebida e poderiam se sentar à mesa com uma xícara à mão observando a natureza.

Edição: Vinícius Segalla