Em uma acelerada audiência, de pouco mais de dois minutos, nesta quarta-feira (31), em Brasília, o ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, anunciou o nome dos três novos comandantes das Forças Armadas brasileira.
Ao lado de Netto na coletiva, estavam os três escolhidos do governo brasileiro, o almirante de esquadra Almir Garnier Santos, que comandará a Marinha; o tenente-brigadeiro Carlos Batista Junior, que passa a chefiar a Aeronáutica; e o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que passa a liderar o Exército.
Os três militares substituirão Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica), que entregaram seus cargos ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na última terça-feira (30), logo após a demissão do general Fernando Azevedo e Silva, então ministro da Defesa.
Desde 1985, durante o processo de redemocratização do país, os três comandantes das Forças Armadas não entregavam, simultaneamente, o cargo. A medida é comum em troca de governos, quando o alto comando dos militares é trocado.
"Revolução democrática"
Novo nome do Exército, a força mais importante do país, o general Paulo Sérgio Nogueira já chegou a se referir ao golpe militar de 1964 como “revolução democrática de 31 de março de 1964”. A frase está exposta em um convite editado e divulgado pelo Exército em março de 2019 para convocar homens da tropa, militares da reserva e civis para uma solenidade alusiva à data.
O chamado se deu quando Nogueira liderava o Comando Militar do Norte, com sede em Belém (PA). A postura de referência ao golpe como “revolução” é recorrente entre nomes conservadores que disputam a narrativa histórica do período, do qual as forças militares saíram com a imagem profundamente desgastada.
Atualmente, Paulo Sérgio Nogueira é visto como uma continuidade da linha de condução adotada por Edson Pujol, que teria tentado frear as investidas de Bolsonaro por uma politização das tropas.
Em entrevista concedida pelo general ao Correio Braziliense no ultimo domingo (29), ele afirmou que o Exército estaria se organizando para a terceira onda da pandemia. A declaração veio acompanhada da enumeração de medidas de isolamento nos quartéis, política sanitária frequentemente criticada pelo presidente Bolsonaro.
Rememorar fatos "sem ódio ou rancor"
O novo número um da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Carlos Batista Junior, também é partidário da leitura do golpe militar como “revolução”. Ele foi um dos signatários, por exemplo, de um documento publicado nos últimos dias pelos Clubes Militar, Naval e da Aeronáutica que se refere à data como “os acontecimentos” de 1964.
O texto defende ainda que “é, no mínimo, uma obrigação de honra” rememorar tais fatos “sem ódio ou rancor”, numa suavização do autoritarismo que marcou o golpe e o período militar como um todo.
O posicionamento já foi manifestado pelo brigadeiro em outros momentos, como é o caso de uma cerimônia no Rio de Janeiro, em 2009, em que ele esteve como um dos entusiastas e participantes. O evento homenageou o golpe e os militares que atuaram no período.
Na Aeronáutica, Batista Junior já chefiou o Comando-Geral de Apoio e passou pela chefia de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa.
Proximidade com Bolsonaro
Já o novo comandante da Marinha, o almirante de esquadra Almir Garnier Santos, é de uma família próxima ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Santos sofreu duras críticas no ano passado quando veio à tona a notícia de que sua esposa, Selma Foligne Crespio de Pinho, chegou a ser contratada para assumir uma função comissionada na gestão em 2019.
A contratação se deu logo depois de a companheira do almirante se aposentar da Marinha e enquanto Santos exercia a segunda função mais importante da força, a de secretário-geral. O governo alegou que Selma de Pinho tinha perfil técnico para o cargo.
Na época, uma reportagem da UOL mostrou também que um dos filhos do militar estava empregado na Emgepron, empresa pública ligada à Marinha.
O almirante estava lotado na Secretaria-Geral do Ministério da Defesa até assumir o cargo de comandante. Ele já trabalhou também como assessor especial militar dos ministros Celso Amorim, Jacques Wagner, Aldo Rebelo e Raul Jungmann. Os três primeiros atuaram no governo Dilma, enquanto o último foi na gestão Temer.
Edição: Poliana Dallabrida