A fronteira sul que divide a Colômbia e a Venezuela arde há 10 dias em uma troca de fogo entre grupos irregulares colombianos e a Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb). O ministro de Defesa, General Vladimir Padrino López, afirmou que são grupos paramilitares vinculados ao narcotráfico que cruzam a fronteira para “gerar terror” no lado venezuelano, atacando com explosivos e armas largas bases militares, sedes da companhia elétrica (Corpoelec) e da estatal petroleira Pdvsa.
A zona de conflito compreende uma área de 10 mil km² entre o estado venezuelano de Apure e o departamento colombiano de Arauca. O conflito começou no dia 20 de março, quando a Fanb identificou a presença de paramilitares colombianos no território venezuelano. Até o momento, seis homens foram mortos, 12 presos e 27 pessoas estão sob investigação em um tribunal militar na Venezuela.
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Dois militares venezuelanos morreram em combate e outros 20 terminaram feridos. Além dos enfrentamentos, esses grupos armados colombianos colocaram minas no território venezuelano para buscar ampliar seu controle sobre a zona.
No último domingo (28), o presidente Nicolás Maduro assegurou que os grupos irregulares são acobertados pelo governo Iván Duque para gerar uma situação de conflito armado. O ministro de Relações Exteriores, Jorge Arreaza, declarou que a Colômbia mobilizou tropas oficiais para dar proteção aos paramilitares.
#COMUNICADO | Venezuela rechaza las declaraciones de la Cancillería colombiana sobre una"supuesta preocupación" por las operaciones de la FANB en el edo Apure. Cualquier intento de violación a la integridad territorial de Venezuela tendrá una reacción contundente. pic.twitter.com/M8OhBkGKTe
— Jorge Arreaza M (@jaarreaza) March 24, 2021
Já o ministério das Relações Exteriores da Colômbia defende que são guerrilheiros apoiados pelo governo venezuelano, sem apresentar provas. Segundo a chancelaria, 3,1 mil venezuelanos migraram para várias cidades do departamento de Arauca por conta do confronto.
#27Mar | "Iván Márquez (disidente de las FARC) hace esos videos desde Venezuela tratando de intimidar al país. Ellos no son revolucionarios de nada, son delincuentes y terroristas", expresó Iván Duque, presidente de Colombia, tras el atentado en el Cauca. pic.twitter.com/rBv3T83eVL
— El Diario (@eldiario) March 27, 2021
Relação com narcotráfico
De acordo com reportagens de meios de comunicação colombianos e venezuelanos, a região de Arauca é disputada por vários grupos armados e pelo narcotráfico. Dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), a frente de combate 10 e o grupo a mando de "Gentil Duarte" são os grupos que medem forças para controlar a zona.
"Gentil Duarte" teria relações com o grupo narcotraficante mexicano Cartel de Sinaloa, o que lhe teria conferido maior poder econômico e maior poder de fogo.
Além disso, reportagens investigativas de meios colombianos identificaram que o piloto de avião da campanha do ex-senador Alvaro Uribe Vélez e do presidente Iván Duque já havia trabalhado para o Cartel de Sinaloa.
Segundo as próprias autoridades colombianas, atualmente os principais operadores do tráfico de drogas e compradores de cocaína na Colômbia são os cartéis mexicanos que vendem diretamente aos Estados Unidos.
A Comissão Bicentenária Orinoco Magdalena, composta por militantes do partido Comunes (antigo partido FARC), reiterou em comunicado que não há relação dos conflitos com seu partido: “Nenhuma fora revolucionária será útil ao imperialismo, nem às oligarquias binacionais”.
Responsabilidade para proteger
O Executivo colombiano insiste em que a onda migratória no estado Apure foi gerada por excessos cometidos pelas forças armadas venezuelanas e não pela ação dos paramilitares.
O discurso de crise humanitária é novamente defendido por Iván Duque e pelo ex-deputado venezuelano Juan Guaidó, que nmasi uma vez sugere a ativação do mecanismo Responsabilidade para Proteger (R2P) na Venezuela. O R2P defende que os países da Organização das Nações Unidas (ONU) devem intervir em nações em que o Estado deixa de cumprir seu papel na proteção dos cidadãos.
Para o Executivo venezuelano trata-se de mais uma tentativa de gerar distúrbios para justificar uma ação internacional.
Desde 2019, a Venezuela denuncia na ONU a existência de acampamentos paramilitares no lado colombiano, próximo a sua fronteira. Em maio de 2020, os envolvidos na Operação Gedeón também relataram em depoimentos à justiça venezuelana que realizaram o treinamento em acampamentos paramilitares do lado colombiano da fronteira.
No começo de fevereiro de 2021, a Fanb divulgou que derrubou oito acampamentos e encontrou uma aeronave sem matrícula na região fronteiriça.
A Venezuela assegura que pedirá assessoria das Nações Unidas para desarmar as estruturas paramilitares na fronteira com a Colômbia.
Edição: Rebeca Cavalcante