O economista peruano Luis Carranza Ugarte publicou nesta terça-feira (23) uma carta de renúncia ao cargo de presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina, após sofrer denúncias de abuso de poder, assédio laboral e demissões injustificadas.
Carranza, que esteva à frente da instituição desde 2017, afirma que sempre "seguiu princípios de transparência nos processos de capital humano". A renúncia acontece um ano antes das eleições para a nova presidência da instituição.
Alejandra Claros, ex-analista e secretária do banco, denuncia que desde que Carranza Ugarte assumiu a gestão da empresa "100 pessoas foram despedidas ou convidadas a pedir demissão".
Claros é uma dos sete ex-funcionários que denunciam ser vítima de assédio laboral. Em carta, ela narra que deixou a instituição em 2019, por ser pressionada pela diretoria, depois do golpe de Estado na Bolívia, seu país de origem.
:: Trabalhadores da Nestlé na América Latina se articulam contra “práticas desleais” ::
Segundo ela, a perseguição teria tido início depois de se negar a usar seus contatos dentro do Movimento Ao Socialismo - partido governante na Bolívia - para intervir em um processo judicial e inocentar o cunhado do secretário-geral do banco, o também boliviano Victor Rico.
O caso foi denunciado pelo ex-presidente Evo Morales em fevereiro deste ano. "Após o golpe, se instalou uma perseguição política inclusive em organismos internacionais", afirmou o ex-chefe de Estado, publicando também a carta aberta de Alejandra Claros, quem foi sua chefe de gabinete.
Producto del golpe de Estado se instaló una persecución política incluso en organismos internacionales. Insto a los países miembros de @AgendaCAF a reconocer que sin importar la ideología, los Derechos Humanos Laborales, son inherentes por el solo hecho de ser persona y trabajar.
— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) February 28, 2021
O Banco de Desenvolvimento da América Latina, antiga Corporação Andina de Fomento (CAF), foi fundado em 1970 e é formado por representantes de 19 países latino-americanos e europeus. O conglomerado conta com 13 bancos privados e, para a região, é considerada a segunda instituição financeira mais importante, depois do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Leia também: Como avança a vacinação contra a covid-19 na América Latina?
Sem comentar os processos judiciais que tramitam contra sua gestão, o ex-presidente da CAF fala em "politização do banco". Na sua carta de renúncia, escreve que estaria sendo retaliado por ter negado um suposto pedido do governo argentino para indicar pessoas "sem qualificação ao Convênio Consultivo" do banco. O ex-ministro de Economia do Peru ainda assegura que denunciou o caso à secretaria-geral do banco.
Luis Carranza Ugarte permanecerá na presidência do banco até 23 de abril, período em que deverá ser realizada uma eleição entre os 19 países membro do organismo para definir seu sucessor.
Edição: Vinícius Segalla