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Sede de jornal e casa de jornalista sofrem ataque incendiário no interior de SP

Polícia investiga o caso. Vítima acredita em motivação política e acusa "terroristas negacionistas" pelo atentado

São Paulo |
Entrada do jornal e residência do jornalista responsável pelo jornal Folha da Região, da cidade de Olímpia (SP), após ataque incendiário - Arquivo pessoal

A sede do jornal Folha da Região, da cidade de Olímpia, município de 54 mil habitantes no norte do estado de São Paulo, foi alvo de um ataque incendiário na madrugada desta quarta-feira (17). 

Por volta de 4h30 da manhã, um balde com um material combustível (segundo investigações preliminares, álcool etílico) foi incendiado em frente à porta de ferro de entrada do jornal, sem deixar feridos. No mesmo imóvel, no pavimento superior, reside o jornalista José Antônio Arantes, responsável pela publicação, junto com sua família.

Conforme ele mesmo narra, o profissional foi acordado com "o latir desesperado de seus cachorros e com a fumaça sufocante que já chegava no interior do quarto onde dormia". Os vapores tomaram conta de todo o interior da residência, "impedindo minha respiração".

A família do jornalista agiu rapidamente e conseguiu apagar o fogo que estava dentro do corredor da residência. Logo depois, ao abrir a porta da casa, ("para, inclusive, respirar melhor"), Arantes, sua esposa, sua a filha e sua neta se depararam com chamas já altas na porta do jornal, que levaram alguns minutos para serem contidas.

O jornalista informa que, agora, vai tomar todas as providências cabíveis, mas garantiu que não esmorecerá "na sua luta pela informação e contra a intolerância, o ódio, o negacionismo e o genocídio".

Ele afirma que o crime, provavelmente, foi cometido por pessoas descontentes com a postura editorial de seu veículo, crítica ao governo de Jair Bolsonaro e sua condução da crise sanitária por que passa o país.

“Estou há 40 anos na profissão, comecei minha carreira já no final da Ditadura. Não vou abrir mão de lutar pelo meu povo e contra qualquer tipo de terrorismo e pensamento político que visem tirar a liberdade e suprir os direitos de minha população”, afirmou Arantes na manhã desta quarta.
 

Ameaças começaram na semana passada

O jornalista que, além de editar o jornal semanal, também é âncora, junto com sua filha, de um programa noticioso em uma rádio local, afirma que vinha sofrendo ameaças pela internet em virtude de seus posicionamentos contra os “negacionistas genocidas".

Segundo Arantes, na sexta-feira passada, um automóvel perseguiu o motorista que vai buscar o jornal no município de São José do Rio Preto, onde é impresso. "O carro encostava no veículo contratado pelo jornal e ameaçava chocar lateral com lateral", relata a vítima.

“Eu imaginei que tinha sido apenas uma brincadeira de mau gosto de alguma pessoa que não tinha o que fazer, mas, no domingo, o carro amanheceu com o pneu furado, e a pessoa que foi arrumar acabou descobrindo que os parafusos das quatro rodas do veículo não estavam totalmente apertadas. Algumas, totalmente frouxas”, complementa.

E conclui: “Nem assim consegui enxergar que algum atentado terrorista estava sendo armado contra mim e os meus. Mas, agora, veio a confirmação de que estamos num embate muito mais sério do que imaginávamos. Só não consigo enxergar qual seria o motivo real desta situação. Se é meramente local ou transcende as fronteiras do município e chegam a Brasília. Quero acreditar que não, pois aí estaríamos realmente trilhando um caminho que pode ser sangrento demais”.

Edição: Vinícius Segalla