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O que pensam os partidos progressistas sobre o “Efeito Lula”

Presidentes das principais siglas do campo avaliam cenário após retorno de direitos políticos do líder petista

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O próximo pleito ao Palácio do Planalto ganhou centralidade e despertou sentimentos opostos entre eleitores e políticos nos últimos dias - Foto: Miguel Schincariol/AFP

A anulação dos atos processuais da Lava Jato de Curitiba contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trouxe grande agitação à conjuntura política brasileira e antecipou os ânimos para a corrida eleitoral de 2022.

Com a elegibilidade do petista restabelecida e acompanhada pelo crescimento da desaprovação de Jair Bolsonaro em meio à pandemia, o próximo pleito ao Palácio do Planalto ganhou centralidade e despertou sentimentos opostos entre eleitores e políticos. De um lado a comemoração, de outro, o temor e o repúdio.

O Brasil de Fato ouviu lideranças dos partidos progressistas para entender de que modo as siglas enxergam o impacto da “volta de Lula” enquanto possível candidato à presidência, assim como as reflexões no atual contexto de crise sanitária e socioeconômica.

PcdoB

Na avaliação de Luciana Santos, presidente do PCdoB, seja pelo legado conquistado pelos governos petistas ou pela atual situação em que passa o país, ter alguém com a influência política de Lula no centro do debate é estratégico para frear Bolsonaro.

“É fundamental na medida que afirma a necessidade da defesa da vida, da vacina, de leitos, de ajuda emergencial. De que o Estado, a exemplo do ciclo político que Lula liderou, possa agir a favor dos que mais precisam”, afirma Santos.

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Ela relembra que o primeiro pronunciamento do petista, pós retomada dos direitos políticos, fez com que Bolsonaro e seus ministros se comportassem de forma diferente do que vinha acontecendo. 

A exemplo da coletiva de Lula, a equipe utilizou máscaras e distanciamento social em evento horas depois.

“A repercussão no mercado após a força das palavras e da vitória política não é à toa. E até mesmo, de alguma maneira, impulsionando o Bolsonaro a se posicionar nessa cena, inclusive em relação à pandemia. Penso que esse contexto é de se comemorar e a aposta que o PCdoB faz é que Lula possa contribuir com a formação de uma frente ampla para derrotar Bolsonaro em 2022. Precisamos da presença dele nessa construção mais ampla”, defende a presidente da sigla.

PSOL 

Juliano Medeiros, presidente do PSOL, considera a retomada dos direitos políticos de Lula um ato de justiça. 

“Espero que, a partir dessa decisão, ele possa se dedicar ainda mais à luta contra o governo Bolsonaro e à unidade da oposição. Essas são as tarefas centrais nesse momento", declara, em entrevista ao Brasil de Fato

O dirigente não considera que uma liderança tenha a capacidade de alterar a atual correlação de forças sozinha e exatamente por isso a ajuda de Lula como ex-Chefe de Estado engrandece a atuação das siglas. 

“É uma voz importante fortalecendo uma plataforma alternativa para o combate à pandemia, uma plataforma que a oposição já vem reivindicando desde o ano passado e que se assenta sobre o tripé vacina, auxílio emergencial e impeachment”, enfatiza.

PDT

Para Carlos Lupi, presidente do PDT, não há como dissociar a volta dos direitos políticos de Lula das eleições de 2022. 

Ainda que acredite que a decisão de Edson Fachin tenha feito justiça em um processo completamente arbitrário, ele afirma que a unidade dos partidos progressistas historicamente se deu em torno de causas e não de pessoas. 

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Segundo a opinião de Lupi, a volta da fome, os erros no combate à pandemia, a morosidade da campanha de vacinação e os altos índices de desemprego estão entre alguns fatores que enfraquecerão Bolsonaro para a disputa de 2022. 
 
“Não consigo imaginar que com esse currículo, com essas marcas, o Bolsonaro seja essa fortaleza. Bolsonaro não vai ter mais o discurso do velho-novo. Já vai estar no poder. Ele perdeu parte significativa do eleitorado conservador dele”, diz o político.

Mesmo reconhecendo a importância de Lula e de seus governos, Lupi defende que o caminho nas próximas eleições seja uma terceira via na dicotomia entre Bolsonaro e o ex-presidente.

“Quando Lula entra em cena tem uma comparação entre o governo atual com o dele e aí é uma goleada para ele. Só que eu acho que o brasileiro quer olhar o futuro, sair dessa política ‘um é ladrão, o outro é odioso, quer matar’. A maior parte da população quer sair disso e é por isso que eu acredito em uma nova opção. E trabalho, luto, por uma espécie de frente alternativa. Conversando com PSB, Rede, PV, Cidadania, PSD... tentando criar um campo de centro-esquerda que saia dessa política do ódio”, explica Lupi.

“Pode ser um absurdo o que estou falando, mas hoje, março de 2021, acredito que pode acontecer um segundo turno de Lula contra Ciro. Não acho impossível. O Bolsonaro vai derreter, é questão de tempo”, aposta.

O presidente do PDT reconhece que sua opinião pode ser isolada, mas reforça acreditar que o político de extrema direita pagará a conta por suas escolhas nocivas.

“Agora, caso haja um segundo turno com Bolsonaro, estaremos do outro lado. Ele de um lado e nós do outro”.

PSB

Entre as siglas progressistas, o PSB declarou de forma mais enfática a busca por um terceiro nome na polarização entre Lula e Bolsonaro, sem destacar completamente o apoio ao petista.

Em entrevista ao Estado de S. Paulo, Carlos Siqueira, presidente do partido, afirmou que “a busca pelo outsider é o caminho com mais adesão interna” na sigla. 

Ele ponderou que, ainda que as opiniões a favor de Lula sejam compreensíveis, é cedo para crivar apoios. Entretanto, a unidade também está no horizonte da sigla.

“Podem acontecer tantas coisas que é precipitado falar qualquer coisa sobre candidatura para 2022. Mas, pelo que apurei, a minha tese de uma frente para agregar as forças políticas econômicas e sociais mais amplas é a mais apoiada dentro do PSB”, disse. 

Frente à crise sanitária e sem que o PSB apresente um candidato oficial à presidência, Siqueira defende que o debate eleitoral seja postergado e que o foco seja o combate ao autoritarismo e à covid-19, acima de tudo.

"Não é esquerda versus direita. É autoritarismo versus democracia. Esse é o problema do brasileiro hoje”, afirmou.

Edição: Rebeca Cavalcante