Paraguaios estão há mais de uma semana nas ruas exigindo o impeachment do presidente Mario Abdo Benitez e seu vice, Hugo Velázquez, em razão da crise sanitária que vive o país.
Há um ano em estado de emergência sanitária, o Paraguai acumula 174 mil casos, sendo 1,2 mil em estado grave e 3.387 mortos pela covid-19. Até o momento, apenas 0,1% da população de 7 milhões de habitantes recebeu ao menos uma dose da vacina, com a chegada de quatro mil doses da fórmula russa, a Sputnik V. Desde o dia 3 de março todas as cirurgias em hospitais públicos foram suspensas para atender a demanda de pacientes com coronavírus.
As denúncias de corrupção e má gestão se multiplicam, já que também há um ano, o governo Colorado e o Fundo Monetário Internacional (FMI) assinaram um empréstimo de US$ 274 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) para combater a pandemia.
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A população também denuncia a existência de um mercado paralelo de medicamentos, ao encontrar fármacos que deveriam ser distribuídos pelo sistema público nas prateleiras de farmácias privadas.
Segundo a líder indígena Alicia Amarilla Leiva, camponeses estão vendendo seus animais e suas casas para arcar com o tratamento de familiares.
"Uma pessoa que entra em terapia intensiva deve pagar cerca de 4 milhões de guaranis por dia (cerca de R$3.300). Algo impossível. As pessoas estão se endividando para poder lutar pela vida", relata a comunicadora social Cony Oviedo González.
Na capital Assunção, desde a última quarta-feira (10), foi instalada a "barraca da resistência", que abriga manifestantes em vigília permanente na praça das Armas, centro da cidade.
:: Em três dias consecutivos, paraguaios protestam nas ruas contra presidente Benítez ::
Em Caaguazú, Misiones, Encarnación e Ciudad del Este também foram organizados atos para denunciar escândalos de compras superfaturadas de insumos médicos e a demora na campanha de vacinação nacional.
Diante do cenário generalizado de crise, os manifestantes começam a exigir eleições antecipadas, com uma renovação completa do governo.
"O que unifica a luta é que se vão todos, que saia o Partido Colorado que já está no poder há 70 anos. É um partido que se relaciona com os narcotraficantes e gerencia o país como uma empresa. Compra tudo o que quer, matam quem querem com suas milícias armadas e atuam como cartéis mafiosos. Por isso as pessoas chegaram no seu limite e agora pedem o impeachment do presidente", defende Alicia Amarilla Leiva da Organização de Mulheres Camponesas e Indígenas Conamuri.
Cerca de 20 pessoas foram presas durante as manifestações e uma faleceu pela repressão policial. Os manifestantes denunciam tortura contra os detidos e que a polícia está infiltrando agentes para gerar distúrbios.
"Os infiltrados entram para indicar à polícia quem deve ser detido. É gravíssimo o que está acontecendo", relata a líder indígena.
#Paraguay: denuncian violencia policial en detención de jóvenes luego de las movilizaciones contra el Gobierno de Mario Abdo Benítez.
— Osvaldo Zayas (@OsvaldoteleSUR) March 9, 2021
En este video se puede ver cómo dos policías golpean a dos jóvenes luego de detenerlos.#marzo2021
Vídeo: @rtvparaguay pic.twitter.com/zEStrvCoHt
Com a pressão nas ruas, o ministro de saúde Julio Mazzoleni renunciou e o chefe de Estado anunciou uma reforma do gabinete, mudando o ministro de tecnologia e comunicação, o ministro de educação, o chefe de gabinete e a ministra da mulher.
Na última quarta-feira (10), Abdo Benitez também pediu a renúncia do presidente do Instituto de Previdência Social por denúncias de corrupção.
No Congresso, o Partido Liberal Radical Autêntico solicitou o início do juízo político ao presidente, que foi duas vezes adiado por falta de quórum.
Até o momento, 37 parlamentares se manifestaram à favor do impeachment, no entanto a decisão está nas mãos de 22 deputados do Partido Colorado, que possui a maior bancada do parlamento.
"Não há número no parlamento, mas há número nas ruas. As pessoas estão fartas. Não lhes importa como será, mas querem a renúncia ou o julgamento político", afirma Cony González.
As mudanças no Executivo fariam parte da negociação entre Benitez e membros do seu partido para não iniciar um processo de impeachment, segundo informa a imprensa local.
Os colorados haviam convocado uma "caravana pacífica republicana" para esta sexta-feira (12) em apoio ao governo. O ato foi suspenso a pedidos do presidente, segundo comunicado.
Oposição
O ex-presidente Fernando Lugo afirmou que Abdo Benitez governa como se não houvesse pandemia, "a prioridade agora é a vida das pessoas e ele sai inaugurando pontes", afirmou.
Seu partido, a Frente Guasú elaborou um plano de emergência com sete pontos, que incluem a provisão de medicamentos e vacinas contra o novo coronavírus; fiscalização da especulação de preços dos remédios; e impunidade zero contra a corrupção.
🚨 Plan de emergencia para un cambio profundo en el Paraguay ‼️🇵🇾🇵🇾
— Frente Guasu (@FrenteGuasuPY) March 10, 2021
🙋🏾🙋🏻♂️El FG saluda las movilizaciones ciudadanas exigiendo la salida de Abdo Benitez y Hugo Velazquez, y propone un plan de 7 medidas de emergencia que den inicio a más cambios.
🔶 Texto: https://t.co/MqPYLbaf6Q pic.twitter.com/sepD4Lqc2z
Para Cony González, a situação só irá terminar com a vitória popular sem apoio internacional. "É necessário que os países da região possam se solidarizar com a sociedade paraguaia, porque a máfia do Partido Colorado não sairá do seu lugar de poder e privilégios", conclui a militante feminista paraguaia.
Edição: Rebeca Cavalcante