Linha de frente

Brasil tem 1,5 milhão de profissionais ‘invisíveis’ no combate à covid-19

Trabalhadores auxiliares, geralmente terceirizados, têm baixos salários e grandes riscos de contaminação e morte

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A média móvel de novos contaminados também está no patamar mais alto do histórico da pandemia - Vinícius Quintão/FMUSP

Pelo menos 1,5 milhão de profissionais da saúde “invisíveis” atuam na linha de frente de combate à covid-19 nos hospitais brasileiros. São técnicos e auxiliares de enfermagem, motoristas de ambulância, maqueiros, agentes de manutenção, limpeza e segurança das unidades de saúde.

Outros operam equipamentos de raios-X, cozinham para pacientes internados e funcionários, fazem análise laboratorial, trabalham na farmácia, são recepcionistas e pessoal administrativo e agentes comunitários de saúde. Todos são fundamentais no atendimento à população que necessita de cuidados. No entanto, não são lembrados como tais pela população, daí o termo “invisíveis”.

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A maior parte é terceirizada, recebe baixo salário e não conta com equipamentos de proteção individual adequados. Em comum, todos têm uma jornada cansativa, em ambiente estressante. E ainda estão expostos à contaminação pelo coronavírus e suas variantes, à doença e ao óbito.

Passado um ano das primeiras mortes pela covid-19 no Brasil – já são mais de 266 mil mortos e mais de 11 milhões de contaminados pelo coronavírus e suas variantes –, esses profissionais “invisíveis” estão cada vez mais cansados, estafados, angustiados, tristes pelo adoecimento e morte de colegas e, sobretudo, com medo.  

Alto risco de contaminação

“Em um ano de regime pandêmico, com grande número de contaminados e óbitos, esses profissionais de saúde enfrentam muitas dificuldades. Faltam ânimo e interesse para trabalhar em um ambiente com alto risco de contaminação, em que as condições de trabalho são insatisfatórias, precarizadas, muitas vezes sem vínculos permanentes, sem garantias e salários decentes”, disse à RBA Maria Helena Machado, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), vinculada à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

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Por outro lado, os gestores e a grande parte da população foram incapazes de aprender o suficiente com a pandemia que caminha para o descontrole no país, avalia Maria Helena. Ainda faltam empatia, solidariedade e fraternidade em relação aos profissionais de saúde, sejam eles visíveis ou invisíveis.

“A pandemia recrudesceu de maneira perigosa. Cada dia mais contaminação, menos gestão pública e menos trabalhadores. Há um egoísmo. Estamos nos aglomerando e desrespeitando o isolamento. Muitos que têm todas as condições não ficam em casa, não usam máscaras, não fazem higienização das mãos. É um total desrespeito com os profissionais que fazem o melhor, apesar da estafa e da ausência de medidas de proteção”, ponderou.

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Para saber o que pensam e sentem esses trabalhadores e como são suas condições de trabalho no âmbito da pandemia, Maria Helena coordena uma pesquisa em andamento desde fevereiro. Com apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS) e do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a pesquisa vai trazer informações para a formulação de propostas de melhorias para o sistema de saúde.