Luta popular

Em meio à pandemia, Escola Nacional Florestan Fernandes recebe apoios e expande ações

Reconhecida na área de formação política, instituição conta com o apoio dos Amigos da ENFF para manter cursos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Equipe do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social reunida na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF)
Equipe do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social reunida na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) - Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

A Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) -- um dos principais centros de formação política do país ligado aos movimentos populares --  assim como outros espaços de formação educacional, também foi afetada pela pandemia de covid-19.

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Desde março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a doença como uma pandemia, a ENFF suspendeu as atividades presenciais, levando todas para o ambiente virtual. 

“Organizamos grupos de estudos e cursos de formação de forma remota para todos os militantes, e temos encontrado uma ressonância muito grande. Tem repercutido bastante as iniciativas que a escola tem desenvolvido desde o ano passado”, diz Rosana Fernandes, coordenadora político-pedagógica da ENFF. 

::Conheça a Escola Nacional Florestan Fernandes, há 15 anos formando militantes::

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Ainda assim, por viver totalmente de doações, sem nenhuma verba pública, a Associação de Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes (AAENFF), existente desde 2010, se tornou um braço de solidariedade importante da escola na consolidação de auxílios financeiros e divulgação de campanhas para sua manutenção.

Nesse movimento, inclusive, a associação acaba de lançar o seu novo site com o objetivo de disseminar ainda mais o trabalho da ENFF

O trabalho de divulgação se intensificou também devido ao governo de Jair Bolsonaro.

“Em virtude de como se encontra a conjuntura, há o estrangulamento econômico e a ação ofensiva orquestrada pela direita brasileira contra os movimentos sociais, particularmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), daí a urgência e importância do apoio ao projeto coletivo da ENFF, para que permaneça e continue a gerar frutos para as lutas sociais”, conforme um texto publicado pela AAENFF.

“A Associação é voltada especificamente para ajudar na manutenção da escola. Então, a gente tem hoje cerca de 350 pessoas que colaboram com suas doações e também com campanhas para arrecadar livros e ajudar a divulgar esse projeto pedagógico”, conta Carlos Duarte da AAENFF.

Em suas palavras, a "escola nacional", como é mais conhecida, é a única no Brasil com cursos de formação política voltada para o debate da organização social brasileira, e do contexto internacional, em profundidade.

História de Resistência

Inaugurada no dia 23 de janeiro de 2005 e batizada em homenagem ao sociólogo e político brasileiro Florestan Fernandes (1920-1995), a escola se tornou referência internacional por unir a prática com a teoria política. Nestes 15 anos, jovens não apenas do Brasil, mas de diversos países, principalmente da América Latina, passaram pelos cursos da ENFF. 

De acordo com Rosana Fernandes, a escola “é reconhecida internacionalmente por muitas organizações populares, sejam da América Latina ou de outros continentes".

"Temos um reconhecimento bastante grande também no nosso país, através das organizações diversas do campo e da cidade que atuam em lutas específicas, mas que encontram na escola nacional um lugar comum de se fazer formação política e ideológica para os militantes e dirigentes e quadros de suas organizações."

Convênios

Construída pelas mãos de mais de mil sem-terra e mantida pelo MST, com apoio de outros movimentos, a escola também realiza convênios com instituições formais de ensino superior para permitir que militantes do campo e da cidade também possam ter um diploma de graduação e de pós-graduação. 

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A construção da escola aconteceu graças a uma campanha para arrecadação de recursos que contou com a participação do cantor e compositor Chico Buarque, do escritor português José Saramago (1922-2010) e do fotógrafo Sebastião Salgado, além do trabalho essencial dos militantes sem-terra. 

E é dessa forma que a Florestan continua a se manter: com o apoio daqueles que acreditam na urgência da formação política para a luta internacionalista. 

Edição: Rogério Jordão