Já completaram dois anos da autoproclamação de Juan Guaidó como presidente encarregado da Venezuela. O ato em praça pública, na região leste de Caracas, marcou o início de uma série de planos para tentar destituir Nicolás Maduro da presidência.
Em fevereiro de 2019, o autoproclamado organizou o Venezuela Live Aid, para tentar forçar a entrada de caminhões com suposta ajuda humanitária nas fronteiras terrestres com a Colômbia e o Brasil. Em março do mesmo ano, um ataque hacker ao sistema da maior hidroelétrica da Venezuela deixou quase todo o país no escuro por duas semanas. Investigações do Ministério Público apontam que funcionários da própria unidade teriam recebido pagamentos para realizar o boicote, que teria sido planejado entre a oposição venezuelana e assessores estadunidenses.
No mesmo ano, Guaidó e seu braço direito, Leopoldo López, lideraram uma tentativa de golpe armado, começando pela tomada da Base Aérea Generalíssimo Francisco de Miranda, em Caracas, no dia 30 de abril. A chamada Operação Liberdade durou algumas horas e não conseguiu impor um novo presidente, mas serviu para liberar López da prisão domiciliar, facilitando sua posterior fuga do país.
:: Linha do tempo tentativa de golpes na Venezuela ::
Em junho e dezembro de 2019, o serviço de inteligência da Venezuela interceptou as operações Vuelvan Caras e Aurora, lideradas por militares opositores, que tentariam derrubar Nicolás Maduro.
Após a sequência de planos frustrados, Guaidó começou um tour internacional pela Europa, Estados Unidos e América Latina, em busca de apoio às suas novas empreitadas.
Em maio de 2020, foi executada a Operação Gedeon, uma invasão paramilitar planejada em território colombiano com militares desertores venezuelanos treinados por veteranos da guerra do Iraque. O contrato assinado entre o ex-boina verde Jordan Goudreau e o líder opositor Juan Guaidó detalha passo a passo do plano, que incluía captura e assassinato de Maduro, instalação de um governo provisório com uma junta militar e abertura do território venezuelano para ações do exército dos EUA.
:: Governo brasileiro pode estar relacionado com invasão paramilitar na Venezuela ::
Conforme os planos fracassaram, Guaidó foi perdendo apoio político dentro e fora do país. Desde o início de 2021, quando seu mandato de deputado acabou, a União Europeia deixou de reconhecê-lo como presidente interino da Venezuela.
No entanto, Estados Unidos, Brasil, Colômbia e uma lista de quase 50 países ainda veem o opositor como autoridade legítima da Venezuela.
Gestão de empresas venezuelanas
Se o fracasso político é evidente, no aspecto econômico o autoproclamado foi bem sucedido. Desde 2019, Guaidó controla os dois maiores bens públicos da Venezuela no exterior: a Citgo Petroleum, sede da PDVSA nos Estados Unidos, e a Monómeros, filial da estatal Pequiven na Colômbia.
A Citgo é avaliada em 8 bilhões de dólares e possui uma produção diária de cerca de 750 mil barris de petróleo. Já a petroquímica Monómeros, com sede na Colômbia, é avaliada em 269 milhões de dólares.
Nos dois casos há uma série de denúncias de má gestão e de lavagem de dinheiro.
A Monómeros reportou perdas de cerca de 20 milhões de dólares, reduzindo sua participação no mercado de fertilizantes na Colômbia em 20% e em 90% na bolsa de valores.
Sob direção de Guaidó, a Monómeros teria enviado cerca de 900 mil dólares a Aid Live Foundation, ONG responsável por organizar o Live Aid Venezuela, show que aconteceu na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, em fevereiro de 2019, durante o episódio de tentativa de envio de ajuda humanitária à força.
Além disso, setores da própria oposição denunciaram que os personagens mais próximos a Guaidó estariam criando contratos falsos para desviar o dinheiro da Monómeros e da Citgo para comprar apartamentos, carros e cobrir outros gastos pessoais.
No caso da Citgo, o Ministério Público revelou que o dinheiro era desviado da empresa para financiar os quatro maiores partidos de oposição na Venezuela.
Roland Carreño, responsável pelas finanças do partido de Juan Guaidó, foi detido no ano passado. Em conversas de Whatsapp registradas no seu telefone, encontraram comprovantes de depósitos mostrando que o partido Voluntad Popular tinha recebido mais de 400 mil dólares de um total de 1,7 milhão, que seria sua parcela da Citgo.
Negócios com terceiros
A “gestão” de Guaidó também abriu brechas para favorecer agentes financeiros externos e outros Estados-nação em operações com essas empresas e com ativos controlados pela oposição.
Além da venda da Citgo, já autorizada pela justiça estadunidense e que irá favorecer fundos de investimento dos Estados Unidos e da Europa, em 2021 foi descoberta uma negociação entre diretores da empresa e o chefe de gabinete do presidente paraguaio, Juan Ernesto Villamayor.
O acordo incluiria perdoar a metade de uma dívida de 269 milhões de dólares do Paraguai com a PDVSA, em troca de apoio político e de uma propina de 26 milhões de dólares para cada ator envolvido na negociação. Mario Abdo Benítez é um dos presidente do chamado Grupo de Lima, que ainda dá respaldo político a Guaidó.
Dinheiro bloqueado no exterior
Segundo relatório da ONG Sures, a Venezuela possui cerca de 40 bilhões de dólares bloqueados em bancos no exterior, valor que é cinco vezes maior do que as reservas internacionais do Banco Central venezuelano.
De acordo com o controlador geral da República, Elvis Amoroso, Guaidó conseguiu desviar 2 bilhões de dólares a contas próprias.
Enquanto isso, o opositor impede a liberação de 31 toneladas de ouro, depositadas no Banco da Inglaterra. Guaidó se nega a cumprir um acordo assinado em 2020 com o governo bolivariano e a Organização Pan-Americana da Saúde, que previa a criação de fundo de combate à covid-19, que seria gerenciado pela Opas e financiado com o dinheiro venezuelano bloqueado no exterior.
Edição: Raquel Setz