Pandemia

No interior pernambucano, suspensão do Carnaval impacta trabalhadores da cultura

Sem auxílio emergencial e sem festa, mestres, cantores e artesãos afirmam que o prejuízo vai além da economia

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Em 2021, a ausência do carnaval faz os pernambucanos sentirem falta das manifestações da cultura popular
Em 2021, a ausência do carnaval faz os pernambucanos sentirem falta das manifestações da cultura popular - André Nery/ PCR

Há quem pense que o Carnaval pernambucano se resume a Olinda e Recife, mas o interior do Estado também vive intensamente os festejos de momo com manifestações culturais próprias e está sentindo o impacto da proibição da festa em 2021 por conta da pandemia de coronavírus.

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Em Nazaré da Mata, na zona da mata sul do estado, o maracatu rural é uma tradição passada de pai para filho que envolve cultura e religiosidade. “O foco mesmo do maracatu rural é o Carnaval, né? O Carnaval simboliza muito um ritual de mais de 100 anos aqui em Nazaré da Mata, que tem maracatus centenários. Então, um ano sem Carnaval é um ano de tristeza, mas vamos superar, isso vai passar e a gente vai voltar a festejar como era antes”, conta Mestre Mi, do Maracatu Estrela Brilhante.

Confira na reportagem: 

Mestre Mi aponta que não é apenas o cancelamento do Carnaval que tem um impacto na vida do grupo: “No maracatu, a gente ganha num ano para gastar no outro, ganha no meio do ano para gastar no Carnaval. Então, a gente deixou de participar de editais como o FIG (Festival de Inverno de Garanhuns), a Fenearte, que geraria uma renda para garantir esse meio tempo, entre um Carnaval e outro. Então, gera um déficit financeiro, que a gente não vai ter pra recompor o que vinha ganhando”.

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Na cidade de Bezerros, no agreste pernambucano, os papangus fazem a festa. Com fantasias que cobrem dos pés à cabeça, crianças, jovens, adultos e idosos vão de casa em casa para os vizinhos adivinharem quem é o mascarado.

“O Carnaval de Bezerros movimenta a economia da cidade. As pessoas vêm para o Carnaval de Bezerros, vem excursões, tem ônibus enormes, vem muita gente, porque o Carnaval tomou essa proporção na folia do papangu”, diz o cantor Ciel Santos, que cresceu brincando vestido de papangu e faz shows na cidade. 

Já em Triunfo, no sertão, são os caretas que fazem a festa com as cores nas roupas e nos relhos, que são um tipo de chicote que eles levam nas mãos. O artesão Arnaldo Antônio da Silva possui deficiência visual e confecciona os relhos para as pessoas brincarem no Carnaval: “Eu ia para a rua vender esse trabalho, os relhos, mas devido a essa pandemia não pude ir, aí a gente não pode animar a festa e os trabalhos não existem na cidade e perde também a economia do lugar, perde muito. O desenvolvimento de Triunfo agora nessa pandemia não pode ter muito, porque tá tudo parado. Mas em nome de Jesus que o próximo ano possa ser melhor”.

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Em 2021, a ausência do Carnaval faz os pernambucanos sentirem falta das manifestações da cultura popular, da festa de rua, de cantar o hino de Pernambuco em ritmo de frevo e maracatu na festa do povo. "O impacto na cultura popular e na arte é um impacto financeiro sobretudo, a gente faz show no Carnaval para receber no São João. Os órgãos públicos já tem esse descaso mesmo com quem faz cultura, a gente sabe que acontece. Então, o impacto agora é de se apresentar onde? fazer como?”, completa Ciel Santos.

Mas a cultura popular resiste, com a esperança de um Carnaval em 2022 para fazer a alegria do povo e garantir o sustento dos profissionais da cultura e trabalhadores informais, como mostra a rima de Mestre Bi:

Por causa da pandemia

 não teremos carnaval

 e o maracatu rural 

guardou sua fantasia.

 E o meu show de fantasia

 esse carnaval não tem,

 mas eu me preparo bem 

para eu me sair ileso,

 deixando o meu grito preso

 pra soltar ano que vem.

 

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Monyse Ravena