Jornalistas do portal Newsclick, parceiro do Brasil de Fato na Índia, foram alvo de investigação na manhã desta terça-feira (9) em Nova Délhi, capital do país asiático. Entre os profissionais que estão retidos com oficiais do Estado indianos em suas casas e na sede do veículo de imprensa, sem nenhum tipo de acusação formal, estão o editor-chefe Prabir Purkayastha, o editor Pranjal e o responsável pelos recursos humanos e jornalista Amit Chakraborty.
O Newsclick é um portal de jornalismo independente que se consolidou como referência na cobertura dos protestos de camponeses indianos contra as políticas do atual primeiro-ministro, Narendra Modi. Em plena pandemia, o governo fez uma série de alterações na legislação que desprotegem os pequenos produtores, favorecem grandes empresas do agronegócio e ameaçam a segurança alimentar da população.
“A verdade prevalecerá. Temos plena fé no sistema legal”, pronunciou-se o veículo logo após as detenções, acrescentando que um comunicado completo sobre o ocorrido será divulgado somente após o término do processo.
De acordo com notícias divulgadas na imprensa, a agência de investigação do Ministério de Finanças (Enforcement Directorate), que é responsável por lidar com fraudes econômicas, invadiu a organização de mídia e residências de seus responsáveis com a justificativa de investigar um caso de lavagem de dinheiro.
O Brasil de Fato e outros seis projetos de mídia independente se manifestaram em solidariedade ao Newsclick: ARG Medios, da Argentina; New Frame, da África do Sul; BreakThrough News, dos Estados Unidos; Pan African Television, de Gana; e The Insight Newspaper, de Gana.
“Nós, um grupo de publicações de todo o mundo, nos unimos contra o assédio ao Newsclick, portal de notícias indiano. A detenção de seus editores e a difamação de sua reputação na imprensa é um movimento calculado para intimidar a cobertura da revolta dos camponeses e outras lutas de massa que estão ocorrendo na Índia”, diz o texto assinado por jornalistas desses veículos.
A imprensa indiana, assim como entidades da sociedade civil também se manifestaram sobre o caso.
Siddharth Vardharajan, o editor-chefe do jornal The Wire, tuitou, "Casos de sedição, UAPA (Lei de Atividades Ilícitas [Prevenção]), que devem ser usados contra terroristas que ameaçam a soberania da Índia, processos frívolos de difamação e agora ataques do Enforcement Directorate, é assim que o governo lida com a mídia independente da Índia. @newsclickin é o alvo mais recente ... ”.
Sedition cases, UAPA, FIRs for 153, 505, etc, frivolous defamation suits and now ED raids, this is how the government handles India’s independent media. @newsclickin is the latest target... https://t.co/RSsMLOqTfK via @thewire_in
— Siddharth (@svaradarajan) February 9, 2021
A Federação da Juventude Democrática da Índia (DYFI, na sigla em inglês), uma das maiores organizações progressistas do país, disse em um comunicado que o ataque é apenas uma das “formas usuais do governo central para reprimir aqueles que recusam ser seus instrumentos. O Newsclick relatou a verdade sem medo desde o início. Essas ações são um esforço óbvio de intimidação com o objetivo de assustar o Newsclick, impedindo que o veículo exponha o governo e divulgue sobre as lutas do povo. O Newsclick relatou com eficácia as contínuas lutas dos agricultores e todas as lutas dos trabalhadores em todo o mundo”.
“O governo está utilizando uma tática comum, usando operações policiais para assustar os meios de comunicação. Isso está diretamente relacionado à cobertura imparcial dos Protesto dos Agricultores. Confira o vídeo mais recente deles sobre os protestos”, tuitou o comitê estadual da Federação de Estudantes da Índia (SFI, na sigla em inglês), na capital Nova Delhi.
The govt is using the typical tactic of ED raids to scare media houses. They are carrying out raids at the office of @newsclickin.
— SFI Delhi (@SfiDelhi) February 9, 2021
This is directly linked to their unbiased coverage of the Farmers Protest. Check their latest video on the Protests-https://t.co/QA9vsKvaEH
O governo Modi representa o chamado nacionalismo hindu e tem sido criticado por promover perseguições religiosas e cortes de direitos de trabalhadores.
Edição: Vivian Fernandes