O novo aumento de 4,4% no preço do óleo diesel, que começou a valer a partir desta quarta-feira (27), colocou mais combustível nas insatisfações dos caminhoneiros.
A categoria promete iniciar uma greve nacional a partir da próxima segunda-feira (1). Além do preço dos combustíveis, os caminhoneiros reclamam que as principais reivindicações da paralisação de 2018 – como o frete mínimo – não foram efetivadas.
Na última terça-feira (26), o movimento grevista recebeu o apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL-CUT). A entidade representa 800 mil motoristas autônomos e celetistas.
De acordo com o presidente da Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas (Sinditac) de Ijuí-RS e porta-voz da CNTTL-CUT, Carlos Alberto Litti Dahmer, a agenda de reivindicações da categoria se arrasta há quase três anos.
“Só para se ter ideia o preço do pneu teve aumento nos últimos três meses de mais de 60%, seja nacional ou importado. Até hoje não tivemos o julgamento do piso pelo STF [Supremo Tribunal Federal]", aponta Dahmer.
Na semana passada, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) anunciou reajuste de 2,51% no preço mínimo dos fretes, índice considerado insuficiente pelos trabalhadores.
"Não podemos suportar essa situação. Hoje temos um piso mínimo da fome. Para nós, inconstitucional é a fome e a exploração. Vamos dar um basta nisso. Vamos cruzar os braços no dia 1º de fevereiro”, enfatizou Dahmer.
‘Pior do que em 2018’
Segundo o presidente da Associação Nacional de Transportes no Brasil (ANTB), José Roberto Stringasci, a “categoria está pior hoje do que em 2018”. A declaração foi dada na terça (26), numa conversa virtual promovida pelo Sindicato dos Portuários do Rio Grande do Sul, que reuniu representantes dos caminhoneiros.
Zé Roberto afirmou que a categoria quer o fim da política Preço de Paridade Internacional (PPI), adotada pela Petrobras a partir de 2017.
Desde então, segundo ele, o combustível virou o “sócio majoritário” do caminhoneiro. Ele também afirmou que a duração da paralisação vai depender da capacidade de negociação do governo. Em maio de 2018, a greve nacional dos caminhoneiros durou 11 dias.
A paralisação dos caminhoneiros ganhou apoio, inclusive, dos próprios trabalhadores da Petrobras. Unidos contra a alta dos combustíveis, a Federação Única dos Petroleiros (Fup-CUT) anunciou que vai distribuir botijões de gás, cestas básicas e máscaras durante a paralisação dos caminhoneiros.
Divisões
Há divisões importantes e interesses divergentes no setor dos transportes terrestres. O principal recorte se dá entre os motoristas autônomos e os donos das transportadoras, que contam com trabalhadores registrados.
Divergências políticas também comprometem a unidade da categoria. Apesar da alta do preço nos insumos, por exemplo, uma parte dos motoristas reluta em aderir à paralisação por acreditar se tratar de um movimento contra o governo Bolsonaro.
Tal alegação foi rebatida por Zé Roberto. “Jamais a categoria vai fazer algum ato para derrubar quem quer que seja. Estamos reivindicando nossos direitos”, afirmou.
Ele lembrou que os caminhoneiros foram os principais apoiadores de Bolsonaro durante a campanha de 2018. O próprio presidente, então pré-candidato naquele momento, apoiou as reivindicações da classe.
Dessa vez, contudo, o presidente apelou para que os caminhoneiros suspendam a paralisação. O governo promete reduzir impostos para mitigar o aumento do preço dos combustíveis.
Além disso, também foi zerada a alíquota de importação para pneus de veículos de cargas. Até mesmo a inclusão dos caminhoneiros no grupo prioritário no Plano Nacional de Imunização (PNI) foi anunciada para tentar conter o movimento grevista.
Mas, segundo o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, o apelo de Bolsonaro “não convence“.
Em entrevista ao portal UOL, ele afirmou que “a cada dia que passa está aumentando mais a temperatura” entre os condutores. Além da ANTT, ele cobrou a intermediação do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, “para garantir as nossas conquistas legais, como o piso mínimo do frete, a isenção do pedágio para o caminhoneiro contratado e outros itens”.